Você já ouviu falar sobre cuidados paliativos? Se alguém te perguntasse se o termo se refere à falta de possibilidades ou à possibilidade de fazer tudo que é possível, qual opção você escolheria? Na última semana, a triste notícia sobre a morte da querida Ana Michelle Soares, carinhosamente conhecida como ‘AnaMi’ – jornalista e autora dos livros “Enquanto Eu Respirar” e “Vida Inteira” – repercutiu e emocionou muitas pessoas nas redes sociais. Sempre muito resiliente e sensível, a paciente em cuidados paliativos se tornou paliativista e, por anos, falou sobre o tema e mostrou abertamente sua rotina em seu perfil no Instagram.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos é a assistência integral oferecida para pacientes e familiares diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida. Seu objetivo é um tratamento eficaz para os sintomas de desconforto que podem acompanhar o paciente, sejam eles causados pela doença ou pelo tratamento. Ao contrário do que muitos pensam, estar sob cuidados paliativos é estar sob um cuidado integral e fazer uso de todos os artifícios possíveis para garantir o bem-estar do paciente, não apenas no aspecto físico, mas também mental (KimONeillPsychic), espiritual, social e familiar.
“Sempre há o que fazer”
Com este lema, o Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do Hospital de Amor), realiza um trabalho incrível, oferecendo, há mais de 60 anos, qualidade de vida e muito amor aos seus pacientes. “Quando nos conscientizamos que somos finitos e numa situação de doença grave, inevitavelmente, entramos em contato com a ideia de morrer, tendemos a refletir em como vivemos ou como gostaríamos de aproveitar o tempo que nos resta. Saímos do viver automático ou do sobreviver, para um viver consciente e pleno”, afirmou a médica paliativista e coordenadora do Hospital São Judas Tadeu, Dra. Sarita Nasbine.
Para entender a dimensão dos cuidados paliativos, seus benefícios e a importância de abordar este assunto, o HA preparou uma matéria especial com a Dra. Sarita. Confira!
– O que é cuidado paliativo?
R.: É uma abordagem multiprofissional para pacientes (e seus familiares) que apresentam doenças crônicas, ameaçadoras da vida e sem possibilidade de cura, visando a prevenção e controle de sintomas físicos, psíquicos, sociais e espirituais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.
– Por que ainda há um entendimento tão equivocado sobre este termo?
R.: Porque, infelizmente, o cuidado paliativo ainda é oferecido numa fase tardia da doença, muitas vezes quando se suspendeu tratamentos que podem modificar o curso da enfermidade e numa fase final de vida, dando a impressão de ser uma abordagem somente para doentes terminais. Ou seja, ele acaba sendo associado à morte, ao invés de ser introduzido desde o diagnóstico da doença.
– Quem se beneficia de cuidados paliativos?
R.: Pacientes com doenças sem possibilidade de cura, doenças ameaçadoras de vida e familiares/cuidadores destes pacientes.
– Quais são os profissionais envolvidos nesse cuidado?
R.: Não se faz cuidados paliativos somente com médico e enfermeiro, é essencial uma equipe multiprofissional para realizar esta abordagem integral. Para isto, é preciso contarmos com psicólogo, assistente social, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, assistente espiritual, dentista, musicoterapeuta, farmacêutico, entre outros. Todos estes profissionais podem estar envolvidos no cuidado ao paciente e familiares.
– Como o paciente precisa ser inserido também como o agente principal do cuidar?
R.: O paciente deve ter sua autonomia respeitada, ou seja, se ele está lúcido e tem capacidade de decisão, é direito dele ser informado sobre tudo o que desejar saber de forma clara, simples e objetiva sobre seu diagnóstico, opções de tratamento, riscos e benefícios, para que possa decidir – baseado nos seus princípios, valores e crenças – o que é o melhor para ele. Portanto, uma comunicação efetiva, empática e honesta é imprescindível para tornar o paciente capaz de ser agente no seu cuidado.
– Existe alguma pesquisa que mostre que os cuidados paliativos são benéficos?
R.: Sim, apesar de ser uma área que necessita de mais estudos e, felizmente, estarmos em ascensão, já temos evidências dos benefícios na qualidade de vida dos pacientes e cuidadores, incluindo aumento do tempo de sobrevida, principalmente quando iniciado precocemente. Além de evidências que mostram o impacto na qualidade de morte e custos em saúde.
