“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, acreditava o ilustre e respeitado educador brasileiro Paulo Freire. Assim como ele, o Hospital de Amor também acredita que a educação é fundamental para o desenvolvimento de qualquer pessoa, independentemente de estar enfrentado um tratamento duro com o câncer.
Em meio aos desafios da doença, um refrigério de conhecimento e afeto floresce dentro do Hospital de Amor, em Barretos. É na classe hospitalar, localizada no Lar de Amor (alojamento do HA) que a educação se encontra com a humanização, oferecendo a crianças e jovens em tratamento oncológico a oportunidade de sonhar e aprender, longe das quatro paredes de um quarto de hospital. Na liderança desta iniciativa está Leane Carvalho Oliveira, uma educadora dedicada que há 10 anos atua como professora nessa missão tão especial.
Com 54 anos e uma rica formação que inclui graduações em História e Geografia, e pós-graduações em Pedagogia Hospitalar e Psicopedagogia, Leane é a prova viva de que a paixão por ensinar pode mover montanhas. “Atuar como professora na classe hospitalar do HA tem sido uma experiência transformadora”, revela a experiente professora. “Estou feliz e me sinto realizada com um propósito que vai além do simples ato de ensinar”, fala Leane.
A ‘escola do Lar de Amor’, como é carinhosamente chamada, conta com três classes que abrangem desde o Ensino Inicial (1º ao 5º ano) até os anos finais e Ensino Médio (6º ano ao 3º EM). Atualmente, 30 alunos estudam nesse espaço que também é considerado um refúgio para eles, diante de uma rotina de exames e tratamentos, a escola acalenta, já que são intercaladas por aulas dinâmicas e repletas de carinho e diversão.
Leane, ao lado das professoras Zilda Reducino e Tania Serapião, forma uma equipe que se dedica a oferecer um currículo completo, adaptado às necessidades de cada estudante que também é paciente oncológico. A professora Leane ensina todas as disciplinas para os alunos do 6º ano ao Ensino Médio, enquanto Zilda se dedica aos estudantes do 3º ao 5º ano, e Tania, aos pequenos do 1º e 2º ano. “Seguimos o plano de ação do estado, com sala do futuro, Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP), apostilas usando aplicativos, robótica e tecnologia”, explica Leane, destacando a modernidade da abordagem. A colaboração de voluntários, como a professora Rosalinda em Matemática, e parceiros como o Instituto Federal, que oferece aulas de Química, Física e Biologia com laboratório, complementa o aprendizado e enriquece a experiência dos alunos.
A grande diferença da classe hospitalar em relação a uma escola convencional é o fato de haver atendimento humanizado e individualizado. “Nossos alunos com suas devidas especificidades recebem atividades adaptadas a cada um”, ressalta Leane. Além do currículo tradicional, os alunos participam de atividades especiais, como aulas de jornalismo com a jornalista Glaucia Chiarelli, onde desenvolvem reportagens para o “jornalzinho HA”, que é um grande sucesso.
A jornada de Leane na classe hospitalar é cheia de histórias que marcam a alma. “Em cada encontro com meus alunos, vivi momentos de intensa alegria, aprendizado e afeto genuíno”, compartilha. Entre tantas lembranças, a história de Éder é a que mais toca seu coração. “Incentivá-lo a estudar, a manter a esperança acesa e a não desistir do sonho de se tornar médico foi uma missão que abracei com amor e dedicação”, recorda Leane. A partida precoce de Éder deixou uma lacuna, mas também a certeza de que a educação, quando feita com amor, tem o poder de inspirar e dar propósito, mesmo diante das maiores dificuldades.
Tia Leane como também é conhecida pelos alunos, se orgulha de ter ajudado no processo de ensino de pacientes indígenas que recebem tratamento no Hospital de Amor. Para ela, a vocação de educadora na classe hospitalar vai muito além do ensino de matérias. É um gesto de amor, esperança e humanidade. É a certeza de que, mesmo em tempos difíceis, o conhecimento pode ser uma ferramenta de transformação e um caminho para a realização de sonhos, por mais distantes que eles pareçam.
O que você faz que o transporta para um lugar mágico e especial? O sociólogo italiano Domenico De Masi defendia a tese do “ócio criativo”, um tempo para “fazer nada” que, na verdade, deveria estimular a criatividade futura. Um filme, um livro, uma música, quando bem apreciados, não seriam apenas um singelo passatempo. Mas já imaginou ser impulsionado por um novo desafio proposto pela vida?
Certa vez, o pintor holandês Vincent Van Gogh disse: “A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida”. De certa forma, ele não estava errado. Poder se expressar por meio do dom artístico vai muito além de um hobby; pode ser terapêutico e até mesmo contribuir para o processo de tratamento oncológico, por exemplo.
A jovem professora Amanda Furtado, de 35 anos, além de ser encantada pelos números que a levaram a cursar Matemática, também se apaixonou pelas cores e pelos traços, mais especificamente pela arte da pintura. Paulista de Franca, cidade localizada no nordeste do estado de São Paulo, conhecida como a capital do calçado e um dos pontos com maior incidência solar no Brasil, não imaginou que um dia encontraria um novo desafio em Barretos (SP), onde, em alguns momentos, a vida pareceria mais nublada do que ensolarada.
“Me recordo que, em outubro do ano passado, eu apalpei um nódulo na minha mama. Decidi procurar meu médico. Ele comentou que, pela minha idade, seria pouco provável que fosse câncer, mas solicitou uma ultrassonografia. O resultado foi um laudo BIRADS 0 na mama — isso significa que o exame de imagem é inconclusivo ou incompleto, exigindo exames adicionais para uma avaliação mais precisa. Após isso, o médico pediu uma ressonância magnética, que identificou mais dois nódulos, estes não palpáveis”, explica Amanda.
Depois de realizar o exame, a jovem procurou atendimento no Instituto de Prevenção do Hospital de Amor, em Barretos, onde diz ter recebido muito carinho e acolhimento. “No dia do diagnóstico de câncer de mama, fui amparada com muita sensibilidade, tanto pelos profissionais quanto pela minha família. Senti medo. Mas o apoio dos meus familiares foi essencial para me fortalecer e enfrentar esse momento difícil”, diz ela.
Ao ser questionada sobre a importância do Hospital de Amor em sua vida, a paciente rapidamente responde: “O hospital me trouxe esperança. Desde o início, senti acolhimento e confiança nos profissionais que cuidaram de mim com tanto carinho. Não poderia me sentir mais amparada. Além do acompanhamento médico, o suporte psicológico fez toda a diferença”, fala Amanda, que achou que o tratamento seria mais difícil por estar com muito medo. No entanto, com o apoio da sua fé e o acolhimento do hospital, tudo ficou mais leve.
A pintura como um refúgio
Era uma consulta comum, ou seria, até o momento em que a paciente Amanda, cheia de gratidão, presenteou seu médico mastologista, Dr. Idam Junior, com um lindo quadro. A surpresa foi tamanha que fez com que o especialista publicasse a imagem em suas redes sociais. Na tela, a paciente pintou aquele que é motivo de sua fé: Jesus andando sobre as águas.
“Comecei a pintar há 10 anos, como um hobby, no ateliê da minha amiga Aime. Depois, precisei parar por causa da rotina. Retomei há cerca de 3 anos, num momento em que comecei a me amar mais e a separar tempo para mim. Faço pintura a óleo com o estilo impressionista”, conta Amanda.
A professora revela que gosta de pintar casarões e elementos que remetam a momentos marcantes. “Todas as minhas telas têm um significado especial. Após o diagnóstico de câncer, passei a pintar pelo menos três vezes por semana. Quando estou pintando, minha mente fica como uma tela em branco. É um momento de leveza, de paz interior. Pintar me acalma”, explica a paciente emocionada.
O olhar da psicologia
Segundo a psicóloga do Hospital de Amor, Eliza Guimarães Ribeiro, atividades como a pintura funcionam como formas de expressão emocional e enfrentamento no contexto oncológico. “Elas ajudam o paciente a elaborar sentimentos difíceis, reduzem a ansiedade e resgatam um senso de identidade e autonomia durante o tratamento. Além disso, promovem bem-estar e podem fortalecer o vínculo com a equipe e com o próprio processo de cuidado”.
Quando questionada sobre a importância de o paciente oncológico ter um hobby em meio ao processo do tratamento, Eliza explica: “Primeiro, acolheria a pausa como algo natural no processo de tratamento, validando o cansaço e as emoções envolvidas. Em seguida, incentivaria o paciente a retomar a atividade com gentileza, sem cobrança, lembrando dos benefícios que ela já trouxe e propondo que ele experimente aos poucos — mesmo que por alguns minutos. Pequenos retornos podem reabrir esse espaço de prazer, identidade e expressão pessoal”, finaliza.
Para a profissional, não existe uma fórmula; cada pessoa se conecta com diferentes formas de prazer. “Eu costumo incentivar atividades como pintura, escrita, ouvir música, leitura ou até jogos simples. O mais importante é que faça sentido para o paciente e respeite seus limites naquele momento”, conta Eliza.
Para a paciente Amanda, a pintura ajuda a enfrentar o tratamento e a doença. “Não consigo imaginar como teria sido para mim sem a pintura em minha vida. E não é só sobre pintar, é sobre estar no ateliê com as amigas, tomar um bom café da tarde, conversar e relaxar. É um momento em que posso me expressar, distrair a mente e me conectar com outras pessoas de forma leve”, diz a educadora, que também tem uma veia artística.
A professora fica emocionada quando responde o motivo pelo qual escolheu o Dr. Idam para receber o seu quadro: “Passei por um momento muito difícil e recebi a atenção e o apoio do Dr. Idam e Dr. Toni de uma forma que não consigo explicar. Eles estiveram ao meu lado o tempo todo, como amigos, me fortalecendo”. Amanda conta que, com a entrega deste presente, quis expressar toda a sua gratidão da maneira que ela sabe, por meio da arte.
A jovem explica que, quando inicia a pintura, ela coloca toda sua fé e pede a Deus que abençoe os médicos do hospital, tanto fisicamente quanto espiritualmente. “Acredito que, no enfrentamento do câncer, a verdadeira mudança precisa vir de dentro para fora. Também pedi a Deus que envie ao mundo mais profissionais como eles”, conta Amanda.
“A arte é um caminho poderoso para o autoconhecimento, alívio da ansiedade e conexão com outras pessoas. Proporciona momentos de leveza, amizade e alegria em meio a um processo tão delicado. A vida é preciosa, e cada dia é um presente. Descobri que o propósito da nossa existência está nas pequenas coisas: na fé, na esperança, no amor e no cuidado com quem está ao nosso lado”, Amanda diz emocionada.
Como a maioria dos pacientes que recebem o diagnóstico de câncer e passam pelo tratamento, a educadora relata que esta jornada a transformou: “A arte me resgatou, me deu forças e me ensinou que é possível encontrar beleza até nos momentos mais desafiadores. Agradeço a Deus, meu marido Jeferson, à minha família, aos amigos, aos médicos e ao Hospital de Amor por fazerem parte dessa história. Posso dizer que aprendi a valorizar o tempo e compreendi, ainda mais, a importância da minha família e meu relacionamento com Deus”, finaliza.
A psicóloga da instituição também reforça que, se o paciente nunca teve o hábito de praticar atividades de lazer, a equipe pode convidá-lo a experimentar algo novo de forma leve e sem pressão. “O lazer pode ser uma ferramenta de enfrentamento; ele ajuda a aliviar o sofrimento, manter a motivação e resgatar o prazer em meio a um momento difícil. O importante é que faça sentido para ele(a), respeitando seu tempo e vontade. Me recordo do caso de uma paciente que, após o adoecimento, focou ainda mais nas aulas de violão, usando a música como terapia neste momento”.
Todo paciente oncológico precisa ser acolhido, pois, segundo Eliza, é necessário acolher a tristeza como algo legítimo diante do que está sendo vivido no momento. “Diria que é normal se sentir assim durante o tratamento, e que ele não está sozinho. Depois, estimularia pequenos passos: retomar uma atividade leve, conversar com alguém de confiança ou até permitir-se descansar sem culpa. E reforçaria que buscar apoio psicológico não é sinal de fraqueza, mas de cuidado consigo mesmo”, conclui a profissional.
Respeitar o seu próprio tempo e fazer uma atividade que estimule alegria pode contribuir para enfrentar os desafios que a vida apresenta, independentemente do diagnóstico recebido. Sempre é possível colorir a vida com sonhos e paixões! E você, realiza algo que ama apenas por hobby ou anda se cobrando demais?
‘Não pode segurar xixi porque faz mal à saúde’ ou ‘Já bebeu água hoje?’. Quais destas frases ligadas à saúde dos seus rins você já ouviu? Provavelmente as duas, certo?
Embora seja comum existir uma certa preocupação com o bem-estar dos órgãos, cujas principais funções no corpo são filtrar o sangue a fim de remover toxinas e resíduos metabólicos, como ureia, creatinina e ácido úrico, por meio da produção e eliminação da urina, ainda se fala pouco sobre o câncer renal.
Segundo a médica oncologista clínica do Hospital de Amor Jales, Dra. Fernanda de Oliveira Bombarda, o câncer de rim ocorre quando as células que compõem o órgão começam a crescer de forma anormal e desordenada, formando um tumor.
A especialista explica que este tipo de câncer é o terceiro mais frequente do aparelho geniturinário e representa aproximadamente 3% das doenças malignas do adulto. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registra mais de 11 a 12 mil novos casos de câncer renal por ano. Somando as unidades do HA Jales e Barretos, são cerca de 150 casos diagnosticados por ano com esta neoplasia “A incidência de câncer renal tem mostrado um aparente aumento, possivelmente devido ao uso mais frequente de exames de imagem, como a tomografia computadorizada. A doença surge com mais frequência nos homens do que nas mulheres e, geralmente, acomete indivíduos entre os 50 e 70 anos de idade”, diz Fernanda.
O caminho de Maria: fé e resiliência diante de algo inesperado
“Meu nome é Maria Bezerra da Silva, tenho 65 anos, sou dona de casa e moro em Nova Andradina (MS). Há dois anos, um pequeno caroço me trouxe um incômodo que logo se transformaria em um diagnóstico de câncer. Me recordo bem da sensação, da surpresa e da necessidade de entender o que estava acontecendo.
Como viúva, encarei esse desafio com a força de quem já superou outras batalhas na vida, contando sempre com o apoio dos meus filhos e demais familiares. Eu não sentia nenhum sintoma antes de descobrir o caroço, o que me fez procurar ajuda médica.
Após consulta e exames, recebi o diagnóstico de câncer renal e desde então, o Hospital de Amor tem sido essencial na minha vida. Sempre digo que a importância do hospital é a de nos devolver a saúde, de nos dar a chance de continuar vivendo. O tratamento que recebo é simplesmente excelente. A dedicação dos funcionários e a qualidade dos cuidados me dão a certeza de que estou no lugar certo. Atualmente, estou na fase da quimioterapia, e cada passo é dado com muita esperança.
Essa jornada tem me transformado profundamente. Percebo mudanças em mim e, principalmente, nos meus hábitos de vida. Hoje, valorizo ainda mais a importância de cuidar do corpo e da mente.
Se eu pudesse dar um conselho para alguém que acabou de receber um diagnóstico de câncer, diria para não guardar raiva e para respeitar os alimentos. É um processo desafiador, mas com fé, apoio e os cuidados certos, é possível encontrar forças para seguir em frente”, conta a simpática dona Maria, paciente do HA que trata de câncer renal com muita coragem e uma grande vontade de viver.
Neste mês de junho, dedicado à conscientização sobre o câncer de rim, a Dra. Fernanda Bombarda esclarece as principais dúvidas sobre o tema. Confira:
1) Existem tipos diferentes de câncer renal? Quais são os mais comuns?
R.: Existem diferentes tipos de câncer de rim. O mais frequente é o câncer renal de células claras, sendo responsável por 85% dos tumores diagnosticados. Outros tipos incluem: carcinoma papilífero (o segundo tipo mais comum, representando cerca de 10% dos casos) e carcinoma cromófobo (que corresponde a cerca de 5% dos casos).
2) Quais são os principais sintomas?
R.: A neoplasia renal é inicialmente assintomática, mas pode se manifestar com dor no flanco (dor nas costas, de lado, na altura da cintura), hematúria (presença de sangue na urina) e massa abdominal palpável.
3) Quando, ‘normalmente’, este tipo de câncer é detectado? E como é feito o diagnóstico?
R.: A forma mais comum de obter o diagnóstico são os achados incidentais em exames de rotina como a ultrassonografia ou tomografia do abdômen. O diagnóstico é realizado por meio de exames como ultrassom, tomografia ou ressonância nuclear magnética de abdômen. A biópsia renal pré-operatória, normalmente, não é realizada e só é necessária em situações excepcionais, a fim de diferenciar lesões malignas de benignas, as quais não necessitariam de tratamento.
4) Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de rim?
R.: Os principais fatores de risco são: tabagismo, obesidade, hipertensão, idade avançada, doença renal crônica e diálise, história familiar e algumas síndromes genéticas (Doença de Von Hippel-Lindau).
5) Existem medidas preventivas para o câncer renal?
R.: As medidas preventivas para o câncer renal são: evitar o tabagismo, manter um peso saudável e controlar a pressão arterial por meio de uma dieta equilibrada e atividade física regular e, se necessário, medicação, sob orientação médica. Manter-se bem hidratado — beber água suficiente ajuda os rins a eliminarem toxinas e a funcionar adequadamente.
6) Este tipo de câncer costuma aparecer em qual fase (inicial/avançado)?
R.: Cerca de metade dos tumores renais diagnosticados atualmente estão restritos ao rim, enquanto aproximadamente 20% já mostram invasão local, com comprometimento dos linfonodos. O restante apresenta metástases à distância, sendo os locais mais frequentemente atingidos: pulmão, fígado e ossos.
7) Quais são os tipos de tratamento?
R.: Os tipos de tratamento disponíveis são as terapias sistêmicas, que agem em todo o corpo para combater as células cancerígenas, como imunoterapia (que estimula o sistema imunológico do próprio paciente a reconhecer e combater as células cancerígenas), a terapia-alvo (medicamentos que atuam bloqueando vias moleculares específicas) e quimioterapia (o câncer de rim é relativamente resistente à quimioterapia tradicional, por isso, ela raramente é a primeira escolha).
A radioterapia pode ser utilizada em sua forma convencional com fins paliativos para aliviar sintomas como dor em casos de metástases ósseas. Já a radiocirurgia (técnica de radioterapia de alta precisão que administra altas doses de radiação em poucas sessões) tem se mostrado promissora para tratar tumores primários em pacientes não cirúrgicos e para controlar metástases em locais específicos, como ossos e pulmões.
8) A remoção do rim é um tipo de tratamento?
R.: A cirurgia é o tratamento inicial de escolha para a maioria dos carcinomas renais. É o único tratamento curativo definitivo para esse tipo de câncer.
9) O que é nefrectomia parcial/radical?
R.: Nefrectomia total: remoção total do rim.
Nefrectomia parcial: remoção apenas de uma parte do rim ou de uma região onde o nódulo/massa se encontra, preservando o restante do parênquima renal. É mais comumente utilizada em tumores menores.
10) Há chance de transplante no lugar do rim doente?
R.: Um transplante renal é considerado para pacientes que desenvolvem insuficiência renal crônica em estágio terminal, ou seja, quando os rins não conseguem mais cumprir suas funções adequadamente. No caso de um paciente que teve um rim removido devido ao câncer, a necessidade de um transplante surgiria se o rim remanescente também falhasse ou já estivesse com sua função comprometida antes da cirurgia. Em pacientes com câncer renal ativo, o transplante não é recomendado. A principal razão é que o uso de medicamentos imunossupressores após o transplante pode estimular o crescimento de células cancerígenas remanescentes, aumentando o risco de recidiva do câncer.
11) Quais são os avanços da medicina para tratar este tipo de câncer?
R.: Os avanços para tratar esse tipo de câncer são a combinação de terapias sistêmicas, como imunoterapia e terapia-alvo, aumentando as taxas de resposta e a sobrevida dos pacientes. O uso de terapia neoadjuvante: a imunoterapia também está sendo estudada para ser realizada antes da cirurgia para diminuir o tamanho do tumor e facilitar a remoção, ou até mesmo possibilitar cirurgias menos invasivas. Cirurgia minimamente invasiva (laparoscopia e robótica): permite que cirurgiões realizem a nefrectomia com maior precisão, menor perda de sangue, menos dor pós-operatória e um tempo de recuperação mais rápido para o paciente. Isso é especialmente benéfico para a preservação da função renal. Terapias Ablativas: novas técnicas de ablação estão sendo estudadas e utilizadas para destruir tumores menores, oferecendo alternativas menos invasivas para pacientes que não são candidatos à cirurgia ou que possuem tumores em locais desafiadores.
12) Quais são as principais consequências para o paciente durante o tratamento e após ele?
R.: Devido à nefrectomia (retirada do rim, seja parcial ou total), existe a possibilidade de alteração da função renal. Outras consequências estão relacionadas a possíveis efeitos colaterais do tratamento sistêmico: náusea, vômito, fadiga, diarreia e perda de apetite.
13) Quais são os maiores desafios enfrentados pelo paciente durante o tratamento? (Não pode comer algum alimento, líquido)?
R.: Não há restrição alimentar. Os maiores desafios são a dificuldade de acesso a medicamentos, especialmente terapias de alto custo ou não disponíveis no sistema público de saúde.
