Cozinhar é uma arte que envolve talento, disciplina e, principalmente, muito amor. Poder reunir amigos queridos e familiares à mesa e servir uma deliciosa refeição é um momento muito especial. Foi isso que o paciente Pedro Bartholo Nery, 55 anos, fez na última quinta-feira, 20 de fevereiro, no IRCAD América Latina – centro de treinamento que faz parte do complexo do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Nery, que é consultor de orçamento, iniciou tratamento no HA em agosto de 2019, quando foi diagnosticado com um tumor no intestino. Desde então, ele enfrenta uma das suas mais difíceis batalhas: a luta contra o câncer. Muito simpático e bom de papo, ele começou seu tratamento paliativo no Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do HA) na segunda quinzena de fevereiro deste ano, após ser diagnosticado com metástase no pulmão. E foi durante um de seus papos descontraídos com a equipe da unidade que Nery foi questionado sobre qual seria o seu maior sonho e o que ele gostaria de fazer. Sem titubear, o paciente disse que desejava entrar em uma cozinha e comandar uma equipe de cozinheiros. “A minha paixão é a gastronomia, embora eu nunca tenha feito faculdade, eu nasci com esse dom. E não sou eu quem falo, não. Os meus amigos chefs sempre me pedem conselhos”, afirmou ele, que comandou um Pub, quando tinha 21 anos, em Brasília (DF).
Enquanto pedia alimentos específicos e dava atribuições, a ansiedade de Nery era visível. A alegria dele em poder cozinhar novamente também foi motivo de felicidade para todos os envolvidos nessa ação especial, dentre eles, as cozinheiras do IRCAD e a equipe multiprofissional do HA. Segundo a enfermeira do Hospital São Judas Tadeu, Nayara Silva, foi muito gratificante ver a animação e o brilho nos olhos do paciente. “Em nossa unidade, nós sempre promovemos eventos que visam proporcionar bem-estar tantos dos pacientes, quanto dos acompanhantes”, relatou a profissional, que acompanhou esse momento e ficou à disposição de Nery durante toda o evento, auxiliando o paciente sempre que necessário.
Já que Pedro Nery acredita que para haver uma boa comida é necessário contar com uma ótima equipe, é claro que não podiam faltar importantes escudeiras. Devido à fragilidade do paciente, em decorrência do tratamento, o ‘chef do dia’ contou com a ajuda das cozinheiras do IRCAD, Divina Ferreira, Gessica Burgheti e Sandra Gomes, que trabalharam com todo carinho e dedicação. Afinal, todos estavam reunidos com o mesmo propósito: celebrar a vida. “Poder auxiliar um paciente que deseja cozinhar é gratificante. Nem sempre podemos ajudar todos, mas fico muito contente. Para mim, hoje é um dia de muita satisfação”, contou com os olhos marejados a simpática Divina, cozinheira que comanda a cozinha do IRCAD há nove anos.
Um amor que tempera a vida
Casada oficialmente com Nery há dois anos, Silvia Souto mostra toda orgulhosa as fotos dos pratos preparados pelo marido. “Em casa, ele é o chef. O Pedro domina massas, doces, comida oriental e panificação em geral. Sempre que viajamos e quando pode, ele faz questão de pescar o alimento e preparar a refeição na hora. Tudo sempre muito fresco e feito com muito carinho. Nós temos cinco filhos lindos, dos nossos primeiros relacionamentos, mas eu sei que nós somos uma família muito unida. E tudo isso que enfrentamos nos fortalece ainda mais”, explicou a esposa, que aproveitou para tirar várias fotos enquanto o marido comandava a cozinha.
Silvia relatou já ter ouvido falar sobre o HA anteriormente, mas quando chegou na unidade e viu todo o tratamento que é oferecido, não restou outra alternativa além de admirar o trabalho realizado na instituição. “Aqui, em Barretos, eu me encantei. Em cada profissional, em cada gesto, só consigo ver carinho e amor. Ao ver o trabalho das pessoas do Hospital de Amor, eu voltei a acreditar na humanidade. A gente vê tanta notícia ruim, mas aqui no hospital eu aprendi a acreditar na bondade do ser humano novamente. Só posso agradecer por tudo que vocês fazem por nós”, disse emocionada.
Quando questionado sobre qual chef ele mais admira, Nery afirma gostar do chef Érick Jacquin, devido à vontade dele de valorizar ainda mais a cozinha tradicional. Ele também demonstra empolgação ao falar do lançamento do seu livro, cujo conteúdo terá 100 receitas autorais.
