O Hospital de Amor recebeu a visita da equipe da Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG) e selou uma parceria que irá beneficiar diversos pacientes da instituição que realizam tratamento de cânceres de cabeça e pescoço. Em julho deste ano, após a campanha apoiada pelo HA, conhecida como “Julho Verde (que visa despertar a conscientização sobre a prevenção do câncer de cabeça e pescoço), surgiu o interesse da equipe da ACBG em conhecer a instituição e trocar experiências com os profissionais do hospital.
De acordo com a presidente da associação, Melissa Ribeiro, que também venceu um câncer de laringe e preside a organização voluntariamente, o que levou a entidade a se aproximar do Hospital de Amor foi a possibilidade de gerar conexão com mais um centro de referência no Brasil, formando assim, uma rede de colaboração que poderá contribuir com desenvolvimento de novos caminhos, gerando novas políticas públicas para atender melhor às necessidades desse público. “Mesmo antes de existir a associação, eu já tinha ouvido sobre a eficiência e a forma humanizada com que o HA trabalha, e sempre tive muita curiosidade de ver isso de perto”.
Segundo o médico cirurgião do departamento de cabeça e pescoço do Hospital de Amor, Dr. Renato Capuzzo, que também é integrante da ACBG, é muito importante esse contato com a associação, por conta dos diversos especialistas que atuam em todas as áreas de saúde ligadas a esse perfil de tratamento de câncer na entidade. “A organização busca aumentar a eficiência em todas as etapas do tratamento, principalmente, ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou Capuzzo.
Além da visita, o encontro contou com a apresentação do coral ‘Papo Furado’, formado por pacientes do HA para auxiliar na recuperação e inclusão dos pacientes laringectomizados. O grupo de voluntários também visitou o Hospital São Judas Tadeu (unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso) e a unidade infantojuvenil do HA.
Segundo Melissa, ver o atendimento humanizado e a dedicação aplicada pelos colaboradores da instituição, de maneira integral, reafirma a importância dos valores defendidos por sua associação como algo que deveria ser implantado por todos os centros que realizam esse tipo de trabalho, desde o atendimento médico, até o modo como é feito a captação de recursos. “Existem pacientes que vão para casa e ficam reclusos, ou seja, ficam excluídos do convívio da sociedade. A associação nasceu para mudar isso, criando políticas públicas que incentivam o sistema de saúde nesse processo de reabilitação. Para nós, não existe cura se não houver o essencial: um atendimento que priorize todas as etapas da recuperação. ”
Nova conquista
De acordo com a voluntária, cerca de 350 pessoas serão beneficiadas com novos aparelhos de laringe eletrônica, através da recente conquista do reembolso pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pleiteada pela ACBG. Dentre esse grupo de favorecidos, alguns são pacientes do HA. “Essa visita foi fundamental para identificar o perfil e as necessidades deles. Também, para que haja comprovação junto ao Ministério da Saúde e comprometimento de devolver o aparelho em caso de recuperação ou óbito do paciente”, explicou Melissa.
Segundo informações da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), a laringe eletrônica é um equipamento movido a bateria recarregável, portátil, leve e de fácil utilização. É extremamente importante para os pacientes laringectomizados, pois emite a vibração sonora contínua da voz, permitindo que o indivíduo possa ser ouvido.
Para a gerente de enfermagem do departamento de cabeça e pescoço, Elen Vieira, o encontro entre as duas organizações foi de grande valia, pois o hospital pôde ser reconhecido como um centro de excelentes índices de reabilitação dos pacientes com as próteses fonatórias. “É importante que nossos pacientes estejam associados à ACBG. Para o Hospital de Amor, é uma parceria sem custos e que traz muitos benefícios, favorecendo nosso bem maior: o paciente”, finaliza Elen.