14) O paciente precisa de diálise depois do tratamento?
R.: Não necessariamente. A maioria dos pacientes submetidos à nefrectomia (retirada do rim) para tratamento de câncer renal não precisa de diálise após a cirurgia. A necessidade de diálise após a remoção de um rim depende da função do rim remanescente.
15) Qual é a taxa de cura e de mortalidade deste câncer?
R.: A taxa de sobrevida em 5 anos depende de cada estágio da doença:
– Estágio clínico I (tumor localizado no rim): 80%
– Estágio II (tumor maior, mas ainda restrito ao rim): 73%
– Estágio III (tumor que se espalhou para linfonodos próximos): 53%
– Estágio IV (metástases para outros órgãos): 8%
16) Quantas pessoas são diagnosticadas com esta doença por ano no Brasil?
R.: Estima-se que, por ano, no Brasil, sejam diagnosticados cerca de 12.000 pacientes com esta doença.
17) Existe rastreamento para o câncer renal?
R.: Atualmente, não existem programas de rastreamento populacional para o câncer renal. Não é recomendada a realização de exames de rotina para detectar precocemente essa doença em pessoas assintomáticas, devido à sua baixa incidência e à falta de evidências que comprovem benefícios significativos para a população em geral.
Caso conheça alguém que esteja tratando de câncer renal ou com alguns dos sintomas apresentados neste conteúdo, compartilhe esta matéria. Lembre-se de evitar o cigarro, manter o peso adequado, praticar atividades físicas e manter a pressão arterial controlada.
O cuidado que começa antes mesmo do tratamento
Num hospital onde o nome já anuncia a essência, o cuidado vai muito além do atendimento médico. No Hospital de Amor, a atenção integral ao paciente passa, todos os dias, pelas mãos de uma equipe que trabalha nos bastidores com escuta, empatia e compromisso social: os(as) assistentes sociais. São eles(as) que recebem, orientam, acolhem e articulam soluções para que o tratamento oncológico não esbarre em barreiras econômicas, sociais ou emocionais.
Em meio à rotina intensa de consultas, exames, cirurgias e internações, o Serviço Social cumpre um papel silencioso, mas fundamental: garantir que o paciente tenha seus direitos respeitados, suas angústias ouvidas e suas necessidades atendidas de forma integral.
Escuta, acolhimento e articulação de direitos
Seja ajudando a obter benefícios sociais, encaminhando para serviços públicos, acompanhando famílias em situação de vulnerabilidade ou mediando soluções para questões delicadas como abandono, luto e conflitos familiares, os profissionais da área estão sempre atentos — e presentes.
A atuação é ampla e vai desde o primeiro acolhimento até o suporte nas situações mais complexas durante e após o tratamento. O atendimento começa com a escuta. Com tempo, paciência e sensibilidade, os assistentes sociais se colocam à disposição para ouvir histórias, entender contextos e acolher dores que, muitas vezes, não são visíveis ou acabam não sendo a prioridade entre as equipes de saúde.
A partir desse primeiro contato, constroem caminhos: orientam sobre benefícios como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), aposentadoria por invalidez, passe livre para transporte, isenção de impostos, medicação de alto custo, auxílio-doença, FGTS, entre outros direitos previsto em lei, mas que são desconhecidos de grande parte da população. Em muitos casos, fazem todo o acompanhamento do processo, desde o cadastro no INSS até a confirmação do benefício — como aconteceu com um paciente de 65 anos, sem qualquer histórico de contribuição previdenciária, que teve o benefício concedido após a mediação da equipe. “Essa foi a única renda da família naquele momento de extrema fragilidade”, contou a coordenadora Lucia Roque, emocionada com a dimensão daquilo que parecia apenas mais um atendimento.
Cuidado que vai além dos muros do hospital
Mas o trabalho vai além do aspecto burocrático. No Hospital de Amor, a coordenadora explica que o Serviço Social também atua como um elo entre os pacientes e os diversos setores da rede pública e filantrópica. Isso inclui contato com CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), UBSs (Unidades Básicas de Saúde), casas de apoio, organizações sociais, ONGs, grupos de voluntariado e instituições de justiça. A articulação com essas redes permite que o cuidado não se interrompa na saída do hospital, garantindo continuidade, segurança e acolhimento mesmo nos territórios mais distantes.
Situações de alta complexidade também fazem parte da rotina. “Recentemente, uma paciente estrangeira faleceu na unidade de cuidados paliativos, acompanhada apenas do filho menor de idade, de 17 anos. Os familiares que viviam em outro país não conseguiram chegar a tempo, e o Conselho Tutelar precisou ser acionado. Em um gesto comovente, uma conterrânea da paciente, que estava na cidade, se ofereceu para acolher o menino até a chegada dos parentes. O corpo da paciente permaneceu no Serviço de Verificação de Óbito (SVO) até que toda a documentação fosse finalizada. O caso mobilizou emocionalmente a equipe”, lembra Lucia — um retrato da complexidade humana com que lidam diariamente.
Profissionais que enxergam o paciente como um todo
Essas situações exigem preparo técnico, sim, mas também exigem vocação. Por isso, a equipe do Serviço Social é formada por profissionais capacitados, com formação em Serviço Social e registro no CRESS, distribuídos por diferentes unidades, incluindo as unidades hospitalares e as casas de apoio geridas pelo HA, como o Lar de Amor e o alojamento Santa Madre Paulina, em Barretos (SP).
Eles participam de discussões de caso com médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas; acompanham visitas multiprofissionais; elaboram relatórios sociais; colaboram na construção de planos terapêuticos e atuam em comissões de ética, óbito e humanização.
Mesmo com uma estrutura sólida, os desafios são muitos. A vulnerabilidade social de grande parte dos pacientes impõe obstáculos que ultrapassam a alçada hospitalar. Há quem chegue sem condições mínimas de seguir o tratamento: sem renda, sem casa, sem comida. É nesse momento que a sensibilidade da equipe entra em cena, articulando parcerias locais e criando soluções que ultrapassam a técnica.
Humanização, aliás, é a palavra que define o modo como o Serviço Social do Hospital de Amor atua. Chamar o paciente pelo nome, garantir um ambiente acolhedor, respeitar a diversidade, oferecer tempo de qualidade e presença real em momentos delicados. Tudo isso faz parte de um cuidado que também é emocional, subjetivo e profundamente humano.
Conhecimento que empodera e fortalece vínculos
A atuação também inclui a entrega da Cartilha de Direitos do Paciente em Tratamento Oncológico, um material que orienta e empodera, tornando acessíveis informações que, muitas vezes, são desconhecidas ou difíceis de compreender.
Em paralelo, os profissionais conduzem atendimentos individuais, em grupo e com as famílias, com foco no fortalecimento de vínculos, no apoio emocional e na promoção da autonomia. Também acompanham todo o processo de internação, tratamento, retorno ao domicílio e, quando necessário, cuidados paliativos e luto.
No HA, o Serviço Social é mais que uma área técnica. É um espaço de afeto, de luta por justiça social e de reconstrução da dignidade. Cada atendimento é uma oportunidade de dizer, com ações concretas, que o paciente não está só. E que, sim, é possível cuidar com amor — mesmo em meio à dor.
A dor de cabeça é uma queixa comum que afeta grande parte da população em algum momento da vida. Afinal, quem nunca teve dor de cabeça? No entanto, para muitas pessoas, a intensidade ou persistência da dor pode gerar ansiedade ou até mesmo o medo de ser algo mais grave, como um câncer, por exemplo. Para desmistificar essa preocupação e esclarecer as principais dúvidas sobre o tema, o neurocirurgião oncológico do Hospital de Amor, Dr. Ismael Lombardi, respondeu algumas perguntas. Confira:
1) O que pode ser considerado dor de cabeça?
R.: A dor de cabeça, ou cefaleia, é qualquer tipo de dor que aparece na região da cabeça, seja na parte da frente, dos lados, atrás ou no topo. Pode ser uma dor leve, forte, latejante, em pressão ou fisgada.
2) Existem diferentes tipos de dor de cabeça? Quais são os mais comuns?
R.: Sim! Existem muitos tipos, divididos em dois grupos principais:
Primárias: são as mais comuns, representando cerca de 90% dos casos. Não são causadas por outros problemas de saúde, mas sim por fatores como genética, ambiente, hormônios, alterações no sono ou alimentação. Os tipos mais frequentes são:
• Enxaqueca: dor forte, geralmente em um lado da cabeça, podendo vir acompanhada de náuseas e sensibilidade à luz e ao barulho.
• Tensional: sensação de pressão ou ‘aperto’ na cabeça, frequentemente ligada a estresse, cansaço ou ansiedade.
• Cefaleia em Salvas: dor intensa, geralmente atrás do olho, que ocorre em crises curtas, porém muito fortes.
As cefaleias secundárias são aquelas causadas por outras doenças. Ou seja, uma dor de cabeça secundária em geral é uma queixa, um sintoma de outro problema de saúde e comumente está acompanhada de outros sintomas ou sinais físicos.
3) Quando pode surgir dor de cabeça? E quando ela é considerada ‘comum’?
R.: Dr. Ismael aponta que dores de cabeça podem surgir por motivos simples do cotidiano, como estresse, má qualidade do sono, longos períodos sem se alimentar, uso excessivo de telas (celular, computador) e desidratação (beber pouca água). Essas dores são consideradas comuns, especialmente quando melhoram com descanso, hidratação, alimentação adequada e, às vezes, com analgésicos simples.
4) Existe dor de cabeça aguda e crônica? Qual é a diferença?
R.: Sim. O médico também diferencia a dor de cabeça em aguda e crônica:
– Aguda: é aquela dor que parece de repente, dura pouco tempo e desaparece. Pode ser causada por fatores como estresse, gripe, sinusite ou uma noite mal dormida.
– Crônica: este tipo de dor já ocorre por mais de 15 dias no mês, durante pelo menos três meses consecutivos. Geralmente está associada à enxaqueca, tensão ou uso exagerado de medicamentos para dor.
5) Mulheres são mais propensas?
R.: Sim, as mulheres tendem a sofrer mais com dores de cabeça, principalmente com enxaqueca. Isso acontece por vários motivos, incluindo fatores hormonais, como variações durante o ciclo menstrual, que contribuem para essa maior prevalência.
6) Quando é necessário procurar um médico?
R.: Deve-se procurar um médico quando: A dor de cabeça é muito diferente do que costuma sentir; a dor vem muito forte de repente, como uma “pancada”; está acompanhada de outros sinais, como fraqueza, formigamento, dificuldade para falar, perda de equilíbrio ou visão dupla; a dor não melhora com os remédios que sempre funcionaram; quando a dor é frequente, ocorrendo muitos dias no mês.
Câncer e dor de cabeça
7) Dor de cabeça pode ser sinal de câncer?
R.: Sim, a dor de cabeça pode ser secundária a um câncer ou mesmo a tumores benignos. No entanto, essa não é a queixa mais comum em pacientes oncológicos e é muito menos frequente do que as cefaleias primárias. Sinais que podem indicar uma dor de cabeça secundária a um tumor:
Fraqueza em um lado do corpo;
Perda de equilíbrio ou audição;
Alterações na visão;
Dificuldade para falar;
Convulsões.
A dor nesses casos costuma ser mais intensa, mais frequente, pode piorar ao deitar-se e costuma não melhorar com remédios comuns.
8) Quais tipos de câncer podem causar dor de cabeça?
R.: • Tumores no cérebro, sejam eles primários (que nascem no cérebro) ou metástases (câncer que começou em outro órgão e foi para o cérebro).
• Câncer na região da cabeça e pescoço, como nos seios da face (sinusite crônica associada a tumor, por exemplo).
• Em casos mais raros, leucemias e linfomas também podem provocar dor de cabeça, geralmente associada a outros sintomas, como febre, cansaço extremo ou perda de peso.
9) Segundo o Google Trends, o termo ‘dor de cabeça’ é mais pesquisado nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, qual é a prevalência dos casos de câncer cerebral nestas regiões?
R.: O câncer cerebral é considerado uma doença rara em qualquer região do Brasil e do mundo. Ele representa cerca de 2% dos tumores em adultos e é um pouco mais frequente em crianças, onde chega a ser o segundo tipo de câncer mais comum na infância, depois da leucemia. Nas regiões Norte e Nordeste, a prevalência é parecida com o restante do país. Porém, nessas regiões pode haver mais dificuldade no acesso rápido ao diagnóstico e tratamento especializado, o que gera mais preocupação e buscas na internet.
10) O câncer cerebral costuma ser mais benigno ou maligno?
R.: Os tumores do sistema nervoso central podem ser benignos ou malignos. Entretanto, os tumores mais comuns são benignos. Ainda assim, tumores benignos, assim como os malignos, podem causar aumento da pressão dentro do crânio, sendo a dor de cabeça secundária ao aumento dessa pressão uma queixa comum nestas situações.
11) Quais são as perspectivas de cura e possíveis sequelas?
R.: A chance de cura varia significativamente dependendo do tipo, localização e estágio do tumor. Tumores benignos localizados podem ter cura com cirurgia. Tumores malignos podem ser controlados com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e, hoje, com terapias mais modernas, mas nem sempre são curáveis. Quando se trata de metástases no cérebro, o objetivo pode ser controle da doença e melhora da qualidade de vida. As sequelas também dependem da localização do tumor no cérebro, podendo incluir fraqueza em algum lugar do corpo, dificuldades na fala, memória ou visão, alterações de equilíbrio e convulsões. Algumas pessoas podem ter poucas ou nenhuma sequela, especialmente se o tumor estiver em áreas de menor risco.
12) Pode ocorrer metástase cerebral em pacientes com histórico de câncer?
R.: Sim, pacientes com histórico de câncer em outros órgãos (pulmão, mama, rim, intestino ou melanoma) têm maior risco de desenvolver metástases cerebrais. Isso ocorre porque as células cancerosas podem se disseminar pela corrente sanguínea e atingir outros órgãos, inclusive o cérebro.
13) Como é feito o diagnóstico e o tratamento do câncer cerebral?
R.: O diagnóstico é feito principalmente por meio de exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, além da avaliação clínica dos sintomas. Em alguns casos, é necessário realizar uma biópsia para saber exatamente o tipo do tumor.
O tratamento pode incluir: cirurgia (sempre que possível), radioterapia, quimioterapia, terapias mais modernas, como imunoterapia e radiocirurgia, dependendo do caso.
14) Existem tratamentos inovadores? Quais?
R.: Sim! A neurocirurgia tem evoluído muito. Hoje usamos:
• Neuronavegação, que funciona como um GPS do cérebro durante a cirurgia;
• Cirurgia com monitorização de áreas nobres, para preservar fala, movimento e visão;
• Radiocirurgia, que é um tipo de radioterapia super precisa, sem cortes;
• Cirurgia com fluorescência, que permite ao cirurgião enxergar melhor o tumor;
• Pesquisas avançam também em imunoterapia e terapia-alvo, dependendo do tipo de tumor.
15) Como o Hospital de Amor se destaca no Brasil no tratamento de tumores cerebrais?
R.: O Hospital de Amor se destaca pelo modelo de atendimento 100% gratuito, humanizado e com tecnologia de ponta, comparável a grandes centros do mundo. Temos neurocirurgia de alta complexidade, com neuronavegação, microscopia avançada e monitorização intraoperatória. Além de oferecermos tratamentos como radiocirurgia, radioterapia de precisão e acesso a pesquisas clínicas. Tudo isso com um olhar voltado para o acolhimento dos pacientes e suas famílias.
16) Quais são as estimativas de cura?
R.: Tumores benignos localizados podem ter uma taxa de cura acima de 90% com cirurgia. Tumores malignos primários do cérebro, como o glioblastoma, têm tratamento que busca controlar a doença e melhorar a qualidade de vida, mas nem sempre são curáveis. Já no caso de metástases cerebrais, muitos pacientes conseguem controlar bem a doença, especialmente quando o câncer de origem também está controlado. Cada caso é muito individual e depende de tipo, localização e saúde geral do paciente.
É muito importante reforçar que dor de cabeça, na imensa maioria das vezes, não significa câncer. A maior parte das dores de cabeça está ligada ao estresse, ansiedade, sono ruim ou problemas simples do dia a dia. Mas é fundamental que as pessoas não deixem de procurar um médico quando a dor for diferente, persistente ou vier acompanhada de outros sintomas, conforme já foi explicado acima. O diagnóstico precoce, seja para câncer ou qualquer outra doença, salva vidas.
Já imaginou ter que andar sobre uma ponte instável rodeada por água e manter o equilíbrio e a concentração para não cair? Ou poder visitar uma cidade ou país que deseja conhecer e andar pelas ruas sem sair do seu local de origem? Escalar o Everest por meio de uma tela?
Essa é a evolução da gamificação, que teve início na década de 1940, quando os cientistas Alan Turing e Thomas T. Goldsmith Jr. começaram a imaginar uma forma de entretenimento eletrônico para os computadores da época, utilizados para cálculos científicos. Outro visionário, o físico William Higinbotham, criou em 1958 o primeiro jogo eletrônico interativo, chamado “Tennis for Two”, em que dois jogadores podiam controlar a trajetória da bola e competir entre si em um jogo de tênis simplificado.
Mas você deve estar se perguntando: “O que videogames e games digitais, que surgiram no século passado, têm a ver com saúde?” A resposta é simples: os videogames e suas evoluções tornaram-se mais do que produtos de entretenimento. Eles passaram a integrar terapias que auxiliam no tratamento de diversas doenças, como o câncer.
Com o avanço tecnológico, o surgimento da inteligência artificial, da realidade virtual e de outras inovações agregaram muito à saúde — especialmente na reabilitação de pacientes. “Se a gente parar para pensar, a reabilitação vem passando por grandes transformações, e a tecnologia tem contribuído significativamente para melhorar a qualidade do atendimento e a atuação do terapeuta. O interessante dessas novas tecnologias é que elas fornecem parâmetros objetivos ao profissional — algo que, na reabilitação, muitas vezes, é subjetivo. Por meio da gamificação, IA e realidade virtual, é possível mensurar os resultados e proporcionar uma terapia mais eficaz e interativa ao paciente”, explica o fisiatra e coordenador médico do Centro Especializado em Reabilitação do Hospital de Amor, em Barretos (SP), Dr. Henrique Buosi.
Do obstáculo com pedras no chão à bexiga projetada na parede…
AMADEO, ARMEO, C-MILL e NIRVANA são dispositivos utilizados na reabilitação de pacientes oncológicos e não oncológicos nas unidades de Reabilitação do Hospital de Amor. Cada aparelho tem uma função específica, mas todos têm algo em comum: a gamificação! Esses dispositivos utilizam a gameterapia na reabilitação dos pacientes.
Um dos dispositivos que faz sucesso entre os pacientes do HA é o C-MILL, uma ferramenta que fornece avaliação objetiva e detalhada do equilíbrio e da marcha dos pacientes. Equipado com placa de força, realidade aumentada e realidade virtual, ele torna o processo de reabilitação mais eficiente.
Durante a sessão, o paciente interage com um game indicado para sua fase de tratamento. A partir dessa interação, é possível analisar diversos parâmetros, como explica o fisioterapeuta e coordenador da equipe multiprofissional do Centro Especializado em Reabilitação do HA, em Barretos (SP), Thiago Felício.
“O C-MILL é uma esteira interativa, cuja base é uma plataforma de força. Com ela, trabalhamos a marcha por meio de jogos que aparecem tanto na tela quanto na esteira. Cada passo do paciente é registrado, e, conforme ele supera os obstáculos do jogo, recebe feedbacks positivos ou negativos. O C-MILL permite trabalhar diversas áreas. No setor de fisioterapia, é usado para melhorar a marcha, o equilíbrio (estático e dinâmico), a descarga de peso nos membros — especialmente em casos em que os pacientes não conseguem distribuir o peso igualmente entre as pernas —, além de treinar a coordenação motora.”
Outro dispositivo bastante popular, especialmente entre as crianças, é o NIRVANA, que auxilia na reabilitação motora e cognitiva de pacientes que perderam funções em decorrência do tratamento oncológico, ou que foram diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia e deficiência intelectual.
Além disso, o NIRVANA proporciona uma experiência imersiva ao usuário, criando ambientes realistas que o ajudam a trabalhar coordenação motora, equilíbrio, destreza manual, amplitude de movimento, estímulo cognitivo e visão subnormal.
O NIRVANA é um dos recursos utilizados pelos terapeutas, que complementam a reabilitação com outras atividades lúdicas, explica Juliane Vilela Muniz, fonoaudióloga do Centro Especializado em Reabilitação do HA, em Barretos (SP). “Utilizamos diversos materiais pedagógicos e robóticos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Inicialmente, fazemos uso do NIRVANA, e, à medida que o paciente evolui, avançamos para a ‘casa de atividades da vida prática’, onde realizamos tarefas com recursos reais, como cozinhar ou lavar roupa, encerrando assim o ciclo até a alta do setor.”
Um mundo virtual por meio dos olhos
Uma experiência imersiva, interativa e tridimensional, que simula ambientes e obstáculos virtuais, melhora o humor, a disposição, mantém a capacidade física e reduz a ansiedade — tudo isso com o auxílio de óculos de realidade virtual. Essa é uma das terapias utilizadas no HA.