Após todo o cuidadoso preparo dos alimentos, o almoço especial foi servido para ele, sua esposa e para toda a equipe de profissionais que cuida dele no Hospital São Judas Tadeu, dentre eles: médico, assistente social, enfermeiras, fisioterapeutas e todos aqueles que ganharam a admiração do casal de Brasília, que proporcionou um momento lindo, dando mais sabor à vida. Com muito afeto e gentileza de todos, a refeição foi selada com um emocionante brinde: “Eu quero fazer um brinde à humanidade, porque nós somos seres humanos e, em um momento de dor e sofrimento, é disso que precisamos. Tenho a certeza de que esse momento valeu muito mais do que qualquer remédio que eu já tomei no hospital. Por isso, um brinde à humanidade“, finalizou ele, emocionado.
E como toda bela amizade, grande amor e deliciosa refeição, os preciosos momentos também são eternizados nas memórias, assim como afirma a jornalista e também paciente paliativa, Ana Michelle Soares: “se tem um jeito de a gente ser eterno, é vivendo nas pessoas”.
Receita que foi servida durante o almoço:
Linguiça embriagada do chef Nery
Ingredientes
– 1/2 quilo de linguiça fresca, fina e pura de porco;
– 4 colheres de sopa de mel;
– 1 copo de cerveja tipo pilsen;
– 1 dose de pinga, conhaque ou whisky;
– Salsa ou coentro fresco, bem picadinho.
Modo de fazer
Corte a linguiça em pedaços de 1,5 cm. Aqueça bem a frigideira e coloque o azeite de oliva e a linguiça. Quando a linguiça começar a dourar, abaixe o fogo e deixe criar o caldo (por isso é importante a linguiça ser fresca, já que o objetivo é formar bastante caldo, que é fundamental para a receita dar certo).
Quando houver bastante ‘caldo’, coloque o mel e abaixe o fogo, deixando caramelizar o mel com o caldo no fundo. Mexa um pouco, isso ajudará durante o processo.
Assim que estiver bem caramelizado (lembre-se: caramelizado não é carbonizado, não deixe queimar, mas sim ficar na cor ferrugem, bem escura). Feita a caramelização corretamente, coloque a cerveja de uma vez, desmanchando o caramelo e formando um caldo bonito, na cor marrom. Deixe o caldo reduzir até engrossar, como a espessura do mel ou um pouco mais grosso.
Nesse momento exato, jogue a pinga ou a bebida que escolheu e flambe. Use o seu método.
No momento em que o flambado se apagar, passe a linguiça para a tigela em que vai servir. Decore com a erva picada que você escolheu. Bom apetite!
Viver o processo de alguma perda torna-se menos difícil quando é possível encontrar apoio e conforto. O luto é o tempo necessário para a mente entender o sentimento de perda que o coração já sente e, na medida em que é compartilhado, passa a ser uma fase mais leve, menos dolorida. Foi o que as pessoas que perderam algum ente querido nos últimos 12 meses encontraram no dia 29 de setembro, no Centro de Eventos Dr. Paulo Prata. A 3ª edição do “Outono em Cores”, evento realizado pelo Hospital São Judas Tadeu – a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do Hospital de Amor – reuniu mais de 80 pessoas, que tiveram a oportunidade de participar de dinâmicas e de um bate-papo com os profissionais da instituição.
O projeto, que surgiu em 2014 com o objetivo de reunir familiares na tentativa de gerar a troca de experiências entre eles, reforçando os vínculos durante o processo de luto, nasceu a partir de uma conversa entre a equipe do hospital, que identificou a necessidade de oferecer atenção às famílias que sofriam com as perdas. “Esse é um momento em que as pessoas se sentem muito solitárias e, quando elas se encontram com outras que estão passando ou que passaram pelo mesmo sentimento, elas compartilham essa dor, tornando a caminhada menos dolorida. Aqui, eles encontram tanto acolhimento que acabam se sentindo à vontade. Cria-se uma rede de ajuda para o enfrentamento desse processo tão doloroso, mas que faz parte da vida”, afirmou a médica assistente da unidade e uma das idealizadoras do projeto, Dra. Michelle Uchida.
Durante o emocionante encontro, os participantes se dividiram em 11 grupos separados por cores. No centro das rodas, haviam flores coloridas: à medida em que as pessoas iam contando suas experiências, expondo suas dores e dividindo suas angústias, elas as seguravam. No final, entregavam a outro participante que viveu uma situação semelhante, para que ele também tivesse espaço de expor esses sentimentos. Enquanto isso, os colaboradores do Hospital São Judas Tadeu participavam da dinâmica, ouvindo as histórias e dando apoio a essas famílias.