Sobre a ABCG
A ACBG é uma organização não governamental de direito privado, sem fins lucrativos, que trabalha em prol dos pacientes de todo o Brasil, portadores de câncer de cabeça e pescoço, além de apoiar seus familiares. Reconhecida como referência nacional, a organização foi fundada em 2015, através do trabalho do Grupo de Acolhimento a Pacientes de Câncer de Boca e Garganta (GAL). As atividades desenvolvidas pela entidade ocorrem graças a participação de vários voluntários, que trabalham com empenho pela causa.
De acordo com o DATASUS, o tabagismo é considerado a maior causa isolada evitável de adoecimento e mortes no mundo. Neste “Dia Nacional de Combate ao Fumo”, o Hospital de Amor traz uma entrevista completa abordando esse assunto com a pneumologista da instituição, Dra. Eliana Lourenço.
Qual a importância de considerarmos o “Dia Nacional de Combate ao Fumo” e qual o objetivo dessa data?
R.: Quando criamos uma discussão sobre esse importante assunto, toda mobilização é válida! Desta forma, conseguimos colocar em foco as consequências, malefícios e doenças que o cigarro pode causar. O objetivo principal dessa data é conscientizar a população sobre os danos que o tabaco pode acarretar na vida e na saúde das pessoas, na tentativa de parar esse consumo tóxico o quanto antes.
Quais os malefícios causados pelo cigarro?
R.: Costumo dizer para os pacientes que o cigarro não tem nenhum componente que faz bem à saúde. Desde do seu papel, até a liberação das substâncias tóxicas, tudo traz prejuízo ao organismo. Para se ter uma ideia, quando uma pessoa inala o cigarro, aproximadamente 5 mil componentes são liberados. Desses, temos a certeza de que 800 causam câncer. Além disso, o calor da fumaça chega até a 800º C e, ao entrar no organismo, queima a mucosa, agredindo-a consideravelmente.
Desde que uma pessoa começa a fumar, quanto tempo ela leva para desenvolver uma doença causada pelo tabaco?
R.: Isso pode variar de um indivíduo para o outro, pois existem pessoas que possuem o organismo mais suscetível para desenvolver doenças do que outras. O que observamos na prática é que elas podem demorar de 10 até 20 anos para se manifestar. É importante entendemos que, a partir do momento que em o cigarro entra no organismo, imediatamente ele já começa a causar alterações perceptíveis, tais como: surgimento de rinite (inflamação na mucosa nasal), espirros e tosses. Já as doenças mais estabelecidas levam de 5 a 10 anos para surgir.
Quais são as doenças mais frequentes causadas por esse vício?
R.: As principais doenças ocasionadas pelo cigarro são as que estão diretamente relacionadas com a fumaça: rinite, bronquite, faringite e várias outras na área da garganta. Sem contar as alterações nas pregas vocais, na voz (onde as pessoas vão ficando roucas), aparecimento de nódulos nessa região, etc.
Existe ainda o aumento da incidência de doenças pulmonares, como o câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica e enfisemas; e as doenças venosas (já que o cigarro aumenta a viscosidade do sangue), como insuficiência venosa, arterial, aumento das chances de infarto e acidentes vasculares.
No Hospital de Amor, é possível encontrar muitos pacientes que desenvolveram câncer por conta do cigarro?
R.: Em relação aos pacientes atendidos pela equipe de pneumologia do hospital, nós temos uma estimativa de que aproximadamente 90% deles têm uma doença relacionada ao uso do cigarro, seja no passado ou no presente.
Ao inalarmos um cigarro, o que acontece com nosso organismo?
R.: Geralmente, a fumaça entra e as substâncias tóxicas são absorvidas. O grande problema é que existem vários compostos no tabaco, como por exemplo: o tolueno, benzeno, cádmio, níquel, fósforo, arsênio e várias outras substâncias que estão presentes em outros produtos, como: tintas, solventes, chumbo e tíner, que são altamente tóxicos para nosso organismo. Além disso, os gases e metais que compõem o cigarro, entram no organismo causando lesões, alterações nas células, irritações e inflamações, principalmente no trato respiratório. Apesar de serem consumidas doses pequenas, são doses diárias. Quando a célula é agredida, ela se regenera, mas, chega um ponto em que essa regeneração começa a ser defeituosa. Inicia-se a produção de células alteradas e o câncer é desenvolvido.