Pacientes que passam por transplante de medula óssea frequentemente enfrentam longos períodos de internação, tornando a reabilitação mais desafiadora. Levar leveza a esse momento é essencial, como explica Simara Cristina Pereira Silva, fisioterapeuta do setor de Transplante de Medula Óssea da unidade adulta do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
“Quando o paciente apresenta baixa adesão à fisioterapia e à terapia ocupacional devida à internação prolongada, ou possui quadro de pancitopenia persistente (anemia e baixa de plaquetas), com contraindicação à reabilitação convencional, utilizamos os óculos de realidade virtual. O paciente é imerso em um ambiente virtual que associa dupla tarefa, promovendo uma reabilitação mais dinâmica e aliviando a rotina hospitalar.”
Há pouco mais de um ano, a equipe de fisioterapia e terapia ocupacional do TMO da unidade adulta do HA sentiu a necessidade de inovar o atendimento. Desde então, mais de 30 pacientes utilizaram os óculos de realidade virtual. Com a ferramenta, é possível analisar critérios como a escala de fadiga, permitindo que a equipe multidisciplinar ajuste as atividades e, se necessário, aumente o nível na próxima sessão com os óculos VR.
Realidade virtual no tratamento do câncer infantojuvenil
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa de novos casos de câncer infantojuvenil no Brasil, para cada ano do triênio 2023–2025, é de 7.930 casos. O Hospital de Amor Infantojuvenil diagnostica, aproximadamente, 300 novos casos por ano.
Oferecer tratamento humanizado e de qualidade é rotina no Hospital de Amor, principalmente porque é comum o aumento da ansiedade antes e durante procedimentos médicos — especialmente em crianças e adolescentes. Para proporcionar mais conforto a esses pacientes, o HA Infantojuvenil firmou uma parceria com o estúdio Goblin, sob a liderança do médico cirurgião pediátrico Dr. Wilson Oliveira Junior, para desenvolver o projeto “O Chamado do Herói”.
Segundo o médico, crianças com câncer, por passarem por inúmeros procedimentos invasivos que exigem anestesia, tendem a apresentar níveis de ansiedade elevados. Sabe-se que atividades lúdicas ajudam a criança a compreender os procedimentos a que será submetida, auxiliando-a no processamento de emoções e preocupações de forma mais acessível e menos assustadora.
“’O Chamado do Herói’ tem como objetivo transformar a criança na protagonista da própria aventura. Ao ser submetida a um procedimento desconfortável, ela é transportada para um mundo de fantasia 3D, por meio dos óculos VR. A união entre realidade virtual e elementos táteis proporciona uma experiência imersiva, ajudando a reduzir os níveis de estresse e ansiedade relacionados à doença e ao tratamento. Como consequência, também beneficia o círculo familiar mais próximo”, destaca o médico cirurgião do HA Infantojuvenil.
Você sabia que as bactérias nos protegem de algumas doenças graves, como o câncer, a obesidade e doenças autoimunes? Nós convivemos com bactérias desde quando nascemos. De maneira geral, elas são extremamente importantes para a saúde humana e estão presentes em todo o nosso corpo, mas existem outras que podem ser muito prejudiciais.
Maio é um mês importante para a higiene e o controle de infecções, isso porque no dia 5 de maio é celebrado o Dia Mundial da Higiene das Mãos, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância dessa prática como uma medida essencial de saúde pública. Já no dia 15 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares, instituído pela Lei Federal nº 11.723/2008. O objetivo dessa data é conscientizar sobre a importância do controle das infecções para toda a sociedade.
De acordo com a Anvisa, “a higienização das mãos (HM) é reconhecida mundialmente como uma medida primária, mas muito importante no controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Por esse motivo, tem sido considerada como um dos pilares da prevenção de infecções nos serviços de saúde”.
Pensando na importância deste tema para a sociedade, o Hospital de Amor convidou o médico infectologista do HA, Dr. Paulo de Tarso Oliveira e Castro, para responder algumas dúvidas sobre a importância da higiene das mãos.
Porque convivemos com bactérias fora e dentro do hospital. Nosso corpo abriga bactérias que, na maioria das vezes, fazem bem à saúde.
Nós temos dois tipos de bactérias:
Para evitar a contaminação de ferimentos ou a proliferação de vírus e bactérias, é essencial manter a higienização das mãos. Por isso, é importante adotar bons hábitos, como: lavar as mãos antes de se alimentar; após usar o banheiro; ao tocar em secreções como urina, saliva, sangue, etc; ao manusear dinheiro em papel; ao ter contato com pessoas que estão resfriadas; entre outras ocasiões, como maçanetas e corrimões que várias pessoas tocam com as mãos contaminadas.
Contudo, a importância da higiene das mãos começa no dia a dia, para evitar possíveis infecções.
As bactérias presentes em ambientes hospitalares são diferentes das que encontramos fora. Dentro do hospital, muitas bactérias podem causar doenças e são frequentemente expostas a antibióticos, o que favorece o desenvolvimento de resistência, dificultando o tratamento.
Durante procedimentos como colocação de cateteres, coleta de sangue ou inserção de sondas, há risco de introdução dessas bactérias, o que pode causar o que conhecemos como infecções hospitalares. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde façam a higienização das mãos corretamente e nos momentos adequados, evitando a transmissão de infecções relacionadas à assistência.
Os pacientes oncológicos, especialmente os que estão em tratamento com quimioterapia, têm o sistema imunológico comprometido. A medicação afeta tanto células malignas quanto as saudáveis, resultando em queda da imunidade.
Com isso, é comum que apresentem feridas na boca e no intestino, por onde as bactérias podem entrar na corrente sanguínea e causar infecções.
No Hospital de Amor, os pacientes de maior risco são os da hematologia, da UTI e os que passaram por transplante de medula óssea. Nessas áreas, ocorrem as infecções mais graves, exigindo cuidados redobrados.
Os profissionais de saúde têm contato direto com o paciente e, em todo lugar, dentro do hospital, há bactérias. Sempre que há contato físico ou manuseio de dispositivos (sondas e cateteres) médicos, pode haver contaminação. Por isso, é necessário higienizar corretamente as mãos.
De acordo com o Organização Mundial da Saúde, é necessário higienizar as mãos:
Hoje, nós temos definido pela Organização Mundial da Saúde cinco momentos importantes para fazermos a higiene das mãos. Em 90% das vezes, recomenda-se o uso de álcool em gel. Já água e sabão são indicados em cerca de 10% das situações, especialmente quando há sujeira visível nas mãos.
O álcool em gel é melhor do que a água e sabão porque, ele mata mais bactérias, e de forma mais rápida. Para fazer a higiene das mãos com álcool em gel, a profissional gasta em torno de 30 segundos, já com água e sabão, ele levará de dois a três minutos para fazer a limpeza de forma correta.
Além disso, o uso excessivo de água e sabão pode remover a camada protetora da pele, causando ressecamento, inflamações e pequenas lesões, que facilitam a entrada de bactérias.
Felizmente, aqui no Hospital de Amor, nós utilizamos mais o álcool em gel. No HA, o uso do álcool em gel é monitorado, assim como a quantidade de produto utilizado, garantindo a segurança de pacientes e profissionais. Também são feitas estimativas com base nos números de infecções hospitalares.
Sabemos que infecções hospitalares têm múltiplas causas, e a higienização das mãos é apenas uma das medidas. Por isso, é necessário seguir uma série de medidas protetivas para não colocar o paciente e o profissional em risco.
Contudo, um dos indicadores para medirmos o nível de higiene dentro do ambiente hospitalar, é pela transmissão de bactérias. Então, se identificamos uma determinada bactéria em um paciente e, depois de um tempo, identificamos em outro, e assim sucessivamente, é porque essas bactérias estão sendo transmitidas.
Quando os profissionais fazem a admissão no hospital, eles realizam uma integração e são treinados. Eles não fazem apenas um treinamento sobre a importância da higiene das mãos, mas também, de boas práticas para evitar as infecções, de uma maneira geral. Para reforçarmos ainda mais essa importância, é necessário que todos estejam engajados, pois não é fácil lembrar de todos os momentos adequados para higienização. Por isso, é importante que um profissional lembre ou alerte o outro.
Além disso, para que o profissional tenha condições de fazer a higienização das mãos, é muito importante que o estabelecimento forneça condições adequadas para ele. Então, é necessário um álcool em gel de boa qualidade e que esteja disponível facilmente; um sabonete de boa qualidade; uma pia próxima ao atendimento do paciente; um papel toalha que seja bom; e outros tipos de insumo que são importantes para o atendimento ao paciente.
Os pacientes, por estarem em situação de vulnerabilidade, muitas vezes sentem-se inseguros ao pedir que um profissional higienize as mãos.
Por isso, é importante envolvê-los, junto com os familiares, nesse cuidado. Para isso, são utilizadas as seguintes estratégias: cartazes que chamem a atenção; disponibilização do álcool em gel; e orientações antes das visitas.
Além disso, acompanhantes com sintomas de doenças transmissíveis são orientados a evitar a visita ao hospital, prevenindo riscos aos pacientes.
Na minha opinião, o principal aprendizado da pandemia de COVID-19 foi perceber que não estamos preparados para enfrentar outra situação dessa magnitude.
Atualmente, estamos enfrentando uma epidemia de influenza, a gripe. Estamos tendo caso de pacientes internados com gripe; casos de óbitos e, em outros casos, pacientes indo para ventilação mecânica; e quando vamos ver, esses pacientes não foram vacinados, apesar da campanha realizada pelo Ministério da Saúde. O objetivo era vacinar 90% da população em risco, que inclui os pacientes com câncer, talvez a gente não tenha vacinado 60%.
Infelizmente, a COVID-19 deixou pouco legado para as pessoas, em termos de prevenção, higienização e consciência sobre os riscos de transmissão. Os hospitais também não estão preparados, se tivermos outra pandemia, vai ser um caos novamente.
Então, infelizmente, não acredito que a pandemia da COVID-19 tenha deixado um legado duradouro e positivo nesse aspecto.
Na unidade Infantojuvenil do Hospital de Amor, a conscientização sobre a importância da higienização das mãos, com álcool em gel e sabão (nos momentos apropriados), aconteceu por meio de brincadeiras e dinâmicas. Influenciada pelo Aliança Amarte – projeto idealizado pelo Hospital de Amor junto ao St. Jude Children´s Research Hospital – a médica infectologista do HA Infantojuvenil, em Barretos (SP), Dra. Seila Prado, desenvolveu, junto à equipe multidisciplinar da instituição e ao Instituto Sociocultural do HA, ações lúdicas para trabalhar essa atividade com os pacientes e acompanhantes.
Envolver os pacientes e seus familiares no processo de educação é uma estratégia que vem ganhando reconhecimento nos últimos anos. De acordo com a Dra. Seila Prado, “ao convidarmos as crianças para participarem da campanha da higienização das mãos, esperamos que elas estimulem os profissionais de saúde a higienizarem cada vez mais as mãos, para que assim consigamos reduzir as taxas de infecção relacionadas à assistência à saúde”, relata ela.
Na ocasião, o professor da oficina de desenho do Instituto Sociocultural, Bruno Freire, foi convidado a desenvolver um livro sobre a higiene das mãos para os pacientes e acompanhantes. Intitulado Clube das Mãos Limpas, o livro traz desenhos para colorir, caça-palavras e outras brincadeiras educativas. Essa atividade foi viabilizada pela Lei Rouanet – PRONAC e desenvolvida pelo Ministério da Cultura e pelo Instituto Sociocultural do Hospital de Amor.
Para o professor de desenho, contribuir com esse projeto foi uma oportunidade incrível. “No começo, fiquei pensando como iria ser essa história e como eu iria criá-la, mas acho que o resultado ficou bem satisfatório. As crianças têm essa consciência de questionar, às vezes até o próprio médico, se ele está com as mãos limpas e, depois desse trabalho, comecei a levar essa informação para as crianças durante as aulas, que é algo muito importante mesmo”, destacou o professor de desenho.
Além disso, também foi desenvolvido um concurso de desenho com o tema “Higiene das Mãos”. Os participantes foram divididos em três categorias:
A escolha das crianças vencedoras foi feita por meio de votação dos colaboradores do HA. E, para deixar essa atividade ainda mais especial, os desenhos mais votados receberam presentes especiais como forma de reconhecimento e incentivo.
Assim, todos entendemos que a maneira mais importante para prevenirmos infecções hospitalares ou a transmissão de vírus é começando pela medida mais simples: higienizando as mãos.
Venezuela, Goiás e São Paulo — mais de três mil quilômetros de distância somados. Ashley García, Anna Cristina Nogueira e Vitória Vilela se encontraram em um único lugar, com um único objetivo: ter acesso a um tratamento médico de qualidade, digno e humanizado.
Do país mega diverso e da fauna variada (Venezuela), para o país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza (Brasil)…
Natural de Maturin (VE), Ashley Carolina Garcia tem 11 anos, mas está no Brasil desde os sete anos. Impossibilitada de fazer um transplante de medula óssea em seu país, Greimarys Garcia (29), sua mãe, procurou seus familiares no Brasil e, juntas, elas embarcaram atrás de um tratamento adequado e digno para Ashley.
Tudo começou quando, aos três anos, a mãe notou manchas roxas pelo corpo da filha. Com o passar dos anos, suas plaquetas começaram a cair. Ao procurar um hematologista, o médico afirmou que ela estava bem, já que não havia outros sintomas. Porém, em 2021, aos sete anos, os níveis de plaquetas caíram drasticamente, afetando a hemoglobina e os glóbulos brancos. Diante disso, foi solicitado um exame de medula óssea para investigar uma possível leucemia. O diagnóstico: mielodisplasia.
Ashley iniciou o tratamento, mas não obteve resposta. Após cada ciclo de três meses, ela recaía e seu estado de saúde se agravava.
A Venezuela é um país que não possui programas de saúde para a população, ou seja, todo processo é pago. Por isso, a mãe de Ashley começou a trabalhar duas vezes mais para comprar as medicações que a sua filha precisaria durante o tratamento, além das consultas médicas. Após diversas tentativas de tratamento – e algumas adversidades ao longo desses período – o médico aconselhou Greimarys a procurar ajuda em outro país, caso contrário, sua filha poderia falecer. Neste momento, Grei entrou em contato com os seus familiares de Roraima e pediu ajuda a eles.
Ao chegar no Brasil, Grei e Ashley foram até o posto de saúde de Boa Vista (RR) e, posteriormente, foram encaminhadas ao hospital infantil do município. Após três meses sem tratamento efetivo, Ashley foi internada para avaliar a resposta da medula a um novo protocolo, mas, infelizmente, também foi ineficaz. A médica responsável então confirmou a necessidade de transplante de medula óssea.
“Nessa consulta, a profissional solicitou novamente o exame aspirado da medula e uma biópsia. Com a confirmação da mielodisplasia, ela explicou que Roraima não tinha estrutura para o transplante. Então, fomos encaminhadas para Brasília, onde passamos quatro meses tentando um tipo de quimioterapia. Como os resultados não eram satisfatórios, perguntaram se Ashley tinha irmãos ou se o pai poderia vir ao Brasil para fazer o teste de compatibilidade. Como não havia essa possibilidade, fomos inscritas no banco de doadores”, relembra Grei.
Felizmente, encontraram um doador 100% compatível. Contudo, o procedimento não poderia ser feito em Brasília. Assim, mãe e filha foram encaminhadas à unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Ao chegar ao Hospital de Amor, Ashley realizou o transplante de medula óssea. No entanto, o cenário não melhorou imediatamente. Infelizmente, ela enfrentou diversas complicações e precisou ser internada várias vezes, chegando a pesar apenas 21 kg. Ashley teve problemas no fígado, no intestino, contraiu COVID-19 e outros vírus devido à baixa imunidade. Além disso, sofreu infecções e passou muito mal após o procedimento. Sua mãe relata que o processo foi extremamente difícil. “Ela vivia internada no hospital… Passou por muitas coisas. Depois do transplante, percebi que algo estava estranho. No início, achamos que era por causa da transfusão, mas ela dormia demais. Foi solicitada uma tomografia, que confirmou toxoplasmose na cabeça”, desabafa Grei.
E, mesmo em tempos difíceis, coisas maravilhosas podem acontecer. Durante o tratamento, Ashley conheceu Raílla Coelho, também paciente infantojuvenil do Hospital de Amor e que, assim como ela, precisou de um transplante de medula óssea e, logo, elas tornaram-se inseparáveis.
Essa amizade foi além das paredes do hospital. Juntas, participaram da 4ª edição do Concurso Rainha do Rodeio Pela Vida. “Ashley não esperava ganhar, e eu, como mãe, também não. Autorizei que ela participasse apenas para apoiar sua amiga, porque elas viveram momentos muito difíceis. Raílla quase faleceu e isso deixou a Ashley – e todos nós [familiares e amigos] – muito triste”, relembra Grei Garcia.
Durante os ensaios e no grande dia do evento, Ashley ensinou para todos que a acompanharam que o amor, a amizade e o cuidado fazem a diferença na vida das pessoas. Na noite do desfile, para acompanhar e dar suporte a Raílla, Ashley desfilou de mãos dadas com a amiga.
Hoje, Ashley segue o tratamento com imunossupressores, e sua previsão de alta é para agosto de 2025. Para ela, representar o Hospital de Amor na 5ª edição do Rodeio Pela Vida é motivo de orgulho e gratidão.
“Graças ao Hospital de Amor — e a Deus — minha filha está curada”, diz Grei, emocionada.
*O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro.
Com mais de 5,5 milhões de doadores cadastrados, o REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais de 125 mil novos doadores no cadastro do REDOME.
Fonte: REDOME.
Da Venezuela ao local dos maiores produtores de soja do Brasil…
Natural de Rio Verde (GO), Anna Cristina Nogueira, de 14 anos, sempre foi uma menina alegre, carinhosa e muito apegada à mãe. Mas, aos 13 anos, sua vida mudou com o diagnóstico de câncer.
Tudo começou com dores no joelho e uma leve dificuldade para andar. Como fazia musculação na época, Anna acreditava que se tratava de uma dor muscular, causada pelos treinos. Com o tempo, as dores aumentaram e o joelho começou a inchar. A mãe a levou ao médico, que inicialmente diagnosticou como “dor do crescimento”.
Sem melhora, a família buscou uma consulta particular com um ortopedista. Após ouvir o relato, o médico solicitou um raio-X. O resultado o deixou preocupado, então, ele pediu uma tomografia para confirmação. Ao receber os exames, o profissional comunicou que ela estava com um tumor no joelho, e ofereceu duas opções de tratamento: Barretos (SP) ou Jales (SP).
Sem saber o que significa a palavra ‘tumor’, Anna fez um post no seu Instagram – para os amigos mais próximos – dizendo: “Estou com um tumor no joelho, o que é isso?”. Curiosa e preocupada, procurou a resposta no Google. Foi aí que a ficha caiu. O impacto da descoberta a deixou muito abalada.
Mesmo assim, não ficou sozinha. Contou com o apoio fundamental da melhor amiga, Gabriele de Oliveira, e da família. Ela relembra que a amiga foi um anjo na sua vida, “ela que me dá força para aguentar tudo isso, toda vez que eu volto para Rio Verde (GO), ela vai na minha casa”, relata, Anna.
Para a mãe – que não pôde estar na consulta porque estava trabalhando – a notícia também foi devastadora. “Quando minha mãe me falou que poderia ser osteossarcoma, eu estava trabalhando, dentro da indústria. Naquela hora, o chão se abriu. Entrei em desespero. Meu marido me viu chorando e veio correndo. Procurei no Google o que era, e foi um momento desesperador”, relembra a mãe da Anna, Kely Nogueira.
Kely ainda faz uma crítica sobre a forma como o câncer é retratado no cinema. “Nos filmes, quase nunca mostram finais felizes para quem tem câncer. Os relatos de cura são poucos. Quando recebi o diagnóstico, pensei: vou lutar com todas as minhas forças. Deus me deu minha filha, e Ele não vai levá-la agora”, desabafou ela.
Receber o diagnóstico de câncer é algo muito difícil, não só para o paciente, mas para toda a família. Explicar para uma criança os próximos passos dessa trajetória requer muita sabedoria, força e amor. Em outubro de 2024, Anna Cristina chegou à unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, localizada em Barretos (SP).
Na primeira consulta, os profissionais do HA refizeram os exames e explicaram as possibilidades de tratamento. Também a alertaram que, se a resposta à quimioterapia não fosse satisfatória, a amputação poderia ser necessária. Após sete sessões de quimioterapia, veio a notícia mais temida: seria preciso amputar a perna. Ao relembrar desse momento, ela diz que foi um momento muito difícil, pois ela e sua mãe choraram muito ao assinar o documento de autorização. “Para uma menina de 13 anos, amputar a perna não é fácil. […] No começo, fiquei com raiva, mas também fiquei feliz, porque eu iria continuar viva. Foi difícil, mas hoje agradeço. Estou muito melhor sem a minha perna”, afirma Anna, com uma maturidade surpreendente.
Com o diagnostico oncológico, muitos aspectos de sua vida mudaram, entre eles, a sua profissão dos sonhos. Hoje, ela sonha em ser enfermeira para ajudar as pessoas que estão passando por momentos difíceis. “O Hospital de Amor faz jus ao nome, né? Lembro de uma postagem nas redes sociais que dizia: com amor tudo fica mais fácil. Com o amor da minha família, dos amigos e do HA, tudo ficou mais leve. Ter pessoas ao seu lado o tempo todo é muito acolhedor”, destacou a paciente.