“A intenção é compartilhar dor e carinho! Queremos que essas pessoas se abram para a vida e sigam com esse ente querido dentro de seus corações. Convidamos essas pessoas para ver se elas estão bem e para que saiam daqui refletindo que estão passando por uma fase delicada, mas que devem olhar significativamente para essa dor, pois ela precisa ser vivida”, contou a psicóloga do Hospital de Amor, Mariana Paschoal.
Ao final do evento, foi impossível não se emocionar: as famílias soltaram balões coloridos com mensagens repletas de saudade, na tentativa de “liberar” aquela angústia vivida e trazer um novo ciclo para suas vidas. “Mais um ano nós estamos muito contentes com a aceitação das famílias, pois nós fazemos o convite para o evento e, sem receios, eles percorrem longas distâncias para estarem aqui e viver esses momentos junto a nós”, declarou Dra. Michelle.
Para Fábio Marques, de Matão (SP), participar do “Outono em Cores” vai além de dividir dores e encontrar carinho. É uma forma de gratidão pelo tratamento que o sogro recebeu nos quase 30 dias em que esteve no Hospital. “Eu não podia deixar de vir e agradecer ao Hospital por tudo o que fizeram pelo meu sogro no pouco tempo em que ele ficou por lá. O evento é uma iniciativa maravilhosa, pois é um momento em que a gente vê que a nossa dor não é maior do que a do outro, pois ele também sofre pela falta de alguém. A gente enxerga que não estamos sozinhos nessa caminhada dolorosa”, relatou.
A advogada Ivanielda Castro, de Itumbiara (GO), sentiu-se lisonjeada ao receber o convite do Hospital e percebeu a necessidade de participar. “Esse encontro é como uma terapia em grupo: você expõe seus sentimentos e parece que vai aceitando melhor o luto. Fiquei maravilhada com cada história que ouvi. Foi importante perceber que existem perdas tão dolorosas quanto a nossa”, finalizou.
Outono em Cores
O nome do evento foi escolhido para fazer alusão ao tempo em que os familiares demoram para progredir em relação à dor da perda, uma vez que, após a estação do outono, a primavera traz uma nova energia, através da chegada das flores e suas cores.
Cozinhar é uma arte que envolve talento, disciplina e, principalmente, muito amor. Poder reunir amigos queridos e familiares à mesa e servir uma deliciosa refeição é um momento muito especial. Foi isso que o paciente Pedro Bartholo Nery, 55 anos, fez na última quinta-feira, 20 de fevereiro, no IRCAD América Latina – centro de treinamento que faz parte do complexo do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Nery, que é consultor de orçamento, iniciou tratamento no HA em agosto de 2019, quando foi diagnosticado com um tumor no intestino. Desde então, ele enfrenta uma das suas mais difíceis batalhas: a luta contra o câncer. Muito simpático e bom de papo, ele começou seu tratamento paliativo no Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do HA) na segunda quinzena de fevereiro deste ano, após ser diagnosticado com metástase no pulmão. E foi durante um de seus papos descontraídos com a equipe da unidade que Nery foi questionado sobre qual seria o seu maior sonho e o que ele gostaria de fazer. Sem titubear, o paciente disse que desejava entrar em uma cozinha e comandar uma equipe de cozinheiros. “A minha paixão é a gastronomia, embora eu nunca tenha feito faculdade, eu nasci com esse dom. E não sou eu quem falo, não. Os meus amigos chefs sempre me pedem conselhos”, afirmou ele, que comandou um Pub, quando tinha 21 anos, em Brasília (DF).
Enquanto pedia alimentos específicos e dava atribuições, a ansiedade de Nery era visível. A alegria dele em poder cozinhar novamente também foi motivo de felicidade para todos os envolvidos nessa ação especial, dentre eles, as cozinheiras do IRCAD e a equipe multiprofissional do HA. Segundo a enfermeira do Hospital São Judas Tadeu, Nayara Silva, foi muito gratificante ver a animação e o brilho nos olhos do paciente. “Em nossa unidade, nós sempre promovemos eventos que visam proporcionar bem-estar tantos dos pacientes, quanto dos acompanhantes”, relatou a profissional, que acompanhou esse momento e ficou à disposição de Nery durante toda o evento, auxiliando o paciente sempre que necessário.