O fumante passivo também tem grandes chances de desenvolver doenças causadas pelo cigarro?
R.: O fumante passivo (aquele não-fumante que convive com fumantes em ambientes fechados, ficando assim, expostos aos componentes tóxicos) é tão prejudicado quanto o fumante ativo. Ao inalar essa fumaça, ele pode absorver uma quantidade maior do que o próprio fumante. Em alguns casos, dependendo do contato, o fumante passivo absorve 2/3 da carga que está sendo exalada. Por exemplo: se uma pessoa fumar 20 cigarros dentro de um quarto, o não-fumante que está ali tem uma absorção de 15 cigarros. É assustador!
Por que é tão fácil viciar-se no cigarro?
R.: A razão do cigarro ser tão atraente está numa substância chamada “nicotina”. A partir do momento em que a fumaça do tabaco é inalada, ela demora 7 segundos para chegar ao cérebro, e lá ela é absorvida. A explicação é simples: a nicotina chega e se liga aos receptores do cérebro que estão relacionados ao sentimento de prazer. Essa sensação (deliciosa para os fumantes) possui um grau de tolerância, ou seja, vai chegar um momento em que essa mesma quantidade de cigarro não proporciona o mesmo prazer, e aí é necessário aumentar o volume de tabaco. É onde nasce o vício.
Quantos cigarros são necessários para uma pessoa ficar viciada?
R.: Um único cigarro já é suficiente. Dependente muito da vulnerabilidade da pessoa, pois existem aquelas que tendem a se viciar muito rapidamente e outras que fazem isso em um grau menor. Mas, no geral, basta um cigarro.
É possível parar de fumar?
R.: Com certeza é possível parar de fumar, porém, não é uma tarefa fácil. As pessoas com maior nível de dependência, ou seja, as consideradas viciadas, possuem mais dificuldade, pois o prazer que elas sentem com o ato é maior. Quando tiramos a nicotina da rotina das pessoas, elas desenvolvem sintomas de abstinência – assim como acontece com outras drogas: dores de cabeça, suores, febre, tristeza, nervosismo intenso, depressão, entre outros. A dificuldade em parar está na dificuldade em se ver livre daquele círculo vicioso do prazer da nicotina.
É justamente por esse motivo, que consideramos o cigarro como uma das piores drogas que existem, pois, além da dependência da substância, há também a dependência de hábito (aquele prazer oral de colocar o cigarro na boca) e a dependência psicológica (momento que em a pessoa enxerga-o com um bom companheiro). Esses indivíduos veem o cigarro como um apoio, uma válvula de escape e, em uma situação de estresse, elas recorrem a ele como forma de se acalmar.
Existem tratamentos para acabar com esse vício?
R.: Uma das principais formas de tratamento está relacionada à tentativa de evitar esse prazer. Para isso, utilizamos duas medicações que atuam na tentativa de bloquear a ação da nicotina no cérebro, diminuindo ou até evitando a sensação prazerosa. Ao ingerir esses remédios, a pessoa passa a sentir um amargor ao fumar, ajudando na diminuição do consumo. Além disso, existe também uma terapia de reposição: tenta-se oferecer a nicotina em um período inicial (através de adesivos, gomas e pastilhas), para que o paciente não sinta tanta falta do cigarro, até ele ir se libertando do vício.
É claro que esses tratamentos não dão tanto prazer como o uso do cigarro. Isso significa que, mesmo usando as medicações, o fumante acaba passando por alguns sintomas da abstinência. Um tratamento completo é o medicamentoso e o psicológico. No HA, são realizados encontros em grupos para que o paciente veja que não está vivendo aquela fase difícil sozinho e encontre mais força para combater o vício.
Em quanto tempo o paciente começa a sentir os benefícios de largar o cigarro?