Hoje, Anna já é uma inspiração para outras crianças e adolescentes que passam pela mesma situação. E, sem saber, já exerce o papel de ajudar o próximo com sua força e exemplo. Com sua participação no Concurso Rainha do Rodeio Pela Vida, ela provou que sonhos podem ser adaptados, mas não precisam ser deixados para trás.
Durante os ensaios, se divertiu, fez novas amizades, viveu experiências incríveis no salão de beleza e brilhou na passarela.
Junto de outras sete pacientes, Anna representou o Hospital de Amor com graça, leveza e coragem. Agora, carrega o título de Princesa do Amor no 5º Rodeio Pela Vida.
Dos maiores produtores de soja do Brasil para o interior paulista…
Natural de José Bonifácio (SP), Vitória de Souza, de 14 anos, começou o seu tratamento oncológico bem nova. Aos 8 meses de idade, ela apresentava febre constante — principalmente à noite — e não ganhava peso. Durante as trocas de fralda, sua mãe, Mércia Vilela, percebeu algo anormal na genitália da filha.
Preocupada, ela levou Vitória ao médico. Inicialmente, os profissionais garantiram que estava tudo dentro da normalidade. Mas, com o passar do tempo, o inchaço no local aumentou e uma anomalia se formou. Um novo exame foi solicitado, desta vez, uma ultrassonografia. O resultado foi: um tumor no colo do útero, em estágio avançado, que já atingia a bexiga.
No mesmo dia, Vitória foi encaminhada a unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, localizada em Barretos (SP), onde foi atendida pela equipe infantojuvenil, sob os cuidados das médicas Dra. Erica Boldrini e Dra. Bruna, para dar início ao tratamento.
Foram dois anos de quimioterapia e radioterapia, marcados por muitas internações e reações intensas aos medicamentos. Ao receber alta, a sua mãe não esperava – e nem a Vitória –que iria retornar à instituição 12 anos depois.
Aos 14 anos, Vitória começou a fazer tratamento com hormônios. Logo em seguida, passou a sentir fortes dores na perna esquerda, que dificultavam sua locomoção. O diagnóstico confirmou o pior: o câncer havia voltado, desta vez, nos ossos.
“Saber que o meu câncer voltou depois de 12 anos foi muito difícil. Para mim, o meu cabelo e as minhas unhas são muito importantes. Eu sabia que meu cabelo cairia e minhas unhas ficariam fracas. Na primeira quimioterapia, fiquei internada por 12 dias seguidos e precisei cortar tudo de uma vez”, desabafou a pequena.
Atualmente, ela continua o tratamento no Hospital de Amor, acompanhada de perto pela equipe médica. Para Mércia, esta nova etapa tem sido ainda mais desafiadora: “Dessa vez está sendo mais doloroso. Agora ela está mais velha, é muito vaidosa… então está sendo complicado. Mas, graças a Deus, o tratamento está funcionando e ela está reagindo bem.”
Como forma de distração, Mércia autorizou a participação da filha na 4ª edição do Concurso Rainha Rodeio Pela Vida. Apesar da timidez e da falta de experiência na passarela, Vitória ficou em terceiro lugar e conquistou o título de Madrinha do Amor, tornando-se uma das representantes oficiais da instituição no 5º Rodeio Pela Vida.
Ao ser questionada sobre experiência no concurso Rainha Rodeio Pela Vida, ela comenta que foi muito legal. “Eu nunca tinha desfilado, e sou muito tímida, tenho vergonha de falar em público. Mas assim que pisei no palco, o medo passou. A energia das pessoas torcendo por nós foi muito forte. Foi muito legal. Estou muito feliz por representar o Hospital de Amor no 5º Rodeio Pela Vida”, disse Vitória.
Rodeio Pela Vida
O Hospital de Amor – referência em oncologia, que acolhe pacientes de todo o país – realizará, entre os dias 5 e 7 de junho, a 5ª edição do “Rodeio pela Vida”, na cidade de Barretos (SP). O evento, que acontece no Recinto Paulo de Lima Corrêa em prol do HA, contará com atrações musicais, rodeio em touro e cavalo (sela americana, bareback e cutiano), breakaway roping e Três Tambores.
Priorizando a qualidade do rodeio, a comissão organizadora firmou parceria com a ACR – Associação dos Campeões de Rodeio – para a seleção dos competidores do rodeio em touro, enquanto a ProHorse será a responsável pela organização do rodeio em cavalos. Nas provas cronometradas, a modalidade Três Tambores será em parceria com a ANTT – Associação Nacional dos Três Tambores.
Além das provas, o evento contará com o apoio de cantores parceiros da instituição. No primeiro dia, Murilo Huff fará o primeiro show da 5ª edição. Já no segundo dia, as apresentações ficarão por conta do grupo Traia Véia e da dupla Bruninho & Davi. Por fim, no último dia, para encerrar a festa com chave de ouro, Felipe Araújo finaliza as atrações musicais desta ação solidária. Acesse o site e compre seu ingresso.
“Você não é todo mundo”, “Leva o guarda-chuva, vai chover”, “Se eu for aí e achar…”. Provavelmente, você já ouviu algumas dessas frases ditas por sua mãe, não é mesmo? Existe um ditado que diz que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Mas uma coisa é indiscutível: o amor de mãe é um dos mais bonitos que existe.
Nesta semana especial em que celebramos o Dia das Mães, convidamos você a conhecer Maria Aparecida Rosini, de 67 anos — que já carrega o nome de uma das mães mais conhecidas e amadas do mundo. Para os cristãos, Maria é mãe do salvador da humanidade, Jesus. Talvez ela seja uma das representações mais lindas de como o amor de mãe enfrenta desafios, desenvolve coragem inimaginável, se anula por um filho e, mesmo na dor, jamais abandona.
Em 2005, aos 11 anos, Edleine Rosini, filha de Maria Aparecida, era uma menina como tantas outras. Gostava de brincar e dançava balé com muita alegria, até que um salto diferente denunciou que algo estava errado. “Senti muita dor na perna. Minha mãe logo percebeu e decidiu me levar ao médico em Porto Ferreira (SP). Fui encaminhada para São Carlos, também no interior paulista, onde conheci o médico que me encaminhou ao Hospital de Amor, em Barretos”, relembra Edleine, hoje com 32 anos.
O diagnóstico foi avassalador: um sarcoma de Ewing (um tipo raro e agressivo de câncer ósseo). A partir dali, a vida da menina e de toda a família mudaria para sempre.
“Eu recebi o diagnóstico de um tumor maligno. No outro dia, já passei com a psicóloga, a querida Tia Lu. Algo que vejo de maneira positiva é que minha mãe nunca me escondeu nada. Mas, no fundo, eu sabia que era grave”, conta a educadora física e instrutora de pilates. A consciência da gravidade vinha mais do olhar de quem a amava do que das palavras. “Via minha irmã chorar, minha mãe, minha tia, então eu sabia que o câncer era grave, mas acho que nunca encarei como algo impossível.”
O que mais a marcou naquele período foi o cuidado da mãe: “Ela sempre me vestia de rosa. Eu era a ‘Pantera Cor-de-Rosa’ da pediatria, pois carregava comigo a pelúcia do personagem para todos os lados, além de ser conhecida como a ‘bailarina’ do hospital”, conta ela com um sorriso.
Para Maria Aparecida, o início foi um choque: “O médico começou a falar palavras que eu nunca tinha ouvido. Quando ele disse ‘tumor maligno’, eu desmaiei na hora. Mas ele me falou: ‘Sua filha tem chance porque você correu atrás rápido’. Quando eu desmaiei de novo, ele disse: ‘Como eu vou te levantar do chão assim, mãe?’”. Hoje, Maria consegue rir da situação, mas imagine o desespero de uma mãe ouvindo que sua filha de apenas 11 anos estava com um câncer maligno. Não foi nada fácil.
A partir daquele momento, Maria decidiu colocar sua filha nas mãos de Deus. E foi nesse ato de fé que encontrou força para continuar. “Recebi uma ligação da Déborinha (primeira enfermeira da Pediatria do HA), que chamo de meu anjinho. Aquilo me fortaleceu”, conta. Quando a pequena paciente soube do diagnóstico, disse à médica: “Eu sei que é um tumor, mas não sei o que é”. A psicóloga então a levou para conversar em sua sala. Maria lembra: “Queria que aquele dia nunca tivesse existido. A médica disse que o tratamento seria longo e doloroso, cerca de um ano. Foi quando eu declarei: ‘Minha filha está nas mãos de Deus’. E a gente começou a batalha na segunda-feira.”
As primeiras sessões de quimioterapia foram duríssimas. “Ela vomitou muito. Lembro que me ajoelhei no chão e falei: ‘Deus, está começando o sofrimento da minha filha, mas oro pela cura dela’”, conta Maria. A cada passo, a mãe estava ali. Firme, mesmo quando chorava escondida. “Enfrentei tudo de cabeça erguida, chorava bem longe da Edleine, pois não queria que ela visse minhas lágrimas”, relata Maria com os olhos marejados. No fundo, é algo que toda mãe faz. Muitas vezes, seu amor nem é visto, apenas sentido. Mas sempre está ali.
Para Edleine, apesar da dor, havia leveza. A menina “coloria” os corredores do hospital com seu jeito divertido e sua pantera rosa de pelúcia, presente do pai. Tudo com muito rosa, pois se a vida trazia tempestade, o amor trazia cor.
Por trás do sorriso, havia momentos de risco real. “Na primeira parte da primeira sessão, passei muito mal. Tive uma parada respiratória”, relata Edleine. Sua mãe completa, com a voz embargada: “Vi minha filha morrendo na cama. Segurei a mão dela, me ajoelhei no chão do quarto e disse a Deus: ‘Pai, o que posso prometer para que o Senhor a salve e deixe comigo?’”.
Naquele instante, uma voluntária da AVCC (Associação Voluntária de Combate ao Câncer), toda vestida de rosa, entrou no quarto. “Quando a vi, fiz um voto com Deus: ‘Senhor, se minha filha for poupada, serei voluntária enquanto tiver forças’.” Edleine saiu daquela situação e se recuperou. “A partir dali, eu tinha uma nova missão”, diz Maria.
Ela cumpriu seu voto: começou a atuar como voluntária em 2005, na AVCC em Barretos. Hoje, aos 67 anos, Maria ainda percorre cerca de 400 km (ida e volta), duas vezes por semana, ajudando pacientes. Ela também cooperou na fundação da Casa de Apoio de Porto Ferreira em Barretos.
Depois de longas sessões de quimioterapia, Edleine estava curada. O pesadelo iniciado com aquele salto no balé havia terminado. O sofrimento foi vencido com lágrimas, fé e muito amor.
Em 2023, um novo diagnóstico: câncer do colo do útero, causado pelo HPV. Após dificuldades para iniciar o tratamento, a fé novamente interveio. A irmã de Edleine encontrou Henrique Prata, presidente do Hospital de Amor, e explicou a situação. Ele reconheceu a “bailarina” de rosa, e o tratamento começou.
Edleine deu início ao seu tratamento no Hospital de Amor, onde ela recebeu pela segunda vez na vida a notícia de que não havia mais câncer em seu corpo.
Hoje, casada com Kelvin Souza, de 33 anos — o mesmo que, quando criança, a visitava e orava por ela — Edleine compartilha sua história nas redes sociais e ajuda outras mulheres a se prevenirem.
Em fevereiro deste ano, ela começou a sentir fortes dores. Os exames mostraram linfonodos aumentados e um novo diagnóstico: câncer de peritônio.
“Quando soube que minha filha estava com câncer pela terceira vez, eu sumi. Chorei muito, mas falei para Deus: ‘Senhor, entrego minha filha em suas mãos pela segunda vez’”, diz Maria, com lágrimas nos olhos, beijando a cabeça da filha, agora careca pelo tratamento.
Edleine hoje realiza sessões de quimio e imunoterapia em Ribeirão Preto, acompanhada pelo Hospital de Amor.
Ao ser questionada sobre quem é Maria, Edleine sorri e responde: “Ela é meu orgulho. Nunca desanima. Mesmo com dificuldades, está sempre alegre. É meu porto seguro. É meu amor.”
Essa mãe e filha seguem enfrentando a vida com fé, amor e gratidão. “Tudo o que vivi me fez mais forte”, diz Edleine.
Feliz Dia das Mães a todas as Marias que estão sempre ao lado de seus filhos, mostrando que onde há o verdadeiro amor, o medo é lançado fora!
Receber o diagnóstico de câncer é um duro golpe para quase todos os pacientes oncológicos, pois, normalmente, a doença traz consigo desafios com o seu tratamento, como a necessidade de realizar cirurgia, quimioterapia, radioterapia e outros fatores de acordo com o procedimento necessário.
Inevitavelmente, a situação obriga o paciente, bem como a sua família, a pausar ou mudar muitos sonhos planejados. Ocorre que esta mudança pode trazer um turbilhão de sentimentos, que, se não observados e cuidados, podem acarretar o desenvolvimento de uma depressão.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país da América Latina com maior prevalência de depressão e o quinto país mais depressivo do mundo. É fato que a pandemia de COVID-19 foi responsável por aumentar os casos de depressão e ansiedade em mais de 25% em todo o mundo.
Para abordar sobre este tema tão delicado, a coordenadora do departamento de psicologia do Hospital de Amor, em Barretos (SP), Jennifer Koller, respondeu algumas perguntas. Confira abaixo:
1) O que é depressão?
R.: A depressão é um transtorno de humor que pode variar em intensidade, sendo classificada como leve, moderada ou grave. Sua causa exata não é completamente conhecida, mas acredita-se que seja resultado de uma combinação de fatores. Aspectos genéticos e ambientais desempenham um papel importante no desenvolvimento da doença. A hereditariedade, em particular, tem grande influência, embora seja menos significativa em casos de depressão que se manifestam na terceira idade. Além disso, mudanças nos níveis de neurotransmissores e desequilíbrios hormonais também estão frequentemente associados à doença. Fatores psicossociais, como separações, desemprego ou situações de vulnerabilidade social, também podem contribuir para o surgimento da depressão.
2) Quais são os malefícios que ela pode causar às pessoas?
R.: A depressão pode ser extremamente incapacitante, prejudicando vários aspectos da vida de uma pessoa. Ela pode afetar negativamente tanto a saúde mental, física e social, além de reduzir a qualidade de vida. Em casos graves, a depressão pode levar ao suicídio.
3) Depressão pode causar câncer?
R.: Embora a depressão seja uma condição séria que afeta a saúde mental, não há evidências científicas que provem que ela cause câncer. O câncer se desenvolve devido às mutações celulares que permitem o crescimento descontrolado de tumores, um processo que não está relacionado diretamente à depressão. Assim, não existe nenhuma correlação evidenciada dessas duas doenças.
4) Como o câncer pode levar o paciente oncológico à depressão?
R.: O diagnóstico de câncer traz uma série de desafios, como o impacto psicológico do tratamento, as mudanças na qualidade de vida e o estigma da doença. Esses fatores podem, em algumas pessoas, desencadear ou agravar os sintomas da depressão. A prevalência de depressão em pacientes com câncer pode variar, dependendo do tipo e estágio da doença, além de condições de saúde preexistentes e do contexto social e cultural do paciente.
5) Qual é a prevalência da depressão em pacientes oncológicos?
R.: Ansiedade e depressão são transtornos mais recorrentes em pacientes com câncer. Por um lado, é importante destacar que nem todos os pacientes com câncer apresentam depressão, pois inferir isso de maneira generalizada pode reforçar estigmas que não contribuem para o enfrentamento funcional oncológico ou em saúde mental. Por outro lado, o risco de o paciente oncológico desenvolver esse transtorno é duas a quatro vezes maior em comparação com a população geral – a incidência é alta e por vezes subdiagnosticada. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde realizem uma avaliação contínua da saúde mental durante o tratamento oncológico.
6) Quais são os sintomas da depressão?
R.: De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a depressão é caracterizada por sintomas persistentes por, pelo menos, duas semanas. Pelo menos cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes: tristeza profunda ou irritabilidade, perda de interesse ou prazer em atividades, alterações no apetite ou no sono, fadiga, sentimento de culpa ou inutilidade, dificuldade de concentração, pensamentos suicidas ou morte, além de nervosismo e ansiedade.
7) Como a família pode ajudar a identificar a doença?
R.: A família tem um papel essencial no cuidado de pessoas com depressão, tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Deve-se atentar as mudanças no comportamento e/ou reações emocionais incomuns do indivíduo e persistentes. A família pode oferecer escuta, apoio sem julgamento e encorajar a busca por ajuda profissional. É importante evitar minimizar o sofrimento da pessoa e manter um diálogo aberto sobre seus sentimentos, além de participar do tratamento. Também é importante que o familiar ou cuidador se inclua nestes cuidados, se preciso, com suporte de um profissional.
8) Como a depressão pode piorar o tratamento oncológico?
R.: Estudos demonstram que a depressão pode prejudicar a adesão ao tratamento do câncer e levar a um pior prognóstico, especialmente se não tratada adequadamente com devido suporte profissional. O impacto da depressão não se limita aos aspectos emocionais, mas também afeta o bem-estar físico e social do paciente. Além disso, é importante distinguir a depressão de reações emocionais esperadas, como a fase de ajustamento e assimilação ao adoecimento, os ajustamentos de papéis familiares, o luto antecipatório, que podem ocorrer durante o tratamento.
9) Quais conselhos você daria para o paciente/familiar que identificar os sinais de início depressão?
R.: Oscilações de humor são consideradas normais na experiência humana, porém, quando percebemos a persistência dessas alterações e se estão causando prejuízos, tanto emocionais quanto comportamentais, devemos abordar o paciente a buscar ajuda profissional para uma avaliação completa. O Hospital de Amor tem portas abertas para o paciente ou familiar procurar a assistência do profissional da saúde mental.
10) Caso a doença não seja diagnosticada/tratada, quais os riscos os pacientes sofrem?
R.: Quando não tratada adequadamente, a depressão pode afetar negativamente a qualidade de vida do paciente, o que por si só justifica a identificação e o tratamento ativo desse transtorno em indivíduos com câncer. Se não avaliada e tratada corretamente, a depressão pode ter seus sintomas agravados, piorar a funcionalidade do paciente e trazer grande sofrimento, intensificar o isolamento social, causar prejuízos de memória ou cognição, podendo gerar dificuldades no enfrentamento da doença e até o risco de suicídio.
11) Normalmente, qual faixa etária/gênero mais sofrem com a doença?
R.: A depressão pode afetar pessoas de todas as idades, embora seja mais comum em indivíduos entre 20 e 40 anos. No entanto, também é observada uma maior prevalência entre os idosos. As mulheres têm risco maior de desenvolver a depressão, por possíveis fatores como maior exposição a estresses cotidianos, sobrecarga e taxas mais altas de disfunções hormonais.
12) Existe alguma dificuldade para realizar/aceitar o tratamento? Caso sim, quais?
R.: Muitas pessoas ainda apresentam resistência em procurar ajuda para problemas de saúde mental devido à falta de informações adequadas ou crenças equivocadas sobre doenças mentais. Por isso, é importante que os oncologistas incluam a triagem de depressão como parte da rotina de cuidados durante o tratamento de câncer.
13) Criança tem depressão?
R.: Sim, crianças e adolescentes também podem desenvolver depressão. Fatores genéticos e ambientais desempenham um papel importante nesse processo. Os sintomas podem ser confundidos com comportamentos típicos da infância, como malcriação ou agressividade, mas também podem se manifestar em sintomas físicos, como dores de cabeça ou fadiga, irritabilidade, perda de apetite, distúrbio do sono e queda no desempenho escolar.
14) Qual é a diferença da depressão da criança/adolescente/adulto e idoso? Existe? Quais são?
R.: Na infância e adolescência, os sintomas de depressão geralmente se manifestam em mudanças de comportamento. Nos adultos, a falta de prazer em atividades e a alteração do humor são mais experimentados na depressão. Já nos idosos, os sintomas físicos, como tontura, perda de apetite e problemas cognitivos, como dificuldades de memória e atenção, são frequentemente mais notáveis.
15) Como o Hospital de Amor apoia/trata o paciente que está com depressão?
R.: O Hospital de Amor oferece acompanhamento especializado em saúde mental, com uma equipe que inclui psicólogos e duas médicas psiquiatras que fazem assistência nas unidades Antenor Duarte Villela (unidade adulta), Hospital São Judas Tadeu (unidade de cuidados paliativos e atenção ao idoso) e Hospital Infantojuvenil (unidade que oferece tratamento para crianças e adolescentes), em Barretos (SP). O diagnóstico e tratamento da depressão fazem parte do cuidado integral ao paciente oncológico, e a equipe médica de referência deve estar preparada para realizar a avaliação adequada e encaminhar o paciente para o suporte necessário.
Caso você seja paciente ou acompanhante e esteja percebendo algum sinal relacionado à depressão, converse com o seu médico e busque ajuda profissional. Cuidar da saúde é fundamental durante a jornada do tratamento oncológico.
“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”, acreditava o ilustre e respeitado educador brasileiro Paulo Freire. Assim como ele, o Hospital de Amor também acredita que a educação é fundamental para o desenvolvimento de qualquer pessoa, independentemente de estar enfrentado um tratamento duro com o câncer.