Já que Pedro Nery acredita que para haver uma boa comida é necessário contar com uma ótima equipe, é claro que não podiam faltar importantes escudeiras. Devido à fragilidade do paciente, em decorrência do tratamento, o ‘chef do dia’ contou com a ajuda das cozinheiras do IRCAD, Divina Ferreira, Gessica Burgheti e Sandra Gomes, que trabalharam com todo carinho e dedicação. Afinal, todos estavam reunidos com o mesmo propósito: celebrar a vida. “Poder auxiliar um paciente que deseja cozinhar é gratificante. Nem sempre podemos ajudar todos, mas fico muito contente. Para mim, hoje é um dia de muita satisfação”, contou com os olhos marejados a simpática Divina, cozinheira que comanda a cozinha do IRCAD há nove anos.
Um amor que tempera a vida
Casada oficialmente com Nery há dois anos, Silvia Souto mostra toda orgulhosa as fotos dos pratos preparados pelo marido. “Em casa, ele é o chef. O Pedro domina massas, doces, comida oriental e panificação em geral. Sempre que viajamos e quando pode, ele faz questão de pescar o alimento e preparar a refeição na hora. Tudo sempre muito fresco e feito com muito carinho. Nós temos cinco filhos lindos, dos nossos primeiros relacionamentos, mas eu sei que nós somos uma família muito unida. E tudo isso que enfrentamos nos fortalece ainda mais”, explicou a esposa, que aproveitou para tirar várias fotos enquanto o marido comandava a cozinha.
Silvia relatou já ter ouvido falar sobre o HA anteriormente, mas quando chegou na unidade e viu todo o tratamento que é oferecido, não restou outra alternativa além de admirar o trabalho realizado na instituição. “Aqui, em Barretos, eu me encantei. Em cada profissional, em cada gesto, só consigo ver carinho e amor. Ao ver o trabalho das pessoas do Hospital de Amor, eu voltei a acreditar na humanidade. A gente vê tanta notícia ruim, mas aqui no hospital eu aprendi a acreditar na bondade do ser humano novamente. Só posso agradecer por tudo que vocês fazem por nós”, disse emocionada.
Quando questionado sobre qual chef ele mais admira, Nery afirma gostar do chef Érick Jacquin, devido à vontade dele de valorizar ainda mais a cozinha tradicional. Ele também demonstra empolgação ao falar do lançamento do seu livro, cujo conteúdo terá 100 receitas autorais.
Após todo o cuidadoso preparo dos alimentos, o almoço especial foi servido para ele, sua esposa e para toda a equipe de profissionais que cuida dele no Hospital São Judas Tadeu, dentre eles: médico, assistente social, enfermeiras, fisioterapeutas e todos aqueles que ganharam a admiração do casal de Brasília, que proporcionou um momento lindo, dando mais sabor à vida. Com muito afeto e gentileza de todos, a refeição foi selada com um emocionante brinde: “Eu quero fazer um brinde à humanidade, porque nós somos seres humanos e, em um momento de dor e sofrimento, é disso que precisamos. Tenho a certeza de que esse momento valeu muito mais do que qualquer remédio que eu já tomei no hospital. Por isso, um brinde à humanidade“, finalizou ele, emocionado.
E como toda bela amizade, grande amor e deliciosa refeição, os preciosos momentos também são eternizados nas memórias, assim como afirma a jornalista e também paciente paliativa, Ana Michelle Soares: “se tem um jeito de a gente ser eterno, é vivendo nas pessoas”.
Receita que foi servida durante o almoço:
Linguiça embriagada do chef Nery
Ingredientes
– 1/2 quilo de linguiça fresca, fina e pura de porco;
– 4 colheres de sopa de mel;
– 1 copo de cerveja tipo pilsen;
– 1 dose de pinga, conhaque ou whisky;
– Salsa ou coentro fresco, bem picadinho.
Modo de fazer
Corte a linguiça em pedaços de 1,5 cm. Aqueça bem a frigideira e coloque o azeite de oliva e a linguiça. Quando a linguiça começar a dourar, abaixe o fogo e deixe criar o caldo (por isso é importante a linguiça ser fresca, já que o objetivo é formar bastante caldo, que é fundamental para a receita dar certo).
Quando houver bastante ‘caldo’, coloque o mel e abaixe o fogo, deixando caramelizar o mel com o caldo no fundo. Mexa um pouco, isso ajudará durante o processo.
Assim que estiver bem caramelizado (lembre-se: caramelizado não é carbonizado, não deixe queimar, mas sim ficar na cor ferrugem, bem escura). Feita a caramelização corretamente, coloque a cerveja de uma vez, desmanchando o caramelo e formando um caldo bonito, na cor marrom. Deixe o caldo reduzir até engrossar, como a espessura do mel ou um pouco mais grosso.