R.: Geralmente, em 24 horas, a pessoa já sente a diferença! Ela passa a respirar melhor; em 3 dias, a frequência e a pressão cardíacas já se normalizam; em 1 mês, a coloração da pele melhora e o paladar volta ao normal, aumentando o apetite. Em alguns casos, como a comida fica muito saborosa, a pessoa come mais ou acaba substituindo a ansiedade (antes depositada no uso do cigarro) para a comida. Dessa forma, é comum que essas pessoas engordem, em média, de 5 a 6 kg.
O ‘narguilé’ é tão perigoso quanto o cigarro?
R.: A maioria dos narguilés possui nicotina em sua essência. Consideramos que cada 1 hora de uso do narguilé equivale ao uso de 100 cigarros. O malefício é tão grande que o usuário pode passar mal, ter uma parada cardíaca, entre outras complicações, principalmente os que são muito jovens. Esse é o primeiro contato com a nicotina, ou seja, o cérebro começa a se familiarizar com aquela sensação de prazer e, em um segundo momento, o indivíduo vai procurar por uma dose maior daquele sentimento, acabando no cigarro. Isso sem contar outras questões que devemos levar em consideração: em um grupo, o usuário do narguilé passa o mesmo bocal para outra pessoa e acaba disseminando outras doenças infecciosas transmitidas pela saliva, como herpes, mononucleose (conhecida como a ‘doença do beijo’) e hepatites.
Como médica pneumologista, qual é o recado que você deixa para os fumantes nesta data de conscientização?
R.: O ideal seria nunca ter entrado nesse vício, mas, independente disso, não se deixe abater. Não diga frases como: “Eu já estou fumando há muitos anos. Não adianta parar agora, pois meu organismo não vai se recuperar”. Sabemos que existem compostos do cigarro que demoram até 30 anos para sair do organismo, porém, trata-se de uma dose acumulativa, ou seja, a partir do primeiro momento em que você inala o cigarro, aquela dose vai se acumulando. Independentemente da idade, o ideal é parar de fumar, pois é importante não acumular essas substâncias tóxicas dentro do seu organismo.
O Hospital de Amor recebeu a visita da equipe da Associação de Câncer de Boca e Garganta (ACBG) e selou uma parceria que irá beneficiar diversos pacientes da instituição que realizam tratamento de cânceres de cabeça e pescoço. Em julho deste ano, após a campanha apoiada pelo HA, conhecida como “Julho Verde (que visa despertar a conscientização sobre a prevenção do câncer de cabeça e pescoço), surgiu o interesse da equipe da ACBG em conhecer a instituição e trocar experiências com os profissionais do hospital.
De acordo com a presidente da associação, Melissa Ribeiro, que também venceu um câncer de laringe e preside a organização voluntariamente, o que levou a entidade a se aproximar do Hospital de Amor foi a possibilidade de gerar conexão com mais um centro de referência no Brasil, formando assim, uma rede de colaboração que poderá contribuir com desenvolvimento de novos caminhos, gerando novas políticas públicas para atender melhor às necessidades desse público. “Mesmo antes de existir a associação, eu já tinha ouvido sobre a eficiência e a forma humanizada com que o HA trabalha, e sempre tive muita curiosidade de ver isso de perto”.
Segundo o médico cirurgião do departamento de cabeça e pescoço do Hospital de Amor, Dr. Renato Capuzzo, que também é integrante da ACBG, é muito importante esse contato com a associação, por conta dos diversos especialistas que atuam em todas as áreas de saúde ligadas a esse perfil de tratamento de câncer na entidade. “A organização busca aumentar a eficiência em todas as etapas do tratamento, principalmente, ligadas ao Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou Capuzzo.
Além da visita, o encontro contou com a apresentação do coral ‘Papo Furado’, formado por pacientes do HA para auxiliar na recuperação e inclusão dos pacientes laringectomizados. O grupo de voluntários também visitou o Hospital São Judas Tadeu (unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso) e a unidade infantojuvenil do HA.