Em meio aos desafios da doença, um refrigério de conhecimento e afeto floresce dentro do Hospital de Amor, em Barretos. É na classe hospitalar, localizada no Lar de Amor (alojamento do HA) que a educação se encontra com a humanização, oferecendo a crianças e jovens em tratamento oncológico a oportunidade de sonhar e aprender, longe das quatro paredes de um quarto de hospital. Na liderança desta iniciativa está Leane Carvalho Oliveira, uma educadora dedicada que há 10 anos atua como professora nessa missão tão especial.
Com 54 anos e uma rica formação que inclui graduações em História e Geografia, e pós-graduações em Pedagogia Hospitalar e Psicopedagogia, Leane é a prova viva de que a paixão por ensinar pode mover montanhas. “Atuar como professora na classe hospitalar do HA tem sido uma experiência transformadora”, revela a experiente professora. “Estou feliz e me sinto realizada com um propósito que vai além do simples ato de ensinar”, fala Leane.
A ‘escola do Lar de Amor’, como é carinhosamente chamada, conta com três classes que abrangem desde o Ensino Inicial (1º ao 5º ano) até os anos finais e Ensino Médio (6º ano ao 3º EM). Atualmente, 30 alunos estudam nesse espaço que também é considerado um refúgio para eles, diante de uma rotina de exames e tratamentos, a escola acalenta, já que são intercaladas por aulas dinâmicas e repletas de carinho e diversão.
Leane, ao lado das professoras Zilda Reducino e Tania Serapião, forma uma equipe que se dedica a oferecer um currículo completo, adaptado às necessidades de cada estudante que também é paciente oncológico. A professora Leane ensina todas as disciplinas para os alunos do 6º ano ao Ensino Médio, enquanto Zilda se dedica aos estudantes do 3º ao 5º ano, e Tania, aos pequenos do 1º e 2º ano. “Seguimos o plano de ação do estado, com sala do futuro, Centro de Mídias da Educação de São Paulo (CMSP), apostilas usando aplicativos, robótica e tecnologia”, explica Leane, destacando a modernidade da abordagem. A colaboração de voluntários, como a professora Rosalinda em Matemática, e parceiros como o Instituto Federal, que oferece aulas de Química, Física e Biologia com laboratório, complementa o aprendizado e enriquece a experiência dos alunos.
A grande diferença da classe hospitalar em relação a uma escola convencional é o fato de haver atendimento humanizado e individualizado. “Nossos alunos com suas devidas especificidades recebem atividades adaptadas a cada um”, ressalta Leane. Além do currículo tradicional, os alunos participam de atividades especiais, como aulas de jornalismo com a jornalista Glaucia Chiarelli, onde desenvolvem reportagens para o “jornalzinho HA”, que é um grande sucesso.
A jornada de Leane na classe hospitalar é cheia de histórias que marcam a alma. “Em cada encontro com meus alunos, vivi momentos de intensa alegria, aprendizado e afeto genuíno”, compartilha. Entre tantas lembranças, a história de Éder é a que mais toca seu coração. “Incentivá-lo a estudar, a manter a esperança acesa e a não desistir do sonho de se tornar médico foi uma missão que abracei com amor e dedicação”, recorda Leane. A partida precoce de Éder deixou uma lacuna, mas também a certeza de que a educação, quando feita com amor, tem o poder de inspirar e dar propósito, mesmo diante das maiores dificuldades.
Tia Leane como também é conhecida pelos alunos, se orgulha de ter ajudado no processo de ensino de pacientes indígenas que recebem tratamento no Hospital de Amor. Para ela, a vocação de educadora na classe hospitalar vai muito além do ensino de matérias. É um gesto de amor, esperança e humanidade. É a certeza de que, mesmo em tempos difíceis, o conhecimento pode ser uma ferramenta de transformação e um caminho para a realização de sonhos, por mais distantes que eles pareçam.
O que você faz que o transporta para um lugar mágico e especial? O sociólogo italiano Domenico De Masi defendia a tese do “ócio criativo”, um tempo para “fazer nada” que, na verdade, deveria estimular a criatividade futura. Um filme, um livro, uma música, quando bem apreciados, não seriam apenas um singelo passatempo. Mas já imaginou ser impulsionado por um novo desafio proposto pela vida?
Certa vez, o pintor holandês Vincent Van Gogh disse: “A arte é consolar aqueles que são quebrados pela vida”. De certa forma, ele não estava errado. Poder se expressar por meio do dom artístico vai muito além de um hobby; pode ser terapêutico e até mesmo contribuir para o processo de tratamento oncológico, por exemplo.
A jovem professora Amanda Furtado, de 35 anos, além de ser encantada pelos números que a levaram a cursar Matemática, também se apaixonou pelas cores e pelos traços, mais especificamente pela arte da pintura. Paulista de Franca, cidade localizada no nordeste do estado de São Paulo, conhecida como a capital do calçado e um dos pontos com maior incidência solar no Brasil, não imaginou que um dia encontraria um novo desafio em Barretos (SP), onde, em alguns momentos, a vida pareceria mais nublada do que ensolarada.
“Me recordo que, em outubro do ano passado, eu apalpei um nódulo na minha mama. Decidi procurar meu médico. Ele comentou que, pela minha idade, seria pouco provável que fosse câncer, mas solicitou uma ultrassonografia. O resultado foi um laudo BIRADS 0 na mama — isso significa que o exame de imagem é inconclusivo ou incompleto, exigindo exames adicionais para uma avaliação mais precisa. Após isso, o médico pediu uma ressonância magnética, que identificou mais dois nódulos, estes não palpáveis”, explica Amanda.
Depois de realizar o exame, a jovem procurou atendimento no Instituto de Prevenção do Hospital de Amor, em Barretos, onde diz ter recebido muito carinho e acolhimento. “No dia do diagnóstico de câncer de mama, fui amparada com muita sensibilidade, tanto pelos profissionais quanto pela minha família. Senti medo. Mas o apoio dos meus familiares foi essencial para me fortalecer e enfrentar esse momento difícil”, diz ela.
Ao ser questionada sobre a importância do Hospital de Amor em sua vida, a paciente rapidamente responde: “O hospital me trouxe esperança. Desde o início, senti acolhimento e confiança nos profissionais que cuidaram de mim com tanto carinho. Não poderia me sentir mais amparada. Além do acompanhamento médico, o suporte psicológico fez toda a diferença”, fala Amanda, que achou que o tratamento seria mais difícil por estar com muito medo. No entanto, com o apoio da sua fé e o acolhimento do hospital, tudo ficou mais leve.
A pintura como um refúgio
Era uma consulta comum, ou seria, até o momento em que a paciente Amanda, cheia de gratidão, presenteou seu médico mastologista, Dr. Idam Junior, com um lindo quadro. A surpresa foi tamanha que fez com que o especialista publicasse a imagem em suas redes sociais. Na tela, a paciente pintou aquele que é motivo de sua fé: Jesus andando sobre as águas.
“Comecei a pintar há 10 anos, como um hobby, no ateliê da minha amiga Aime. Depois, precisei parar por causa da rotina. Retomei há cerca de 3 anos, num momento em que comecei a me amar mais e a separar tempo para mim. Faço pintura a óleo com o estilo impressionista”, conta Amanda.
A professora revela que gosta de pintar casarões e elementos que remetam a momentos marcantes. “Todas as minhas telas têm um significado especial. Após o diagnóstico de câncer, passei a pintar pelo menos três vezes por semana. Quando estou pintando, minha mente fica como uma tela em branco. É um momento de leveza, de paz interior. Pintar me acalma”, explica a paciente emocionada.
O olhar da psicologia
Segundo a psicóloga do Hospital de Amor, Eliza Guimarães Ribeiro, atividades como a pintura funcionam como formas de expressão emocional e enfrentamento no contexto oncológico. “Elas ajudam o paciente a elaborar sentimentos difíceis, reduzem a ansiedade e resgatam um senso de identidade e autonomia durante o tratamento. Além disso, promovem bem-estar e podem fortalecer o vínculo com a equipe e com o próprio processo de cuidado”.
Quando questionada sobre a importância de o paciente oncológico ter um hobby em meio ao processo do tratamento, Eliza explica: “Primeiro, acolheria a pausa como algo natural no processo de tratamento, validando o cansaço e as emoções envolvidas. Em seguida, incentivaria o paciente a retomar a atividade com gentileza, sem cobrança, lembrando dos benefícios que ela já trouxe e propondo que ele experimente aos poucos — mesmo que por alguns minutos. Pequenos retornos podem reabrir esse espaço de prazer, identidade e expressão pessoal”, finaliza.
Para a profissional, não existe uma fórmula; cada pessoa se conecta com diferentes formas de prazer. “Eu costumo incentivar atividades como pintura, escrita, ouvir música, leitura ou até jogos simples. O mais importante é que faça sentido para o paciente e respeite seus limites naquele momento”, conta Eliza.
Para a paciente Amanda, a pintura ajuda a enfrentar o tratamento e a doença. “Não consigo imaginar como teria sido para mim sem a pintura em minha vida. E não é só sobre pintar, é sobre estar no ateliê com as amigas, tomar um bom café da tarde, conversar e relaxar. É um momento em que posso me expressar, distrair a mente e me conectar com outras pessoas de forma leve”, diz a educadora, que também tem uma veia artística.
A professora fica emocionada quando responde o motivo pelo qual escolheu o Dr. Idam para receber o seu quadro: “Passei por um momento muito difícil e recebi a atenção e o apoio do Dr. Idam e Dr. Toni de uma forma que não consigo explicar. Eles estiveram ao meu lado o tempo todo, como amigos, me fortalecendo”. Amanda conta que, com a entrega deste presente, quis expressar toda a sua gratidão da maneira que ela sabe, por meio da arte.
A jovem explica que, quando inicia a pintura, ela coloca toda sua fé e pede a Deus que abençoe os médicos do hospital, tanto fisicamente quanto espiritualmente. “Acredito que, no enfrentamento do câncer, a verdadeira mudança precisa vir de dentro para fora. Também pedi a Deus que envie ao mundo mais profissionais como eles”, conta Amanda.
“A arte é um caminho poderoso para o autoconhecimento, alívio da ansiedade e conexão com outras pessoas. Proporciona momentos de leveza, amizade e alegria em meio a um processo tão delicado. A vida é preciosa, e cada dia é um presente. Descobri que o propósito da nossa existência está nas pequenas coisas: na fé, na esperança, no amor e no cuidado com quem está ao nosso lado”, Amanda diz emocionada.
Como a maioria dos pacientes que recebem o diagnóstico de câncer e passam pelo tratamento, a educadora relata que esta jornada a transformou: “A arte me resgatou, me deu forças e me ensinou que é possível encontrar beleza até nos momentos mais desafiadores. Agradeço a Deus, meu marido Jeferson, à minha família, aos amigos, aos médicos e ao Hospital de Amor por fazerem parte dessa história. Posso dizer que aprendi a valorizar o tempo e compreendi, ainda mais, a importância da minha família e meu relacionamento com Deus”, finaliza.
A psicóloga da instituição também reforça que, se o paciente nunca teve o hábito de praticar atividades de lazer, a equipe pode convidá-lo a experimentar algo novo de forma leve e sem pressão. “O lazer pode ser uma ferramenta de enfrentamento; ele ajuda a aliviar o sofrimento, manter a motivação e resgatar o prazer em meio a um momento difícil. O importante é que faça sentido para ele(a), respeitando seu tempo e vontade. Me recordo do caso de uma paciente que, após o adoecimento, focou ainda mais nas aulas de violão, usando a música como terapia neste momento”.
Todo paciente oncológico precisa ser acolhido, pois, segundo Eliza, é necessário acolher a tristeza como algo legítimo diante do que está sendo vivido no momento. “Diria que é normal se sentir assim durante o tratamento, e que ele não está sozinho. Depois, estimularia pequenos passos: retomar uma atividade leve, conversar com alguém de confiança ou até permitir-se descansar sem culpa. E reforçaria que buscar apoio psicológico não é sinal de fraqueza, mas de cuidado consigo mesmo”, conclui a profissional.
Respeitar o seu próprio tempo e fazer uma atividade que estimule alegria pode contribuir para enfrentar os desafios que a vida apresenta, independentemente do diagnóstico recebido. Sempre é possível colorir a vida com sonhos e paixões! E você, realiza algo que ama apenas por hobby ou anda se cobrando demais?
‘Não pode segurar xixi porque faz mal à saúde’ ou ‘Já bebeu água hoje?’. Quais destas frases ligadas à saúde dos seus rins você já ouviu? Provavelmente as duas, certo?
Embora seja comum existir uma certa preocupação com o bem-estar dos órgãos, cujas principais funções no corpo são filtrar o sangue a fim de remover toxinas e resíduos metabólicos, como ureia, creatinina e ácido úrico, por meio da produção e eliminação da urina, ainda se fala pouco sobre o câncer renal.
Segundo a médica oncologista clínica do Hospital de Amor Jales, Dra. Fernanda de Oliveira Bombarda, o câncer de rim ocorre quando as células que compõem o órgão começam a crescer de forma anormal e desordenada, formando um tumor.
A especialista explica que este tipo de câncer é o terceiro mais frequente do aparelho geniturinário e representa aproximadamente 3% das doenças malignas do adulto. De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registra mais de 11 a 12 mil novos casos de câncer renal por ano. Somando as unidades do HA Jales e Barretos, são cerca de 150 casos diagnosticados por ano com esta neoplasia “A incidência de câncer renal tem mostrado um aparente aumento, possivelmente devido ao uso mais frequente de exames de imagem, como a tomografia computadorizada. A doença surge com mais frequência nos homens do que nas mulheres e, geralmente, acomete indivíduos entre os 50 e 70 anos de idade”, diz Fernanda.
O caminho de Maria: fé e resiliência diante de algo inesperado
“Meu nome é Maria Bezerra da Silva, tenho 65 anos, sou dona de casa e moro em Nova Andradina (MS). Há dois anos, um pequeno caroço me trouxe um incômodo que logo se transformaria em um diagnóstico de câncer. Me recordo bem da sensação, da surpresa e da necessidade de entender o que estava acontecendo.
Como viúva, encarei esse desafio com a força de quem já superou outras batalhas na vida, contando sempre com o apoio dos meus filhos e demais familiares. Eu não sentia nenhum sintoma antes de descobrir o caroço, o que me fez procurar ajuda médica.
Após consulta e exames, recebi o diagnóstico de câncer renal e desde então, o Hospital de Amor tem sido essencial na minha vida. Sempre digo que a importância do hospital é a de nos devolver a saúde, de nos dar a chance de continuar vivendo. O tratamento que recebo é simplesmente excelente. A dedicação dos funcionários e a qualidade dos cuidados me dão a certeza de que estou no lugar certo. Atualmente, estou na fase da quimioterapia, e cada passo é dado com muita esperança.
Essa jornada tem me transformado profundamente. Percebo mudanças em mim e, principalmente, nos meus hábitos de vida. Hoje, valorizo ainda mais a importância de cuidar do corpo e da mente.
Se eu pudesse dar um conselho para alguém que acabou de receber um diagnóstico de câncer, diria para não guardar raiva e para respeitar os alimentos. É um processo desafiador, mas com fé, apoio e os cuidados certos, é possível encontrar forças para seguir em frente”, conta a simpática dona Maria, paciente do HA que trata de câncer renal com muita coragem e uma grande vontade de viver.
Neste mês de junho, dedicado à conscientização sobre o câncer de rim, a Dra. Fernanda Bombarda esclarece as principais dúvidas sobre o tema. Confira:
1) Existem tipos diferentes de câncer renal? Quais são os mais comuns?
R.: Existem diferentes tipos de câncer de rim. O mais frequente é o câncer renal de células claras, sendo responsável por 85% dos tumores diagnosticados. Outros tipos incluem: carcinoma papilífero (o segundo tipo mais comum, representando cerca de 10% dos casos) e carcinoma cromófobo (que corresponde a cerca de 5% dos casos).
2) Quais são os principais sintomas?
R.: A neoplasia renal é inicialmente assintomática, mas pode se manifestar com dor no flanco (dor nas costas, de lado, na altura da cintura), hematúria (presença de sangue na urina) e massa abdominal palpável.
3) Quando, ‘normalmente’, este tipo de câncer é detectado? E como é feito o diagnóstico?
R.: A forma mais comum de obter o diagnóstico são os achados incidentais em exames de rotina como a ultrassonografia ou tomografia do abdômen. O diagnóstico é realizado por meio de exames como ultrassom, tomografia ou ressonância nuclear magnética de abdômen. A biópsia renal pré-operatória, normalmente, não é realizada e só é necessária em situações excepcionais, a fim de diferenciar lesões malignas de benignas, as quais não necessitariam de tratamento.
4) Quais são os principais fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de rim?
R.: Os principais fatores de risco são: tabagismo, obesidade, hipertensão, idade avançada, doença renal crônica e diálise, história familiar e algumas síndromes genéticas (Doença de Von Hippel-Lindau).
5) Existem medidas preventivas para o câncer renal?
R.: As medidas preventivas para o câncer renal são: evitar o tabagismo, manter um peso saudável e controlar a pressão arterial por meio de uma dieta equilibrada e atividade física regular e, se necessário, medicação, sob orientação médica. Manter-se bem hidratado — beber água suficiente ajuda os rins a eliminarem toxinas e a funcionar adequadamente.
6) Este tipo de câncer costuma aparecer em qual fase (inicial/avançado)?
R.: Cerca de metade dos tumores renais diagnosticados atualmente estão restritos ao rim, enquanto aproximadamente 20% já mostram invasão local, com comprometimento dos linfonodos. O restante apresenta metástases à distância, sendo os locais mais frequentemente atingidos: pulmão, fígado e ossos.
7) Quais são os tipos de tratamento?
R.: Os tipos de tratamento disponíveis são as terapias sistêmicas, que agem em todo o corpo para combater as células cancerígenas, como imunoterapia (que estimula o sistema imunológico do próprio paciente a reconhecer e combater as células cancerígenas), a terapia-alvo (medicamentos que atuam bloqueando vias moleculares específicas) e quimioterapia (o câncer de rim é relativamente resistente à quimioterapia tradicional, por isso, ela raramente é a primeira escolha).
A radioterapia pode ser utilizada em sua forma convencional com fins paliativos para aliviar sintomas como dor em casos de metástases ósseas. Já a radiocirurgia (técnica de radioterapia de alta precisão que administra altas doses de radiação em poucas sessões) tem se mostrado promissora para tratar tumores primários em pacientes não cirúrgicos e para controlar metástases em locais específicos, como ossos e pulmões.
8) A remoção do rim é um tipo de tratamento?
R.: A cirurgia é o tratamento inicial de escolha para a maioria dos carcinomas renais. É o único tratamento curativo definitivo para esse tipo de câncer.
9) O que é nefrectomia parcial/radical?
R.: Nefrectomia total: remoção total do rim.
Nefrectomia parcial: remoção apenas de uma parte do rim ou de uma região onde o nódulo/massa se encontra, preservando o restante do parênquima renal. É mais comumente utilizada em tumores menores.
10) Há chance de transplante no lugar do rim doente?
R.: Um transplante renal é considerado para pacientes que desenvolvem insuficiência renal crônica em estágio terminal, ou seja, quando os rins não conseguem mais cumprir suas funções adequadamente. No caso de um paciente que teve um rim removido devido ao câncer, a necessidade de um transplante surgiria se o rim remanescente também falhasse ou já estivesse com sua função comprometida antes da cirurgia. Em pacientes com câncer renal ativo, o transplante não é recomendado. A principal razão é que o uso de medicamentos imunossupressores após o transplante pode estimular o crescimento de células cancerígenas remanescentes, aumentando o risco de recidiva do câncer.
11) Quais são os avanços da medicina para tratar este tipo de câncer?
R.: Os avanços para tratar esse tipo de câncer são a combinação de terapias sistêmicas, como imunoterapia e terapia-alvo, aumentando as taxas de resposta e a sobrevida dos pacientes. O uso de terapia neoadjuvante: a imunoterapia também está sendo estudada para ser realizada antes da cirurgia para diminuir o tamanho do tumor e facilitar a remoção, ou até mesmo possibilitar cirurgias menos invasivas. Cirurgia minimamente invasiva (laparoscopia e robótica): permite que cirurgiões realizem a nefrectomia com maior precisão, menor perda de sangue, menos dor pós-operatória e um tempo de recuperação mais rápido para o paciente. Isso é especialmente benéfico para a preservação da função renal. Terapias Ablativas: novas técnicas de ablação estão sendo estudadas e utilizadas para destruir tumores menores, oferecendo alternativas menos invasivas para pacientes que não são candidatos à cirurgia ou que possuem tumores em locais desafiadores.
12) Quais são as principais consequências para o paciente durante o tratamento e após ele?
R.: Devido à nefrectomia (retirada do rim, seja parcial ou total), existe a possibilidade de alteração da função renal. Outras consequências estão relacionadas a possíveis efeitos colaterais do tratamento sistêmico: náusea, vômito, fadiga, diarreia e perda de apetite.
13) Quais são os maiores desafios enfrentados pelo paciente durante o tratamento? (Não pode comer algum alimento, líquido)?
R.: Não há restrição alimentar. Os maiores desafios são a dificuldade de acesso a medicamentos, especialmente terapias de alto custo ou não disponíveis no sistema público de saúde.
14) O paciente precisa de diálise depois do tratamento?
R.: Não necessariamente. A maioria dos pacientes submetidos à nefrectomia (retirada do rim) para tratamento de câncer renal não precisa de diálise após a cirurgia. A necessidade de diálise após a remoção de um rim depende da função do rim remanescente.