Nesse momento exato, jogue a pinga ou a bebida que escolheu e flambe. Use o seu método.
No momento em que o flambado se apagar, passe a linguiça para a tigela em que vai servir. Decore com a erva picada que você escolheu. Bom apetite!
Viver o processo de alguma perda torna-se menos difícil quando é possível encontrar apoio e conforto. O luto é o tempo necessário para a mente entender o sentimento de perda que o coração já sente e, na medida em que é compartilhado, passa a ser uma fase mais leve, menos dolorida. Foi o que as pessoas que perderam algum ente querido nos últimos 12 meses encontraram no dia 29 de setembro, no Centro de Eventos Dr. Paulo Prata. A 3ª edição do “Outono em Cores”, evento realizado pelo Hospital São Judas Tadeu – a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do Hospital de Amor – reuniu mais de 80 pessoas, que tiveram a oportunidade de participar de dinâmicas e de um bate-papo com os profissionais da instituição.
O projeto, que surgiu em 2014 com o objetivo de reunir familiares na tentativa de gerar a troca de experiências entre eles, reforçando os vínculos durante o processo de luto, nasceu a partir de uma conversa entre a equipe do hospital, que identificou a necessidade de oferecer atenção às famílias que sofriam com as perdas. “Esse é um momento em que as pessoas se sentem muito solitárias e, quando elas se encontram com outras que estão passando ou que passaram pelo mesmo sentimento, elas compartilham essa dor, tornando a caminhada menos dolorida. Aqui, eles encontram tanto acolhimento que acabam se sentindo à vontade. Cria-se uma rede de ajuda para o enfrentamento desse processo tão doloroso, mas que faz parte da vida”, afirmou a médica assistente da unidade e uma das idealizadoras do projeto, Dra. Michelle Uchida.
Durante o emocionante encontro, os participantes se dividiram em 11 grupos separados por cores. No centro das rodas, haviam flores coloridas: à medida em que as pessoas iam contando suas experiências, expondo suas dores e dividindo suas angústias, elas as seguravam. No final, entregavam a outro participante que viveu uma situação semelhante, para que ele também tivesse espaço de expor esses sentimentos. Enquanto isso, os colaboradores do Hospital São Judas Tadeu participavam da dinâmica, ouvindo as histórias e dando apoio a essas famílias.
“A intenção é compartilhar dor e carinho! Queremos que essas pessoas se abram para a vida e sigam com esse ente querido dentro de seus corações. Convidamos essas pessoas para ver se elas estão bem e para que saiam daqui refletindo que estão passando por uma fase delicada, mas que devem olhar significativamente para essa dor, pois ela precisa ser vivida”, contou a psicóloga do Hospital de Amor, Mariana Paschoal.
Ao final do evento, foi impossível não se emocionar: as famílias soltaram balões coloridos com mensagens repletas de saudade, na tentativa de “liberar” aquela angústia vivida e trazer um novo ciclo para suas vidas. “Mais um ano nós estamos muito contentes com a aceitação das famílias, pois nós fazemos o convite para o evento e, sem receios, eles percorrem longas distâncias para estarem aqui e viver esses momentos junto a nós”, declarou Dra. Michelle.
Para Fábio Marques, de Matão (SP), participar do “Outono em Cores” vai além de dividir dores e encontrar carinho. É uma forma de gratidão pelo tratamento que o sogro recebeu nos quase 30 dias em que esteve no Hospital. “Eu não podia deixar de vir e agradecer ao Hospital por tudo o que fizeram pelo meu sogro no pouco tempo em que ele ficou por lá. O evento é uma iniciativa maravilhosa, pois é um momento em que a gente vê que a nossa dor não é maior do que a do outro, pois ele também sofre pela falta de alguém. A gente enxerga que não estamos sozinhos nessa caminhada dolorosa”, relatou.
A advogada Ivanielda Castro, de Itumbiara (GO), sentiu-se lisonjeada ao receber o convite do Hospital e percebeu a necessidade de participar. “Esse encontro é como uma terapia em grupo: você expõe seus sentimentos e parece que vai aceitando melhor o luto. Fiquei maravilhada com cada história que ouvi. Foi importante perceber que existem perdas tão dolorosas quanto a nossa”, finalizou.
Outono em Cores
O nome do evento foi escolhido para fazer alusão ao tempo em que os familiares demoram para progredir em relação à dor da perda, uma vez que, após a estação do outono, a primavera traz uma nova energia, através da chegada das flores e suas cores.