Segundo Melissa, ver o atendimento humanizado e a dedicação aplicada pelos colaboradores da instituição, de maneira integral, reafirma a importância dos valores defendidos por sua associação como algo que deveria ser implantado por todos os centros que realizam esse tipo de trabalho, desde o atendimento médico, até o modo como é feito a captação de recursos. “Existem pacientes que vão para casa e ficam reclusos, ou seja, ficam excluídos do convívio da sociedade. A associação nasceu para mudar isso, criando políticas públicas que incentivam o sistema de saúde nesse processo de reabilitação. Para nós, não existe cura se não houver o essencial: um atendimento que priorize todas as etapas da recuperação. ”
Nova conquista
De acordo com a voluntária, cerca de 350 pessoas serão beneficiadas com novos aparelhos de laringe eletrônica, através da recente conquista do reembolso pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pleiteada pela ACBG. Dentre esse grupo de favorecidos, alguns são pacientes do HA. “Essa visita foi fundamental para identificar o perfil e as necessidades deles. Também, para que haja comprovação junto ao Ministério da Saúde e comprometimento de devolver o aparelho em caso de recuperação ou óbito do paciente”, explicou Melissa.
Segundo informações da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), a laringe eletrônica é um equipamento movido a bateria recarregável, portátil, leve e de fácil utilização. É extremamente importante para os pacientes laringectomizados, pois emite a vibração sonora contínua da voz, permitindo que o indivíduo possa ser ouvido.
Para a gerente de enfermagem do departamento de cabeça e pescoço, Elen Vieira, o encontro entre as duas organizações foi de grande valia, pois o hospital pôde ser reconhecido como um centro de excelentes índices de reabilitação dos pacientes com as próteses fonatórias. “É importante que nossos pacientes estejam associados à ACBG. Para o Hospital de Amor, é uma parceria sem custos e que traz muitos benefícios, favorecendo nosso bem maior: o paciente”, finaliza Elen.
Sobre a ABCG
A ACBG é uma organização não governamental de direito privado, sem fins lucrativos, que trabalha em prol dos pacientes de todo o Brasil, portadores de câncer de cabeça e pescoço, além de apoiar seus familiares. Reconhecida como referência nacional, a organização foi fundada em 2015, através do trabalho do Grupo de Acolhimento a Pacientes de Câncer de Boca e Garganta (GAL). As atividades desenvolvidas pela entidade ocorrem graças a participação de vários voluntários, que trabalham com empenho pela causa.
De acordo com o DATASUS, o tabagismo é considerado a maior causa isolada evitável de adoecimento e mortes no mundo. Neste “Dia Nacional de Combate ao Fumo”, o Hospital de Amor traz uma entrevista completa abordando esse assunto com a pneumologista da instituição, Dra. Eliana Lourenço.
Qual a importância de considerarmos o “Dia Nacional de Combate ao Fumo” e qual o objetivo dessa data?
R.: Quando criamos uma discussão sobre esse importante assunto, toda mobilização é válida! Desta forma, conseguimos colocar em foco as consequências, malefícios e doenças que o cigarro pode causar. O objetivo principal dessa data é conscientizar a população sobre os danos que o tabaco pode acarretar na vida e na saúde das pessoas, na tentativa de parar esse consumo tóxico o quanto antes.
Quais os malefícios causados pelo cigarro?
R.: Costumo dizer para os pacientes que o cigarro não tem nenhum componente que faz bem à saúde. Desde do seu papel, até a liberação das substâncias tóxicas, tudo traz prejuízo ao organismo. Para se ter uma ideia, quando uma pessoa inala o cigarro, aproximadamente 5 mil componentes são liberados. Desses, temos a certeza de que 800 causam câncer. Além disso, o calor da fumaça chega até a 800º C e, ao entrar no organismo, queima a mucosa, agredindo-a consideravelmente.
Desde que uma pessoa começa a fumar, quanto tempo ela leva para desenvolver uma doença causada pelo tabaco?