15) Qual é a taxa de cura e de mortalidade deste câncer?
R.: A taxa de sobrevida em 5 anos depende de cada estágio da doença:
– Estágio clínico I (tumor localizado no rim): 80%
– Estágio II (tumor maior, mas ainda restrito ao rim): 73%
– Estágio III (tumor que se espalhou para linfonodos próximos): 53%
– Estágio IV (metástases para outros órgãos): 8%
16) Quantas pessoas são diagnosticadas com esta doença por ano no Brasil?
R.: Estima-se que, por ano, no Brasil, sejam diagnosticados cerca de 12.000 pacientes com esta doença.
17) Existe rastreamento para o câncer renal?
R.: Atualmente, não existem programas de rastreamento populacional para o câncer renal. Não é recomendada a realização de exames de rotina para detectar precocemente essa doença em pessoas assintomáticas, devido à sua baixa incidência e à falta de evidências que comprovem benefícios significativos para a população em geral.
Caso conheça alguém que esteja tratando de câncer renal ou com alguns dos sintomas apresentados neste conteúdo, compartilhe esta matéria. Lembre-se de evitar o cigarro, manter o peso adequado, praticar atividades físicas e manter a pressão arterial controlada.
O cuidado que começa antes mesmo do tratamento
Num hospital onde o nome já anuncia a essência, o cuidado vai muito além do atendimento médico. No Hospital de Amor, a atenção integral ao paciente passa, todos os dias, pelas mãos de uma equipe que trabalha nos bastidores com escuta, empatia e compromisso social: os(as) assistentes sociais. São eles(as) que recebem, orientam, acolhem e articulam soluções para que o tratamento oncológico não esbarre em barreiras econômicas, sociais ou emocionais.
Em meio à rotina intensa de consultas, exames, cirurgias e internações, o Serviço Social cumpre um papel silencioso, mas fundamental: garantir que o paciente tenha seus direitos respeitados, suas angústias ouvidas e suas necessidades atendidas de forma integral.
Escuta, acolhimento e articulação de direitos
Seja ajudando a obter benefícios sociais, encaminhando para serviços públicos, acompanhando famílias em situação de vulnerabilidade ou mediando soluções para questões delicadas como abandono, luto e conflitos familiares, os profissionais da área estão sempre atentos — e presentes.
A atuação é ampla e vai desde o primeiro acolhimento até o suporte nas situações mais complexas durante e após o tratamento. O atendimento começa com a escuta. Com tempo, paciência e sensibilidade, os assistentes sociais se colocam à disposição para ouvir histórias, entender contextos e acolher dores que, muitas vezes, não são visíveis ou acabam não sendo a prioridade entre as equipes de saúde.
A partir desse primeiro contato, constroem caminhos: orientam sobre benefícios como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), aposentadoria por invalidez, passe livre para transporte, isenção de impostos, medicação de alto custo, auxílio-doença, FGTS, entre outros direitos previsto em lei, mas que são desconhecidos de grande parte da população. Em muitos casos, fazem todo o acompanhamento do processo, desde o cadastro no INSS até a confirmação do benefício — como aconteceu com um paciente de 65 anos, sem qualquer histórico de contribuição previdenciária, que teve o benefício concedido após a mediação da equipe. “Essa foi a única renda da família naquele momento de extrema fragilidade”, contou a coordenadora Lucia Roque, emocionada com a dimensão daquilo que parecia apenas mais um atendimento.
Cuidado que vai além dos muros do hospital
Mas o trabalho vai além do aspecto burocrático. No Hospital de Amor, a coordenadora explica que o Serviço Social também atua como um elo entre os pacientes e os diversos setores da rede pública e filantrópica. Isso inclui contato com CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social), CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), UBSs (Unidades Básicas de Saúde), casas de apoio, organizações sociais, ONGs, grupos de voluntariado e instituições de justiça. A articulação com essas redes permite que o cuidado não se interrompa na saída do hospital, garantindo continuidade, segurança e acolhimento mesmo nos territórios mais distantes.
Situações de alta complexidade também fazem parte da rotina. “Recentemente, uma paciente estrangeira faleceu na unidade de cuidados paliativos, acompanhada apenas do filho menor de idade, de 17 anos. Os familiares que viviam em outro país não conseguiram chegar a tempo, e o Conselho Tutelar precisou ser acionado. Em um gesto comovente, uma conterrânea da paciente, que estava na cidade, se ofereceu para acolher o menino até a chegada dos parentes. O corpo da paciente permaneceu no Serviço de Verificação de Óbito (SVO) até que toda a documentação fosse finalizada. O caso mobilizou emocionalmente a equipe”, lembra Lucia — um retrato da complexidade humana com que lidam diariamente.
Profissionais que enxergam o paciente como um todo
Essas situações exigem preparo técnico, sim, mas também exigem vocação. Por isso, a equipe do Serviço Social é formada por profissionais capacitados, com formação em Serviço Social e registro no CRESS, distribuídos por diferentes unidades, incluindo as unidades hospitalares e as casas de apoio geridas pelo HA, como o Lar de Amor e o alojamento Santa Madre Paulina, em Barretos (SP).
Eles participam de discussões de caso com médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas; acompanham visitas multiprofissionais; elaboram relatórios sociais; colaboram na construção de planos terapêuticos e atuam em comissões de ética, óbito e humanização.
Mesmo com uma estrutura sólida, os desafios são muitos. A vulnerabilidade social de grande parte dos pacientes impõe obstáculos que ultrapassam a alçada hospitalar. Há quem chegue sem condições mínimas de seguir o tratamento: sem renda, sem casa, sem comida. É nesse momento que a sensibilidade da equipe entra em cena, articulando parcerias locais e criando soluções que ultrapassam a técnica.
Humanização, aliás, é a palavra que define o modo como o Serviço Social do Hospital de Amor atua. Chamar o paciente pelo nome, garantir um ambiente acolhedor, respeitar a diversidade, oferecer tempo de qualidade e presença real em momentos delicados. Tudo isso faz parte de um cuidado que também é emocional, subjetivo e profundamente humano.
Conhecimento que empodera e fortalece vínculos
A atuação também inclui a entrega da Cartilha de Direitos do Paciente em Tratamento Oncológico, um material que orienta e empodera, tornando acessíveis informações que, muitas vezes, são desconhecidas ou difíceis de compreender.
Em paralelo, os profissionais conduzem atendimentos individuais, em grupo e com as famílias, com foco no fortalecimento de vínculos, no apoio emocional e na promoção da autonomia. Também acompanham todo o processo de internação, tratamento, retorno ao domicílio e, quando necessário, cuidados paliativos e luto.
No HA, o Serviço Social é mais que uma área técnica. É um espaço de afeto, de luta por justiça social e de reconstrução da dignidade. Cada atendimento é uma oportunidade de dizer, com ações concretas, que o paciente não está só. E que, sim, é possível cuidar com amor — mesmo em meio à dor.
A dor de cabeça é uma queixa comum que afeta grande parte da população em algum momento da vida. Afinal, quem nunca teve dor de cabeça? No entanto, para muitas pessoas, a intensidade ou persistência da dor pode gerar ansiedade ou até mesmo o medo de ser algo mais grave, como um câncer, por exemplo. Para desmistificar essa preocupação e esclarecer as principais dúvidas sobre o tema, o neurocirurgião oncológico do Hospital de Amor, Dr. Ismael Lombardi, respondeu algumas perguntas. Confira:
1) O que pode ser considerado dor de cabeça?
R.: A dor de cabeça, ou cefaleia, é qualquer tipo de dor que aparece na região da cabeça, seja na parte da frente, dos lados, atrás ou no topo. Pode ser uma dor leve, forte, latejante, em pressão ou fisgada.
2) Existem diferentes tipos de dor de cabeça? Quais são os mais comuns?
R.: Sim! Existem muitos tipos, divididos em dois grupos principais:
Primárias: são as mais comuns, representando cerca de 90% dos casos. Não são causadas por outros problemas de saúde, mas sim por fatores como genética, ambiente, hormônios, alterações no sono ou alimentação. Os tipos mais frequentes são:
• Enxaqueca: dor forte, geralmente em um lado da cabeça, podendo vir acompanhada de náuseas e sensibilidade à luz e ao barulho.
• Tensional: sensação de pressão ou ‘aperto’ na cabeça, frequentemente ligada a estresse, cansaço ou ansiedade.
• Cefaleia em Salvas: dor intensa, geralmente atrás do olho, que ocorre em crises curtas, porém muito fortes.
As cefaleias secundárias são aquelas causadas por outras doenças. Ou seja, uma dor de cabeça secundária em geral é uma queixa, um sintoma de outro problema de saúde e comumente está acompanhada de outros sintomas ou sinais físicos.
3) Quando pode surgir dor de cabeça? E quando ela é considerada ‘comum’?
R.: Dr. Ismael aponta que dores de cabeça podem surgir por motivos simples do cotidiano, como estresse, má qualidade do sono, longos períodos sem se alimentar, uso excessivo de telas (celular, computador) e desidratação (beber pouca água). Essas dores são consideradas comuns, especialmente quando melhoram com descanso, hidratação, alimentação adequada e, às vezes, com analgésicos simples.
4) Existe dor de cabeça aguda e crônica? Qual é a diferença?
R.: Sim. O médico também diferencia a dor de cabeça em aguda e crônica:
– Aguda: é aquela dor que parece de repente, dura pouco tempo e desaparece. Pode ser causada por fatores como estresse, gripe, sinusite ou uma noite mal dormida.
– Crônica: este tipo de dor já ocorre por mais de 15 dias no mês, durante pelo menos três meses consecutivos. Geralmente está associada à enxaqueca, tensão ou uso exagerado de medicamentos para dor.
5) Mulheres são mais propensas?
R.: Sim, as mulheres tendem a sofrer mais com dores de cabeça, principalmente com enxaqueca. Isso acontece por vários motivos, incluindo fatores hormonais, como variações durante o ciclo menstrual, que contribuem para essa maior prevalência.
6) Quando é necessário procurar um médico?
R.: Deve-se procurar um médico quando: A dor de cabeça é muito diferente do que costuma sentir; a dor vem muito forte de repente, como uma “pancada”; está acompanhada de outros sinais, como fraqueza, formigamento, dificuldade para falar, perda de equilíbrio ou visão dupla; a dor não melhora com os remédios que sempre funcionaram; quando a dor é frequente, ocorrendo muitos dias no mês.
Câncer e dor de cabeça
7) Dor de cabeça pode ser sinal de câncer?
R.: Sim, a dor de cabeça pode ser secundária a um câncer ou mesmo a tumores benignos. No entanto, essa não é a queixa mais comum em pacientes oncológicos e é muito menos frequente do que as cefaleias primárias. Sinais que podem indicar uma dor de cabeça secundária a um tumor:
Fraqueza em um lado do corpo;
Perda de equilíbrio ou audição;
Alterações na visão;
Dificuldade para falar;
Convulsões.
A dor nesses casos costuma ser mais intensa, mais frequente, pode piorar ao deitar-se e costuma não melhorar com remédios comuns.
8) Quais tipos de câncer podem causar dor de cabeça?
R.: • Tumores no cérebro, sejam eles primários (que nascem no cérebro) ou metástases (câncer que começou em outro órgão e foi para o cérebro).
• Câncer na região da cabeça e pescoço, como nos seios da face (sinusite crônica associada a tumor, por exemplo).
• Em casos mais raros, leucemias e linfomas também podem provocar dor de cabeça, geralmente associada a outros sintomas, como febre, cansaço extremo ou perda de peso.
9) Segundo o Google Trends, o termo ‘dor de cabeça’ é mais pesquisado nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, qual é a prevalência dos casos de câncer cerebral nestas regiões?
R.: O câncer cerebral é considerado uma doença rara em qualquer região do Brasil e do mundo. Ele representa cerca de 2% dos tumores em adultos e é um pouco mais frequente em crianças, onde chega a ser o segundo tipo de câncer mais comum na infância, depois da leucemia. Nas regiões Norte e Nordeste, a prevalência é parecida com o restante do país. Porém, nessas regiões pode haver mais dificuldade no acesso rápido ao diagnóstico e tratamento especializado, o que gera mais preocupação e buscas na internet.
10) O câncer cerebral costuma ser mais benigno ou maligno?
R.: Os tumores do sistema nervoso central podem ser benignos ou malignos. Entretanto, os tumores mais comuns são benignos. Ainda assim, tumores benignos, assim como os malignos, podem causar aumento da pressão dentro do crânio, sendo a dor de cabeça secundária ao aumento dessa pressão uma queixa comum nestas situações.
11) Quais são as perspectivas de cura e possíveis sequelas?
R.: A chance de cura varia significativamente dependendo do tipo, localização e estágio do tumor. Tumores benignos localizados podem ter cura com cirurgia. Tumores malignos podem ser controlados com cirurgia, radioterapia, quimioterapia e, hoje, com terapias mais modernas, mas nem sempre são curáveis. Quando se trata de metástases no cérebro, o objetivo pode ser controle da doença e melhora da qualidade de vida. As sequelas também dependem da localização do tumor no cérebro, podendo incluir fraqueza em algum lugar do corpo, dificuldades na fala, memória ou visão, alterações de equilíbrio e convulsões. Algumas pessoas podem ter poucas ou nenhuma sequela, especialmente se o tumor estiver em áreas de menor risco.
12) Pode ocorrer metástase cerebral em pacientes com histórico de câncer?
R.: Sim, pacientes com histórico de câncer em outros órgãos (pulmão, mama, rim, intestino ou melanoma) têm maior risco de desenvolver metástases cerebrais. Isso ocorre porque as células cancerosas podem se disseminar pela corrente sanguínea e atingir outros órgãos, inclusive o cérebro.
13) Como é feito o diagnóstico e o tratamento do câncer cerebral?
R.: O diagnóstico é feito principalmente por meio de exames de imagem, como ressonância magnética e tomografia computadorizada, além da avaliação clínica dos sintomas. Em alguns casos, é necessário realizar uma biópsia para saber exatamente o tipo do tumor.
O tratamento pode incluir: cirurgia (sempre que possível), radioterapia, quimioterapia, terapias mais modernas, como imunoterapia e radiocirurgia, dependendo do caso.
14) Existem tratamentos inovadores? Quais?
R.: Sim! A neurocirurgia tem evoluído muito. Hoje usamos:
• Neuronavegação, que funciona como um GPS do cérebro durante a cirurgia;
• Cirurgia com monitorização de áreas nobres, para preservar fala, movimento e visão;
• Radiocirurgia, que é um tipo de radioterapia super precisa, sem cortes;
• Cirurgia com fluorescência, que permite ao cirurgião enxergar melhor o tumor;
• Pesquisas avançam também em imunoterapia e terapia-alvo, dependendo do tipo de tumor.
15) Como o Hospital de Amor se destaca no Brasil no tratamento de tumores cerebrais?
R.: O Hospital de Amor se destaca pelo modelo de atendimento 100% gratuito, humanizado e com tecnologia de ponta, comparável a grandes centros do mundo. Temos neurocirurgia de alta complexidade, com neuronavegação, microscopia avançada e monitorização intraoperatória. Além de oferecermos tratamentos como radiocirurgia, radioterapia de precisão e acesso a pesquisas clínicas. Tudo isso com um olhar voltado para o acolhimento dos pacientes e suas famílias.
16) Quais são as estimativas de cura?
R.: Tumores benignos localizados podem ter uma taxa de cura acima de 90% com cirurgia. Tumores malignos primários do cérebro, como o glioblastoma, têm tratamento que busca controlar a doença e melhorar a qualidade de vida, mas nem sempre são curáveis. Já no caso de metástases cerebrais, muitos pacientes conseguem controlar bem a doença, especialmente quando o câncer de origem também está controlado. Cada caso é muito individual e depende de tipo, localização e saúde geral do paciente.
É muito importante reforçar que dor de cabeça, na imensa maioria das vezes, não significa câncer. A maior parte das dores de cabeça está ligada ao estresse, ansiedade, sono ruim ou problemas simples do dia a dia. Mas é fundamental que as pessoas não deixem de procurar um médico quando a dor for diferente, persistente ou vier acompanhada de outros sintomas, conforme já foi explicado acima. O diagnóstico precoce, seja para câncer ou qualquer outra doença, salva vidas.
Já imaginou ter que andar sobre uma ponte instável rodeada por água e manter o equilíbrio e a concentração para não cair? Ou poder visitar uma cidade ou país que deseja conhecer e andar pelas ruas sem sair do seu local de origem? Escalar o Everest por meio de uma tela?
Essa é a evolução da gamificação, que teve início na década de 1940, quando os cientistas Alan Turing e Thomas T. Goldsmith Jr. começaram a imaginar uma forma de entretenimento eletrônico para os computadores da época, utilizados para cálculos científicos. Outro visionário, o físico William Higinbotham, criou em 1958 o primeiro jogo eletrônico interativo, chamado “Tennis for Two”, em que dois jogadores podiam controlar a trajetória da bola e competir entre si em um jogo de tênis simplificado.
Mas você deve estar se perguntando: “O que videogames e games digitais, que surgiram no século passado, têm a ver com saúde?” A resposta é simples: os videogames e suas evoluções tornaram-se mais do que produtos de entretenimento. Eles passaram a integrar terapias que auxiliam no tratamento de diversas doenças, como o câncer.
Com o avanço tecnológico, o surgimento da inteligência artificial, da realidade virtual e de outras inovações agregaram muito à saúde — especialmente na reabilitação de pacientes. “Se a gente parar para pensar, a reabilitação vem passando por grandes transformações, e a tecnologia tem contribuído significativamente para melhorar a qualidade do atendimento e a atuação do terapeuta. O interessante dessas novas tecnologias é que elas fornecem parâmetros objetivos ao profissional — algo que, na reabilitação, muitas vezes, é subjetivo. Por meio da gamificação, IA e realidade virtual, é possível mensurar os resultados e proporcionar uma terapia mais eficaz e interativa ao paciente”, explica o fisiatra e coordenador médico do Centro Especializado em Reabilitação do Hospital de Amor, em Barretos (SP), Dr. Henrique Buosi.
Do obstáculo com pedras no chão à bexiga projetada na parede…
AMADEO, ARMEO, C-MILL e NIRVANA são dispositivos utilizados na reabilitação de pacientes oncológicos e não oncológicos nas unidades de Reabilitação do Hospital de Amor. Cada aparelho tem uma função específica, mas todos têm algo em comum: a gamificação! Esses dispositivos utilizam a gameterapia na reabilitação dos pacientes.
Um dos dispositivos que faz sucesso entre os pacientes do HA é o C-MILL, uma ferramenta que fornece avaliação objetiva e detalhada do equilíbrio e da marcha dos pacientes. Equipado com placa de força, realidade aumentada e realidade virtual, ele torna o processo de reabilitação mais eficiente.
Durante a sessão, o paciente interage com um game indicado para sua fase de tratamento. A partir dessa interação, é possível analisar diversos parâmetros, como explica o fisioterapeuta e coordenador da equipe multiprofissional do Centro Especializado em Reabilitação do HA, em Barretos (SP), Thiago Felício.
“O C-MILL é uma esteira interativa, cuja base é uma plataforma de força. Com ela, trabalhamos a marcha por meio de jogos que aparecem tanto na tela quanto na esteira. Cada passo do paciente é registrado, e, conforme ele supera os obstáculos do jogo, recebe feedbacks positivos ou negativos. O C-MILL permite trabalhar diversas áreas. No setor de fisioterapia, é usado para melhorar a marcha, o equilíbrio (estático e dinâmico), a descarga de peso nos membros — especialmente em casos em que os pacientes não conseguem distribuir o peso igualmente entre as pernas —, além de treinar a coordenação motora.”
Outro dispositivo bastante popular, especialmente entre as crianças, é o NIRVANA, que auxilia na reabilitação motora e cognitiva de pacientes que perderam funções em decorrência do tratamento oncológico, ou que foram diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista), TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia e deficiência intelectual.
Além disso, o NIRVANA proporciona uma experiência imersiva ao usuário, criando ambientes realistas que o ajudam a trabalhar coordenação motora, equilíbrio, destreza manual, amplitude de movimento, estímulo cognitivo e visão subnormal.
O NIRVANA é um dos recursos utilizados pelos terapeutas, que complementam a reabilitação com outras atividades lúdicas, explica Juliane Vilela Muniz, fonoaudióloga do Centro Especializado em Reabilitação do HA, em Barretos (SP). “Utilizamos diversos materiais pedagógicos e robóticos para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Inicialmente, fazemos uso do NIRVANA, e, à medida que o paciente evolui, avançamos para a ‘casa de atividades da vida prática’, onde realizamos tarefas com recursos reais, como cozinhar ou lavar roupa, encerrando assim o ciclo até a alta do setor.”
Um mundo virtual por meio dos olhos
Uma experiência imersiva, interativa e tridimensional, que simula ambientes e obstáculos virtuais, melhora o humor, a disposição, mantém a capacidade física e reduz a ansiedade — tudo isso com o auxílio de óculos de realidade virtual. Essa é uma das terapias utilizadas no HA.
Pacientes que passam por transplante de medula óssea frequentemente enfrentam longos períodos de internação, tornando a reabilitação mais desafiadora. Levar leveza a esse momento é essencial, como explica Simara Cristina Pereira Silva, fisioterapeuta do setor de Transplante de Medula Óssea da unidade adulta do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
“Quando o paciente apresenta baixa adesão à fisioterapia e à terapia ocupacional devida à internação prolongada, ou possui quadro de pancitopenia persistente (anemia e baixa de plaquetas), com contraindicação à reabilitação convencional, utilizamos os óculos de realidade virtual. O paciente é imerso em um ambiente virtual que associa dupla tarefa, promovendo uma reabilitação mais dinâmica e aliviando a rotina hospitalar.”
Há pouco mais de um ano, a equipe de fisioterapia e terapia ocupacional do TMO da unidade adulta do HA sentiu a necessidade de inovar o atendimento. Desde então, mais de 30 pacientes utilizaram os óculos de realidade virtual. Com a ferramenta, é possível analisar critérios como a escala de fadiga, permitindo que a equipe multidisciplinar ajuste as atividades e, se necessário, aumente o nível na próxima sessão com os óculos VR.
Realidade virtual no tratamento do câncer infantojuvenil
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a estimativa de novos casos de câncer infantojuvenil no Brasil, para cada ano do triênio 2023–2025, é de 7.930 casos. O Hospital de Amor Infantojuvenil diagnostica, aproximadamente, 300 novos casos por ano.
Oferecer tratamento humanizado e de qualidade é rotina no Hospital de Amor, principalmente porque é comum o aumento da ansiedade antes e durante procedimentos médicos — especialmente em crianças e adolescentes. Para proporcionar mais conforto a esses pacientes, o HA Infantojuvenil firmou uma parceria com o estúdio Goblin, sob a liderança do médico cirurgião pediátrico Dr. Wilson Oliveira Junior, para desenvolver o projeto “O Chamado do Herói”.
Segundo o médico, crianças com câncer, por passarem por inúmeros procedimentos invasivos que exigem anestesia, tendem a apresentar níveis de ansiedade elevados. Sabe-se que atividades lúdicas ajudam a criança a compreender os procedimentos a que será submetida, auxiliando-a no processamento de emoções e preocupações de forma mais acessível e menos assustadora.
“’O Chamado do Herói’ tem como objetivo transformar a criança na protagonista da própria aventura. Ao ser submetida a um procedimento desconfortável, ela é transportada para um mundo de fantasia 3D, por meio dos óculos VR. A união entre realidade virtual e elementos táteis proporciona uma experiência imersiva, ajudando a reduzir os níveis de estresse e ansiedade relacionados à doença e ao tratamento. Como consequência, também beneficia o círculo familiar mais próximo”, destaca o médico cirurgião do HA Infantojuvenil.
Você sabia que as bactérias nos protegem de algumas doenças graves, como o câncer, a obesidade e doenças autoimunes? Nós convivemos com bactérias desde quando nascemos. De maneira geral, elas são extremamente importantes para a saúde humana e estão presentes em todo o nosso corpo, mas existem outras que podem ser muito prejudiciais.
Maio é um mês importante para a higiene e o controle de infecções, isso porque no dia 5 de maio é celebrado o Dia Mundial da Higiene das Mãos, que tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância dessa prática como uma medida essencial de saúde pública. Já no dia 15 de maio, comemora-se o Dia Nacional do Controle das Infecções Hospitalares, instituído pela Lei Federal nº 11.723/2008. O objetivo dessa data é conscientizar sobre a importância do controle das infecções para toda a sociedade.
De acordo com a Anvisa, “a higienização das mãos (HM) é reconhecida mundialmente como uma medida primária, mas muito importante no controle de infecções relacionadas à assistência à saúde. Por esse motivo, tem sido considerada como um dos pilares da prevenção de infecções nos serviços de saúde”.
Pensando na importância deste tema para a sociedade, o Hospital de Amor convidou o médico infectologista do HA, Dr. Paulo de Tarso Oliveira e Castro, para responder algumas dúvidas sobre a importância da higiene das mãos.
Porque convivemos com bactérias fora e dentro do hospital. Nosso corpo abriga bactérias que, na maioria das vezes, fazem bem à saúde.
Nós temos dois tipos de bactérias:
Para evitar a contaminação de ferimentos ou a proliferação de vírus e bactérias, é essencial manter a higienização das mãos. Por isso, é importante adotar bons hábitos, como: lavar as mãos antes de se alimentar; após usar o banheiro; ao tocar em secreções como urina, saliva, sangue, etc; ao manusear dinheiro em papel; ao ter contato com pessoas que estão resfriadas; entre outras ocasiões, como maçanetas e corrimões que várias pessoas tocam com as mãos contaminadas.
Contudo, a importância da higiene das mãos começa no dia a dia, para evitar possíveis infecções.
As bactérias presentes em ambientes hospitalares são diferentes das que encontramos fora. Dentro do hospital, muitas bactérias podem causar doenças e são frequentemente expostas a antibióticos, o que favorece o desenvolvimento de resistência, dificultando o tratamento.
Durante procedimentos como colocação de cateteres, coleta de sangue ou inserção de sondas, há risco de introdução dessas bactérias, o que pode causar o que conhecemos como infecções hospitalares. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde façam a higienização das mãos corretamente e nos momentos adequados, evitando a transmissão de infecções relacionadas à assistência.
Os pacientes oncológicos, especialmente os que estão em tratamento com quimioterapia, têm o sistema imunológico comprometido. A medicação afeta tanto células malignas quanto as saudáveis, resultando em queda da imunidade.
Com isso, é comum que apresentem feridas na boca e no intestino, por onde as bactérias podem entrar na corrente sanguínea e causar infecções.
No Hospital de Amor, os pacientes de maior risco são os da hematologia, da UTI e os que passaram por transplante de medula óssea. Nessas áreas, ocorrem as infecções mais graves, exigindo cuidados redobrados.
Os profissionais de saúde têm contato direto com o paciente e, em todo lugar, dentro do hospital, há bactérias. Sempre que há contato físico ou manuseio de dispositivos (sondas e cateteres) médicos, pode haver contaminação. Por isso, é necessário higienizar corretamente as mãos.
De acordo com o Organização Mundial da Saúde, é necessário higienizar as mãos:
Hoje, nós temos definido pela Organização Mundial da Saúde cinco momentos importantes para fazermos a higiene das mãos. Em 90% das vezes, recomenda-se o uso de álcool em gel. Já água e sabão são indicados em cerca de 10% das situações, especialmente quando há sujeira visível nas mãos.
O álcool em gel é melhor do que a água e sabão porque, ele mata mais bactérias, e de forma mais rápida. Para fazer a higiene das mãos com álcool em gel, a profissional gasta em torno de 30 segundos, já com água e sabão, ele levará de dois a três minutos para fazer a limpeza de forma correta.
Além disso, o uso excessivo de água e sabão pode remover a camada protetora da pele, causando ressecamento, inflamações e pequenas lesões, que facilitam a entrada de bactérias.
Felizmente, aqui no Hospital de Amor, nós utilizamos mais o álcool em gel. No HA, o uso do álcool em gel é monitorado, assim como a quantidade de produto utilizado, garantindo a segurança de pacientes e profissionais. Também são feitas estimativas com base nos números de infecções hospitalares.
Sabemos que infecções hospitalares têm múltiplas causas, e a higienização das mãos é apenas uma das medidas. Por isso, é necessário seguir uma série de medidas protetivas para não colocar o paciente e o profissional em risco.
Contudo, um dos indicadores para medirmos o nível de higiene dentro do ambiente hospitalar, é pela transmissão de bactérias. Então, se identificamos uma determinada bactéria em um paciente e, depois de um tempo, identificamos em outro, e assim sucessivamente, é porque essas bactérias estão sendo transmitidas.
Quando os profissionais fazem a admissão no hospital, eles realizam uma integração e são treinados. Eles não fazem apenas um treinamento sobre a importância da higiene das mãos, mas também, de boas práticas para evitar as infecções, de uma maneira geral. Para reforçarmos ainda mais essa importância, é necessário que todos estejam engajados, pois não é fácil lembrar de todos os momentos adequados para higienização. Por isso, é importante que um profissional lembre ou alerte o outro.
Além disso, para que o profissional tenha condições de fazer a higienização das mãos, é muito importante que o estabelecimento forneça condições adequadas para ele. Então, é necessário um álcool em gel de boa qualidade e que esteja disponível facilmente; um sabonete de boa qualidade; uma pia próxima ao atendimento do paciente; um papel toalha que seja bom; e outros tipos de insumo que são importantes para o atendimento ao paciente.
Os pacientes, por estarem em situação de vulnerabilidade, muitas vezes sentem-se inseguros ao pedir que um profissional higienize as mãos.
Por isso, é importante envolvê-los, junto com os familiares, nesse cuidado. Para isso, são utilizadas as seguintes estratégias: cartazes que chamem a atenção; disponibilização do álcool em gel; e orientações antes das visitas.
Além disso, acompanhantes com sintomas de doenças transmissíveis são orientados a evitar a visita ao hospital, prevenindo riscos aos pacientes.
Na minha opinião, o principal aprendizado da pandemia de COVID-19 foi perceber que não estamos preparados para enfrentar outra situação dessa magnitude.
Atualmente, estamos enfrentando uma epidemia de influenza, a gripe. Estamos tendo caso de pacientes internados com gripe; casos de óbitos e, em outros casos, pacientes indo para ventilação mecânica; e quando vamos ver, esses pacientes não foram vacinados, apesar da campanha realizada pelo Ministério da Saúde. O objetivo era vacinar 90% da população em risco, que inclui os pacientes com câncer, talvez a gente não tenha vacinado 60%.
Infelizmente, a COVID-19 deixou pouco legado para as pessoas, em termos de prevenção, higienização e consciência sobre os riscos de transmissão. Os hospitais também não estão preparados, se tivermos outra pandemia, vai ser um caos novamente.
Então, infelizmente, não acredito que a pandemia da COVID-19 tenha deixado um legado duradouro e positivo nesse aspecto.
Na unidade Infantojuvenil do Hospital de Amor, a conscientização sobre a importância da higienização das mãos, com álcool em gel e sabão (nos momentos apropriados), aconteceu por meio de brincadeiras e dinâmicas. Influenciada pelo Aliança Amarte – projeto idealizado pelo Hospital de Amor junto ao St. Jude Children´s Research Hospital – a médica infectologista do HA Infantojuvenil, em Barretos (SP), Dra. Seila Prado, desenvolveu, junto à equipe multidisciplinar da instituição e ao Instituto Sociocultural do HA, ações lúdicas para trabalhar essa atividade com os pacientes e acompanhantes.
Envolver os pacientes e seus familiares no processo de educação é uma estratégia que vem ganhando reconhecimento nos últimos anos. De acordo com a Dra. Seila Prado, “ao convidarmos as crianças para participarem da campanha da higienização das mãos, esperamos que elas estimulem os profissionais de saúde a higienizarem cada vez mais as mãos, para que assim consigamos reduzir as taxas de infecção relacionadas à assistência à saúde”, relata ela.
Na ocasião, o professor da oficina de desenho do Instituto Sociocultural, Bruno Freire, foi convidado a desenvolver um livro sobre a higiene das mãos para os pacientes e acompanhantes. Intitulado Clube das Mãos Limpas, o livro traz desenhos para colorir, caça-palavras e outras brincadeiras educativas. Essa atividade foi viabilizada pela Lei Rouanet – PRONAC e desenvolvida pelo Ministério da Cultura e pelo Instituto Sociocultural do Hospital de Amor.
Para o professor de desenho, contribuir com esse projeto foi uma oportunidade incrível. “No começo, fiquei pensando como iria ser essa história e como eu iria criá-la, mas acho que o resultado ficou bem satisfatório. As crianças têm essa consciência de questionar, às vezes até o próprio médico, se ele está com as mãos limpas e, depois desse trabalho, comecei a levar essa informação para as crianças durante as aulas, que é algo muito importante mesmo”, destacou o professor de desenho.
Além disso, também foi desenvolvido um concurso de desenho com o tema “Higiene das Mãos”. Os participantes foram divididos em três categorias:
A escolha das crianças vencedoras foi feita por meio de votação dos colaboradores do HA. E, para deixar essa atividade ainda mais especial, os desenhos mais votados receberam presentes especiais como forma de reconhecimento e incentivo.
Assim, todos entendemos que a maneira mais importante para prevenirmos infecções hospitalares ou a transmissão de vírus é começando pela medida mais simples: higienizando as mãos.
Venezuela, Goiás e São Paulo — mais de três mil quilômetros de distância somados. Ashley García, Anna Cristina Nogueira e Vitória Vilela se encontraram em um único lugar, com um único objetivo: ter acesso a um tratamento médico de qualidade, digno e humanizado.
Do país mega diverso e da fauna variada (Venezuela), para o país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza (Brasil)…
Natural de Maturin (VE), Ashley Carolina Garcia tem 11 anos, mas está no Brasil desde os sete anos. Impossibilitada de fazer um transplante de medula óssea em seu país, Greimarys Garcia (29), sua mãe, procurou seus familiares no Brasil e, juntas, elas embarcaram atrás de um tratamento adequado e digno para Ashley.
Tudo começou quando, aos três anos, a mãe notou manchas roxas pelo corpo da filha. Com o passar dos anos, suas plaquetas começaram a cair. Ao procurar um hematologista, o médico afirmou que ela estava bem, já que não havia outros sintomas. Porém, em 2021, aos sete anos, os níveis de plaquetas caíram drasticamente, afetando a hemoglobina e os glóbulos brancos. Diante disso, foi solicitado um exame de medula óssea para investigar uma possível leucemia. O diagnóstico: mielodisplasia.
Ashley iniciou o tratamento, mas não obteve resposta. Após cada ciclo de três meses, ela recaía e seu estado de saúde se agravava.
A Venezuela é um país que não possui programas de saúde para a população, ou seja, todo processo é pago. Por isso, a mãe de Ashley começou a trabalhar duas vezes mais para comprar as medicações que a sua filha precisaria durante o tratamento, além das consultas médicas. Após diversas tentativas de tratamento – e algumas adversidades ao longo desses período – o médico aconselhou Greimarys a procurar ajuda em outro país, caso contrário, sua filha poderia falecer. Neste momento, Grei entrou em contato com os seus familiares de Roraima e pediu ajuda a eles.
Ao chegar no Brasil, Grei e Ashley foram até o posto de saúde de Boa Vista (RR) e, posteriormente, foram encaminhadas ao hospital infantil do município. Após três meses sem tratamento efetivo, Ashley foi internada para avaliar a resposta da medula a um novo protocolo, mas, infelizmente, também foi ineficaz. A médica responsável então confirmou a necessidade de transplante de medula óssea.
“Nessa consulta, a profissional solicitou novamente o exame aspirado da medula e uma biópsia. Com a confirmação da mielodisplasia, ela explicou que Roraima não tinha estrutura para o transplante. Então, fomos encaminhadas para Brasília, onde passamos quatro meses tentando um tipo de quimioterapia. Como os resultados não eram satisfatórios, perguntaram se Ashley tinha irmãos ou se o pai poderia vir ao Brasil para fazer o teste de compatibilidade. Como não havia essa possibilidade, fomos inscritas no banco de doadores”, relembra Grei.
Felizmente, encontraram um doador 100% compatível. Contudo, o procedimento não poderia ser feito em Brasília. Assim, mãe e filha foram encaminhadas à unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Ao chegar ao Hospital de Amor, Ashley realizou o transplante de medula óssea. No entanto, o cenário não melhorou imediatamente. Infelizmente, ela enfrentou diversas complicações e precisou ser internada várias vezes, chegando a pesar apenas 21 kg. Ashley teve problemas no fígado, no intestino, contraiu COVID-19 e outros vírus devido à baixa imunidade. Além disso, sofreu infecções e passou muito mal após o procedimento. Sua mãe relata que o processo foi extremamente difícil. “Ela vivia internada no hospital… Passou por muitas coisas. Depois do transplante, percebi que algo estava estranho. No início, achamos que era por causa da transfusão, mas ela dormia demais. Foi solicitada uma tomografia, que confirmou toxoplasmose na cabeça”, desabafa Grei.
E, mesmo em tempos difíceis, coisas maravilhosas podem acontecer. Durante o tratamento, Ashley conheceu Raílla Coelho, também paciente infantojuvenil do Hospital de Amor e que, assim como ela, precisou de um transplante de medula óssea e, logo, elas tornaram-se inseparáveis.
Essa amizade foi além das paredes do hospital. Juntas, participaram da 4ª edição do Concurso Rainha do Rodeio Pela Vida. “Ashley não esperava ganhar, e eu, como mãe, também não. Autorizei que ela participasse apenas para apoiar sua amiga, porque elas viveram momentos muito difíceis. Raílla quase faleceu e isso deixou a Ashley – e todos nós [familiares e amigos] – muito triste”, relembra Grei Garcia.
Durante os ensaios e no grande dia do evento, Ashley ensinou para todos que a acompanharam que o amor, a amizade e o cuidado fazem a diferença na vida das pessoas. Na noite do desfile, para acompanhar e dar suporte a Raílla, Ashley desfilou de mãos dadas com a amiga.
Hoje, Ashley segue o tratamento com imunossupressores, e sua previsão de alta é para agosto de 2025. Para ela, representar o Hospital de Amor na 5ª edição do Rodeio Pela Vida é motivo de orgulho e gratidão.
“Graças ao Hospital de Amor — e a Deus — minha filha está curada”, diz Grei, emocionada.
*O Registro Brasileiro de Doadores Voluntários de Medula Óssea (REDOME) foi criado em 1993, em São Paulo, para reunir informações de pessoas dispostas a doar medula óssea para quem precisa de transplante. Desde 1998, é coordenado pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro.
Com mais de 5,5 milhões de doadores cadastrados, o REDOME é o terceiro maior banco de doadores de medula óssea do mundo e pertence ao Ministério da Saúde, sendo o maior banco com financiamento exclusivamente público. Anualmente são incluídos mais de 125 mil novos doadores no cadastro do REDOME.
Fonte: REDOME.
Da Venezuela ao local dos maiores produtores de soja do Brasil…
Natural de Rio Verde (GO), Anna Cristina Nogueira, de 14 anos, sempre foi uma menina alegre, carinhosa e muito apegada à mãe. Mas, aos 13 anos, sua vida mudou com o diagnóstico de câncer.
Tudo começou com dores no joelho e uma leve dificuldade para andar. Como fazia musculação na época, Anna acreditava que se tratava de uma dor muscular, causada pelos treinos. Com o tempo, as dores aumentaram e o joelho começou a inchar. A mãe a levou ao médico, que inicialmente diagnosticou como “dor do crescimento”.
Sem melhora, a família buscou uma consulta particular com um ortopedista. Após ouvir o relato, o médico solicitou um raio-X. O resultado o deixou preocupado, então, ele pediu uma tomografia para confirmação. Ao receber os exames, o profissional comunicou que ela estava com um tumor no joelho, e ofereceu duas opções de tratamento: Barretos (SP) ou Jales (SP).
Sem saber o que significa a palavra ‘tumor’, Anna fez um post no seu Instagram – para os amigos mais próximos – dizendo: “Estou com um tumor no joelho, o que é isso?”. Curiosa e preocupada, procurou a resposta no Google. Foi aí que a ficha caiu. O impacto da descoberta a deixou muito abalada.
Mesmo assim, não ficou sozinha. Contou com o apoio fundamental da melhor amiga, Gabriele de Oliveira, e da família. Ela relembra que a amiga foi um anjo na sua vida, “ela que me dá força para aguentar tudo isso, toda vez que eu volto para Rio Verde (GO), ela vai na minha casa”, relata, Anna.
Para a mãe – que não pôde estar na consulta porque estava trabalhando – a notícia também foi devastadora. “Quando minha mãe me falou que poderia ser osteossarcoma, eu estava trabalhando, dentro da indústria. Naquela hora, o chão se abriu. Entrei em desespero. Meu marido me viu chorando e veio correndo. Procurei no Google o que era, e foi um momento desesperador”, relembra a mãe da Anna, Kely Nogueira.
Kely ainda faz uma crítica sobre a forma como o câncer é retratado no cinema. “Nos filmes, quase nunca mostram finais felizes para quem tem câncer. Os relatos de cura são poucos. Quando recebi o diagnóstico, pensei: vou lutar com todas as minhas forças. Deus me deu minha filha, e Ele não vai levá-la agora”, desabafou ela.
Receber o diagnóstico de câncer é algo muito difícil, não só para o paciente, mas para toda a família. Explicar para uma criança os próximos passos dessa trajetória requer muita sabedoria, força e amor. Em outubro de 2024, Anna Cristina chegou à unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, localizada em Barretos (SP).
Na primeira consulta, os profissionais do HA refizeram os exames e explicaram as possibilidades de tratamento. Também a alertaram que, se a resposta à quimioterapia não fosse satisfatória, a amputação poderia ser necessária. Após sete sessões de quimioterapia, veio a notícia mais temida: seria preciso amputar a perna. Ao relembrar desse momento, ela diz que foi um momento muito difícil, pois ela e sua mãe choraram muito ao assinar o documento de autorização. “Para uma menina de 13 anos, amputar a perna não é fácil. […] No começo, fiquei com raiva, mas também fiquei feliz, porque eu iria continuar viva. Foi difícil, mas hoje agradeço. Estou muito melhor sem a minha perna”, afirma Anna, com uma maturidade surpreendente.
Com o diagnostico oncológico, muitos aspectos de sua vida mudaram, entre eles, a sua profissão dos sonhos. Hoje, ela sonha em ser enfermeira para ajudar as pessoas que estão passando por momentos difíceis. “O Hospital de Amor faz jus ao nome, né? Lembro de uma postagem nas redes sociais que dizia: com amor tudo fica mais fácil. Com o amor da minha família, dos amigos e do HA, tudo ficou mais leve. Ter pessoas ao seu lado o tempo todo é muito acolhedor”, destacou a paciente.