R.: Isso pode variar de um indivíduo para o outro, pois existem pessoas que possuem o organismo mais suscetível para desenvolver doenças do que outras. O que observamos na prática é que elas podem demorar de 10 até 20 anos para se manifestar. É importante entendemos que, a partir do momento que em o cigarro entra no organismo, imediatamente ele já começa a causar alterações perceptíveis, tais como: surgimento de rinite (inflamação na mucosa nasal), espirros e tosses. Já as doenças mais estabelecidas levam de 5 a 10 anos para surgir.
Quais são as doenças mais frequentes causadas por esse vício?
R.: As principais doenças ocasionadas pelo cigarro são as que estão diretamente relacionadas com a fumaça: rinite, bronquite, faringite e várias outras na área da garganta. Sem contar as alterações nas pregas vocais, na voz (onde as pessoas vão ficando roucas), aparecimento de nódulos nessa região, etc.
Existe ainda o aumento da incidência de doenças pulmonares, como o câncer de pulmão, doença pulmonar obstrutiva crônica e enfisemas; e as doenças venosas (já que o cigarro aumenta a viscosidade do sangue), como insuficiência venosa, arterial, aumento das chances de infarto e acidentes vasculares.
No Hospital de Amor, é possível encontrar muitos pacientes que desenvolveram câncer por conta do cigarro?
R.: Em relação aos pacientes atendidos pela equipe de pneumologia do hospital, nós temos uma estimativa de que aproximadamente 90% deles têm uma doença relacionada ao uso do cigarro, seja no passado ou no presente.
Ao inalarmos um cigarro, o que acontece com nosso organismo?
R.: Geralmente, a fumaça entra e as substâncias tóxicas são absorvidas. O grande problema é que existem vários compostos no tabaco, como por exemplo: o tolueno, benzeno, cádmio, níquel, fósforo, arsênio e várias outras substâncias que estão presentes em outros produtos, como: tintas, solventes, chumbo e tíner, que são altamente tóxicos para nosso organismo. Além disso, os gases e metais que compõem o cigarro, entram no organismo causando lesões, alterações nas células, irritações e inflamações, principalmente no trato respiratório. Apesar de serem consumidas doses pequenas, são doses diárias. Quando a célula é agredida, ela se regenera, mas, chega um ponto em que essa regeneração começa a ser defeituosa. Inicia-se a produção de células alteradas e o câncer é desenvolvido.
O fumante passivo também tem grandes chances de desenvolver doenças causadas pelo cigarro?
R.: O fumante passivo (aquele não-fumante que convive com fumantes em ambientes fechados, ficando assim, expostos aos componentes tóxicos) é tão prejudicado quanto o fumante ativo. Ao inalar essa fumaça, ele pode absorver uma quantidade maior do que o próprio fumante. Em alguns casos, dependendo do contato, o fumante passivo absorve 2/3 da carga que está sendo exalada. Por exemplo: se uma pessoa fumar 20 cigarros dentro de um quarto, o não-fumante que está ali tem uma absorção de 15 cigarros. É assustador!
Por que é tão fácil viciar-se no cigarro?
R.: A razão do cigarro ser tão atraente está numa substância chamada “nicotina”. A partir do momento em que a fumaça do tabaco é inalada, ela demora 7 segundos para chegar ao cérebro, e lá ela é absorvida. A explicação é simples: a nicotina chega e se liga aos receptores do cérebro que estão relacionados ao sentimento de prazer. Essa sensação (deliciosa para os fumantes) possui um grau de tolerância, ou seja, vai chegar um momento em que essa mesma quantidade de cigarro não proporciona o mesmo prazer, e aí é necessário aumentar o volume de tabaco. É onde nasce o vício.
Quantos cigarros são necessários para uma pessoa ficar viciada?
R.: Um único cigarro já é suficiente. Dependente muito da vulnerabilidade da pessoa, pois existem aquelas que tendem a se viciar muito rapidamente e outras que fazem isso em um grau menor. Mas, no geral, basta um cigarro.
É possível parar de fumar?