Hoje, Anna já é uma inspiração para outras crianças e adolescentes que passam pela mesma situação. E, sem saber, já exerce o papel de ajudar o próximo com sua força e exemplo. Com sua participação no Concurso Rainha do Rodeio Pela Vida, ela provou que sonhos podem ser adaptados, mas não precisam ser deixados para trás.
Durante os ensaios, se divertiu, fez novas amizades, viveu experiências incríveis no salão de beleza e brilhou na passarela.
Junto de outras sete pacientes, Anna representou o Hospital de Amor com graça, leveza e coragem. Agora, carrega o título de Princesa do Amor no 5º Rodeio Pela Vida.
Dos maiores produtores de soja do Brasil para o interior paulista…
Natural de José Bonifácio (SP), Vitória de Souza, de 14 anos, começou o seu tratamento oncológico bem nova. Aos 8 meses de idade, ela apresentava febre constante — principalmente à noite — e não ganhava peso. Durante as trocas de fralda, sua mãe, Mércia Vilela, percebeu algo anormal na genitália da filha.
Preocupada, ela levou Vitória ao médico. Inicialmente, os profissionais garantiram que estava tudo dentro da normalidade. Mas, com o passar do tempo, o inchaço no local aumentou e uma anomalia se formou. Um novo exame foi solicitado, desta vez, uma ultrassonografia. O resultado foi: um tumor no colo do útero, em estágio avançado, que já atingia a bexiga.
No mesmo dia, Vitória foi encaminhada a unidade infantojuvenil do Hospital de Amor, localizada em Barretos (SP), onde foi atendida pela equipe infantojuvenil, sob os cuidados das médicas Dra. Erica Boldrini e Dra. Bruna, para dar início ao tratamento.
Foram dois anos de quimioterapia e radioterapia, marcados por muitas internações e reações intensas aos medicamentos. Ao receber alta, a sua mãe não esperava – e nem a Vitória –que iria retornar à instituição 12 anos depois.
Aos 14 anos, Vitória começou a fazer tratamento com hormônios. Logo em seguida, passou a sentir fortes dores na perna esquerda, que dificultavam sua locomoção. O diagnóstico confirmou o pior: o câncer havia voltado, desta vez, nos ossos.
“Saber que o meu câncer voltou depois de 12 anos foi muito difícil. Para mim, o meu cabelo e as minhas unhas são muito importantes. Eu sabia que meu cabelo cairia e minhas unhas ficariam fracas. Na primeira quimioterapia, fiquei internada por 12 dias seguidos e precisei cortar tudo de uma vez”, desabafou a pequena.
Atualmente, ela continua o tratamento no Hospital de Amor, acompanhada de perto pela equipe médica. Para Mércia, esta nova etapa tem sido ainda mais desafiadora: “Dessa vez está sendo mais doloroso. Agora ela está mais velha, é muito vaidosa… então está sendo complicado. Mas, graças a Deus, o tratamento está funcionando e ela está reagindo bem.”
Como forma de distração, Mércia autorizou a participação da filha na 4ª edição do Concurso Rainha Rodeio Pela Vida. Apesar da timidez e da falta de experiência na passarela, Vitória ficou em terceiro lugar e conquistou o título de Madrinha do Amor, tornando-se uma das representantes oficiais da instituição no 5º Rodeio Pela Vida.
Ao ser questionada sobre experiência no concurso Rainha Rodeio Pela Vida, ela comenta que foi muito legal. “Eu nunca tinha desfilado, e sou muito tímida, tenho vergonha de falar em público. Mas assim que pisei no palco, o medo passou. A energia das pessoas torcendo por nós foi muito forte. Foi muito legal. Estou muito feliz por representar o Hospital de Amor no 5º Rodeio Pela Vida”, disse Vitória.
Rodeio Pela Vida
O Hospital de Amor – referência em oncologia, que acolhe pacientes de todo o país – realizará, entre os dias 5 e 7 de junho, a 5ª edição do “Rodeio pela Vida”, na cidade de Barretos (SP). O evento, que acontece no Recinto Paulo de Lima Corrêa em prol do HA, contará com atrações musicais, rodeio em touro e cavalo (sela americana, bareback e cutiano), breakaway roping e Três Tambores.
Priorizando a qualidade do rodeio, a comissão organizadora firmou parceria com a ACR – Associação dos Campeões de Rodeio – para a seleção dos competidores do rodeio em touro, enquanto a ProHorse será a responsável pela organização do rodeio em cavalos. Nas provas cronometradas, a modalidade Três Tambores será em parceria com a ANTT – Associação Nacional dos Três Tambores.
Além das provas, o evento contará com o apoio de cantores parceiros da instituição. No primeiro dia, Murilo Huff fará o primeiro show da 5ª edição. Já no segundo dia, as apresentações ficarão por conta do grupo Traia Véia e da dupla Bruninho & Davi. Por fim, no último dia, para encerrar a festa com chave de ouro, Felipe Araújo finaliza as atrações musicais desta ação solidária. Acesse o site e compre seu ingresso.
“Você não é todo mundo”, “Leva o guarda-chuva, vai chover”, “Se eu for aí e achar…”. Provavelmente, você já ouviu algumas dessas frases ditas por sua mãe, não é mesmo? Existe um ditado que diz que mãe é tudo igual, só muda o endereço. Mas uma coisa é indiscutível: o amor de mãe é um dos mais bonitos que existe.
Nesta semana especial em que celebramos o Dia das Mães, convidamos você a conhecer Maria Aparecida Rosini, de 67 anos — que já carrega o nome de uma das mães mais conhecidas e amadas do mundo. Para os cristãos, Maria é mãe do salvador da humanidade, Jesus. Talvez ela seja uma das representações mais lindas de como o amor de mãe enfrenta desafios, desenvolve coragem inimaginável, se anula por um filho e, mesmo na dor, jamais abandona.
Em 2005, aos 11 anos, Edleine Rosini, filha de Maria Aparecida, era uma menina como tantas outras. Gostava de brincar e dançava balé com muita alegria, até que um salto diferente denunciou que algo estava errado. “Senti muita dor na perna. Minha mãe logo percebeu e decidiu me levar ao médico em Porto Ferreira (SP). Fui encaminhada para São Carlos, também no interior paulista, onde conheci o médico que me encaminhou ao Hospital de Amor, em Barretos”, relembra Edleine, hoje com 32 anos.
O diagnóstico foi avassalador: um sarcoma de Ewing (um tipo raro e agressivo de câncer ósseo). A partir dali, a vida da menina e de toda a família mudaria para sempre.
“Eu recebi o diagnóstico de um tumor maligno. No outro dia, já passei com a psicóloga, a querida Tia Lu. Algo que vejo de maneira positiva é que minha mãe nunca me escondeu nada. Mas, no fundo, eu sabia que era grave”, conta a educadora física e instrutora de pilates. A consciência da gravidade vinha mais do olhar de quem a amava do que das palavras. “Via minha irmã chorar, minha mãe, minha tia, então eu sabia que o câncer era grave, mas acho que nunca encarei como algo impossível.”
O que mais a marcou naquele período foi o cuidado da mãe: “Ela sempre me vestia de rosa. Eu era a ‘Pantera Cor-de-Rosa’ da pediatria, pois carregava comigo a pelúcia do personagem para todos os lados, além de ser conhecida como a ‘bailarina’ do hospital”, conta ela com um sorriso.
Para Maria Aparecida, o início foi um choque: “O médico começou a falar palavras que eu nunca tinha ouvido. Quando ele disse ‘tumor maligno’, eu desmaiei na hora. Mas ele me falou: ‘Sua filha tem chance porque você correu atrás rápido’. Quando eu desmaiei de novo, ele disse: ‘Como eu vou te levantar do chão assim, mãe?’”. Hoje, Maria consegue rir da situação, mas imagine o desespero de uma mãe ouvindo que sua filha de apenas 11 anos estava com um câncer maligno. Não foi nada fácil.
A partir daquele momento, Maria decidiu colocar sua filha nas mãos de Deus. E foi nesse ato de fé que encontrou força para continuar. “Recebi uma ligação da Déborinha (primeira enfermeira da Pediatria do HA), que chamo de meu anjinho. Aquilo me fortaleceu”, conta. Quando a pequena paciente soube do diagnóstico, disse à médica: “Eu sei que é um tumor, mas não sei o que é”. A psicóloga então a levou para conversar em sua sala. Maria lembra: “Queria que aquele dia nunca tivesse existido. A médica disse que o tratamento seria longo e doloroso, cerca de um ano. Foi quando eu declarei: ‘Minha filha está nas mãos de Deus’. E a gente começou a batalha na segunda-feira.”
As primeiras sessões de quimioterapia foram duríssimas. “Ela vomitou muito. Lembro que me ajoelhei no chão e falei: ‘Deus, está começando o sofrimento da minha filha, mas oro pela cura dela’”, conta Maria. A cada passo, a mãe estava ali. Firme, mesmo quando chorava escondida. “Enfrentei tudo de cabeça erguida, chorava bem longe da Edleine, pois não queria que ela visse minhas lágrimas”, relata Maria com os olhos marejados. No fundo, é algo que toda mãe faz. Muitas vezes, seu amor nem é visto, apenas sentido. Mas sempre está ali.
Para Edleine, apesar da dor, havia leveza. A menina “coloria” os corredores do hospital com seu jeito divertido e sua pantera rosa de pelúcia, presente do pai. Tudo com muito rosa, pois se a vida trazia tempestade, o amor trazia cor.
Por trás do sorriso, havia momentos de risco real. “Na primeira parte da primeira sessão, passei muito mal. Tive uma parada respiratória”, relata Edleine. Sua mãe completa, com a voz embargada: “Vi minha filha morrendo na cama. Segurei a mão dela, me ajoelhei no chão do quarto e disse a Deus: ‘Pai, o que posso prometer para que o Senhor a salve e deixe comigo?’”.
Naquele instante, uma voluntária da AVCC (Associação Voluntária de Combate ao Câncer), toda vestida de rosa, entrou no quarto. “Quando a vi, fiz um voto com Deus: ‘Senhor, se minha filha for poupada, serei voluntária enquanto tiver forças’.” Edleine saiu daquela situação e se recuperou. “A partir dali, eu tinha uma nova missão”, diz Maria.
Ela cumpriu seu voto: começou a atuar como voluntária em 2005, na AVCC em Barretos. Hoje, aos 67 anos, Maria ainda percorre cerca de 400 km (ida e volta), duas vezes por semana, ajudando pacientes. Ela também cooperou na fundação da Casa de Apoio de Porto Ferreira em Barretos.
Depois de longas sessões de quimioterapia, Edleine estava curada. O pesadelo iniciado com aquele salto no balé havia terminado. O sofrimento foi vencido com lágrimas, fé e muito amor.
Em 2023, um novo diagnóstico: câncer do colo do útero, causado pelo HPV. Após dificuldades para iniciar o tratamento, a fé novamente interveio. A irmã de Edleine encontrou Henrique Prata, presidente do Hospital de Amor, e explicou a situação. Ele reconheceu a “bailarina” de rosa, e o tratamento começou.
Edleine deu início ao seu tratamento no Hospital de Amor, onde ela recebeu pela segunda vez na vida a notícia de que não havia mais câncer em seu corpo.
Hoje, casada com Kelvin Souza, de 33 anos — o mesmo que, quando criança, a visitava e orava por ela — Edleine compartilha sua história nas redes sociais e ajuda outras mulheres a se prevenirem.
Em fevereiro deste ano, ela começou a sentir fortes dores. Os exames mostraram linfonodos aumentados e um novo diagnóstico: câncer de peritônio.
“Quando soube que minha filha estava com câncer pela terceira vez, eu sumi. Chorei muito, mas falei para Deus: ‘Senhor, entrego minha filha em suas mãos pela segunda vez’”, diz Maria, com lágrimas nos olhos, beijando a cabeça da filha, agora careca pelo tratamento.
Edleine hoje realiza sessões de quimio e imunoterapia em Ribeirão Preto, acompanhada pelo Hospital de Amor.
Ao ser questionada sobre quem é Maria, Edleine sorri e responde: “Ela é meu orgulho. Nunca desanima. Mesmo com dificuldades, está sempre alegre. É meu porto seguro. É meu amor.”
Essa mãe e filha seguem enfrentando a vida com fé, amor e gratidão. “Tudo o que vivi me fez mais forte”, diz Edleine.
Feliz Dia das Mães a todas as Marias que estão sempre ao lado de seus filhos, mostrando que onde há o verdadeiro amor, o medo é lançado fora!
Receber o diagnóstico de câncer é um duro golpe para quase todos os pacientes oncológicos, pois, normalmente, a doença traz consigo desafios com o seu tratamento, como a necessidade de realizar cirurgia, quimioterapia, radioterapia e outros fatores de acordo com o procedimento necessário.
Inevitavelmente, a situação obriga o paciente, bem como a sua família, a pausar ou mudar muitos sonhos planejados. Ocorre que esta mudança pode trazer um turbilhão de sentimentos, que, se não observados e cuidados, podem acarretar o desenvolvimento de uma depressão.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país da América Latina com maior prevalência de depressão e o quinto país mais depressivo do mundo. É fato que a pandemia de COVID-19 foi responsável por aumentar os casos de depressão e ansiedade em mais de 25% em todo o mundo.
Para abordar sobre este tema tão delicado, a coordenadora do departamento de psicologia do Hospital de Amor, em Barretos (SP), Jennifer Koller, respondeu algumas perguntas. Confira abaixo:
1) O que é depressão?
R.: A depressão é um transtorno de humor que pode variar em intensidade, sendo classificada como leve, moderada ou grave. Sua causa exata não é completamente conhecida, mas acredita-se que seja resultado de uma combinação de fatores. Aspectos genéticos e ambientais desempenham um papel importante no desenvolvimento da doença. A hereditariedade, em particular, tem grande influência, embora seja menos significativa em casos de depressão que se manifestam na terceira idade. Além disso, mudanças nos níveis de neurotransmissores e desequilíbrios hormonais também estão frequentemente associados à doença. Fatores psicossociais, como separações, desemprego ou situações de vulnerabilidade social, também podem contribuir para o surgimento da depressão.
2) Quais são os malefícios que ela pode causar às pessoas?
R.: A depressão pode ser extremamente incapacitante, prejudicando vários aspectos da vida de uma pessoa. Ela pode afetar negativamente tanto a saúde mental, física e social, além de reduzir a qualidade de vida. Em casos graves, a depressão pode levar ao suicídio.
3) Depressão pode causar câncer?
R.: Embora a depressão seja uma condição séria que afeta a saúde mental, não há evidências científicas que provem que ela cause câncer. O câncer se desenvolve devido às mutações celulares que permitem o crescimento descontrolado de tumores, um processo que não está relacionado diretamente à depressão. Assim, não existe nenhuma correlação evidenciada dessas duas doenças.
4) Como o câncer pode levar o paciente oncológico à depressão?
R.: O diagnóstico de câncer traz uma série de desafios, como o impacto psicológico do tratamento, as mudanças na qualidade de vida e o estigma da doença. Esses fatores podem, em algumas pessoas, desencadear ou agravar os sintomas da depressão. A prevalência de depressão em pacientes com câncer pode variar, dependendo do tipo e estágio da doença, além de condições de saúde preexistentes e do contexto social e cultural do paciente.
5) Qual é a prevalência da depressão em pacientes oncológicos?
R.: Ansiedade e depressão são transtornos mais recorrentes em pacientes com câncer. Por um lado, é importante destacar que nem todos os pacientes com câncer apresentam depressão, pois inferir isso de maneira generalizada pode reforçar estigmas que não contribuem para o enfrentamento funcional oncológico ou em saúde mental. Por outro lado, o risco de o paciente oncológico desenvolver esse transtorno é duas a quatro vezes maior em comparação com a população geral – a incidência é alta e por vezes subdiagnosticada. Por isso, é fundamental que os profissionais de saúde realizem uma avaliação contínua da saúde mental durante o tratamento oncológico.
6) Quais são os sintomas da depressão?
R.: De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a depressão é caracterizada por sintomas persistentes por, pelo menos, duas semanas. Pelo menos cinco dos seguintes sintomas devem estar presentes: tristeza profunda ou irritabilidade, perda de interesse ou prazer em atividades, alterações no apetite ou no sono, fadiga, sentimento de culpa ou inutilidade, dificuldade de concentração, pensamentos suicidas ou morte, além de nervosismo e ansiedade.
7) Como a família pode ajudar a identificar a doença?
R.: A família tem um papel essencial no cuidado de pessoas com depressão, tanto no diagnóstico quanto no tratamento. Deve-se atentar as mudanças no comportamento e/ou reações emocionais incomuns do indivíduo e persistentes. A família pode oferecer escuta, apoio sem julgamento e encorajar a busca por ajuda profissional. É importante evitar minimizar o sofrimento da pessoa e manter um diálogo aberto sobre seus sentimentos, além de participar do tratamento. Também é importante que o familiar ou cuidador se inclua nestes cuidados, se preciso, com suporte de um profissional.
8) Como a depressão pode piorar o tratamento oncológico?
R.: Estudos demonstram que a depressão pode prejudicar a adesão ao tratamento do câncer e levar a um pior prognóstico, especialmente se não tratada adequadamente com devido suporte profissional. O impacto da depressão não se limita aos aspectos emocionais, mas também afeta o bem-estar físico e social do paciente. Além disso, é importante distinguir a depressão de reações emocionais esperadas, como a fase de ajustamento e assimilação ao adoecimento, os ajustamentos de papéis familiares, o luto antecipatório, que podem ocorrer durante o tratamento.
9) Quais conselhos você daria para o paciente/familiar que identificar os sinais de início depressão?
R.: Oscilações de humor são consideradas normais na experiência humana, porém, quando percebemos a persistência dessas alterações e se estão causando prejuízos, tanto emocionais quanto comportamentais, devemos abordar o paciente a buscar ajuda profissional para uma avaliação completa. O Hospital de Amor tem portas abertas para o paciente ou familiar procurar a assistência do profissional da saúde mental.
10) Caso a doença não seja diagnosticada/tratada, quais os riscos os pacientes sofrem?
R.: Quando não tratada adequadamente, a depressão pode afetar negativamente a qualidade de vida do paciente, o que por si só justifica a identificação e o tratamento ativo desse transtorno em indivíduos com câncer. Se não avaliada e tratada corretamente, a depressão pode ter seus sintomas agravados, piorar a funcionalidade do paciente e trazer grande sofrimento, intensificar o isolamento social, causar prejuízos de memória ou cognição, podendo gerar dificuldades no enfrentamento da doença e até o risco de suicídio.
11) Normalmente, qual faixa etária/gênero mais sofrem com a doença?
R.: A depressão pode afetar pessoas de todas as idades, embora seja mais comum em indivíduos entre 20 e 40 anos. No entanto, também é observada uma maior prevalência entre os idosos. As mulheres têm risco maior de desenvolver a depressão, por possíveis fatores como maior exposição a estresses cotidianos, sobrecarga e taxas mais altas de disfunções hormonais.
12) Existe alguma dificuldade para realizar/aceitar o tratamento? Caso sim, quais?
R.: Muitas pessoas ainda apresentam resistência em procurar ajuda para problemas de saúde mental devido à falta de informações adequadas ou crenças equivocadas sobre doenças mentais. Por isso, é importante que os oncologistas incluam a triagem de depressão como parte da rotina de cuidados durante o tratamento de câncer.
13) Criança tem depressão?
R.: Sim, crianças e adolescentes também podem desenvolver depressão. Fatores genéticos e ambientais desempenham um papel importante nesse processo. Os sintomas podem ser confundidos com comportamentos típicos da infância, como malcriação ou agressividade, mas também podem se manifestar em sintomas físicos, como dores de cabeça ou fadiga, irritabilidade, perda de apetite, distúrbio do sono e queda no desempenho escolar.
14) Qual é a diferença da depressão da criança/adolescente/adulto e idoso? Existe? Quais são?
R.: Na infância e adolescência, os sintomas de depressão geralmente se manifestam em mudanças de comportamento. Nos adultos, a falta de prazer em atividades e a alteração do humor são mais experimentados na depressão. Já nos idosos, os sintomas físicos, como tontura, perda de apetite e problemas cognitivos, como dificuldades de memória e atenção, são frequentemente mais notáveis.
15) Como o Hospital de Amor apoia/trata o paciente que está com depressão?
R.: O Hospital de Amor oferece acompanhamento especializado em saúde mental, com uma equipe que inclui psicólogos e duas médicas psiquiatras que fazem assistência nas unidades Antenor Duarte Villela (unidade adulta), Hospital São Judas Tadeu (unidade de cuidados paliativos e atenção ao idoso) e Hospital Infantojuvenil (unidade que oferece tratamento para crianças e adolescentes), em Barretos (SP). O diagnóstico e tratamento da depressão fazem parte do cuidado integral ao paciente oncológico, e a equipe médica de referência deve estar preparada para realizar a avaliação adequada e encaminhar o paciente para o suporte necessário.
Caso você seja paciente ou acompanhante e esteja percebendo algum sinal relacionado à depressão, converse com o seu médico e busque ajuda profissional. Cuidar da saúde é fundamental durante a jornada do tratamento oncológico.