R.: Com certeza é possível parar de fumar, porém, não é uma tarefa fácil. As pessoas com maior nível de dependência, ou seja, as consideradas viciadas, possuem mais dificuldade, pois o prazer que elas sentem com o ato é maior. Quando tiramos a nicotina da rotina das pessoas, elas desenvolvem sintomas de abstinência – assim como acontece com outras drogas: dores de cabeça, suores, febre, tristeza, nervosismo intenso, depressão, entre outros. A dificuldade em parar está na dificuldade em se ver livre daquele círculo vicioso do prazer da nicotina.
É justamente por esse motivo, que consideramos o cigarro como uma das piores drogas que existem, pois, além da dependência da substância, há também a dependência de hábito (aquele prazer oral de colocar o cigarro na boca) e a dependência psicológica (momento que em a pessoa enxerga-o com um bom companheiro). Esses indivíduos veem o cigarro como um apoio, uma válvula de escape e, em uma situação de estresse, elas recorrem a ele como forma de se acalmar.
Existem tratamentos para acabar com esse vício?
R.: Uma das principais formas de tratamento está relacionada à tentativa de evitar esse prazer. Para isso, utilizamos duas medicações que atuam na tentativa de bloquear a ação da nicotina no cérebro, diminuindo ou até evitando a sensação prazerosa. Ao ingerir esses remédios, a pessoa passa a sentir um amargor ao fumar, ajudando na diminuição do consumo. Além disso, existe também uma terapia de reposição: tenta-se oferecer a nicotina em um período inicial (através de adesivos, gomas e pastilhas), para que o paciente não sinta tanta falta do cigarro, até ele ir se libertando do vício.
É claro que esses tratamentos não dão tanto prazer como o uso do cigarro. Isso significa que, mesmo usando as medicações, o fumante acaba passando por alguns sintomas da abstinência. Um tratamento completo é o medicamentoso e o psicológico. No HA, são realizados encontros em grupos para que o paciente veja que não está vivendo aquela fase difícil sozinho e encontre mais força para combater o vício.
Em quanto tempo o paciente começa a sentir os benefícios de largar o cigarro?
R.: Geralmente, em 24 horas, a pessoa já sente a diferença! Ela passa a respirar melhor; em 3 dias, a frequência e a pressão cardíacas já se normalizam; em 1 mês, a coloração da pele melhora e o paladar volta ao normal, aumentando o apetite. Em alguns casos, como a comida fica muito saborosa, a pessoa come mais ou acaba substituindo a ansiedade (antes depositada no uso do cigarro) para a comida. Dessa forma, é comum que essas pessoas engordem, em média, de 5 a 6 kg.
O ‘narguilé’ é tão perigoso quanto o cigarro?
R.: A maioria dos narguilés possui nicotina em sua essência. Consideramos que cada 1 hora de uso do narguilé equivale ao uso de 100 cigarros. O malefício é tão grande que o usuário pode passar mal, ter uma parada cardíaca, entre outras complicações, principalmente os que são muito jovens. Esse é o primeiro contato com a nicotina, ou seja, o cérebro começa a se familiarizar com aquela sensação de prazer e, em um segundo momento, o indivíduo vai procurar por uma dose maior daquele sentimento, acabando no cigarro. Isso sem contar outras questões que devemos levar em consideração: em um grupo, o usuário do narguilé passa o mesmo bocal para outra pessoa e acaba disseminando outras doenças infecciosas transmitidas pela saliva, como herpes, mononucleose (conhecida como a ‘doença do beijo’) e hepatites.
Como médica pneumologista, qual é o recado que você deixa para os fumantes nesta data de conscientização?
R.: O ideal seria nunca ter entrado nesse vício, mas, independente disso, não se deixe abater. Não diga frases como: “Eu já estou fumando há muitos anos. Não adianta parar agora, pois meu organismo não vai se recuperar”. Sabemos que existem compostos do cigarro que demoram até 30 anos para sair do organismo, porém, trata-se de uma dose acumulativa, ou seja, a partir do primeiro momento em que você inala o cigarro, aquela dose vai se acumulando. Independentemente da idade, o ideal é parar de fumar, pois é importante não acumular essas substâncias tóxicas dentro do seu organismo.