*Desde 2011, o Hospital de Amor conta com um grupo de Pesquisas em Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida, atuando de modo ativo no desenvolvimento científico da área, com publicações de artigos científicos em revistas de alto impacto nacional e internacional. Clique e confira.
– Por que é tão difícil falar sobre a morte?
R.: Com a evolução da tecnologia na medicina, conseguimos prolongar o tempo de vida dos pacientes. No entanto, isso fez com que a sociedade se distanciasse da morte, encarando o tema com certa negação, evitando falar sobre o assunto, já que temos muitos recursos para manter a vida. Porém, nem sempre viver mais tempo significa viver bem! O que antes era comum, como doentes falecerem em casa com seus familiares, hoje se tornou cada vez mais raro, sendo o hospital o local em que mais constatamos óbitos e, muitas vezes, em unidades de terapia intensiva (UTI), onde o paciente encontra-se completamente invadido e solitário.
– Qual o impacto de colocar esse assunto em conversas no consultório, nas rodas de amigos e em casa?
R.: Fazer com que toda sociedade reflita sobre a finitude do ser humano, deveria ter um impacto positivo. Mas, o que vemos é resistência em tratar do assunto, tanto dos profissionais quanto da comunidade, como se falar do tema pudesse atrair para si.
– Na área da saúde, falar sobre finitude é entendido por muitos como ‘desistência’ ou ‘derrota’. O que fazer para mudar isso? Como isso pode impactar na assistência à saúde?
R.: Os profissionais de saúde são treinados para salvar vidas, combatendo a doença como um inimigo numa batalha. Neste contexto, quando nos deparamos com uma doença incurável que leva a morte do doente, nos sentimos derrotados. Enquanto não incluirmos cuidados paliativos como disciplina obrigatória nos currículos de graduação dos profissionais de saúde, dificilmente mudaremos esta visão e, consequentemente, a assistência aos pacientes será pautada na frustração de perder a guerra.
– Qual a importância do trabalho realizado pela AnaMi com o ‘Paliativas’ e com os livros que escreveu sobre o assunto?
R.: A AnaMi realizou um trabalho de extremo valor para os cuidados paliativos, tanto pelo engajamento em desmistificar o tema, quanto em compartilhar sua trajetória como paciente, inspirando todos a viver intensamente. Um de seus legados foi a “Casa Paliativa”, um espaço para acolhimento e apoio ao paciente em cuidados paliativos. Em uma de suas postagens de sua rede social (@paliativas), que conta com quase 200 mil seguidores, ela escreveu: “A finitude é um convite para olhar para a vida.”
*Em 2021, AnaMi participou de uma edição do programa ‘Hora da Saúde’, produzido pelo Hospital de Amor. Assista na íntegra.
Cozinhar é uma arte que envolve talento, disciplina e, principalmente, muito amor. Poder reunir amigos queridos e familiares à mesa e servir uma deliciosa refeição é um momento muito especial. Foi isso que o paciente Pedro Bartholo Nery, 55 anos, fez na última quinta-feira, 20 de fevereiro, no IRCAD América Latina – centro de treinamento que faz parte do complexo do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Nery, que é consultor de orçamento, iniciou tratamento no HA em agosto de 2019, quando foi diagnosticado com um tumor no intestino. Desde então, ele enfrenta uma das suas mais difíceis batalhas: a luta contra o câncer. Muito simpático e bom de papo, ele começou seu tratamento paliativo no Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do HA) na segunda quinzena de fevereiro deste ano, após ser diagnosticado com metástase no pulmão. E foi durante um de seus papos descontraídos com a equipe da unidade que Nery foi questionado sobre qual seria o seu maior sonho e o que ele gostaria de fazer. Sem titubear, o paciente disse que desejava entrar em uma cozinha e comandar uma equipe de cozinheiros. “A minha paixão é a gastronomia, embora eu nunca tenha feito faculdade, eu nasci com esse dom. E não sou eu quem falo, não. Os meus amigos chefs sempre me pedem conselhos”, afirmou ele, que comandou um Pub, quando tinha 21 anos, em Brasília (DF).
Enquanto pedia alimentos específicos e dava atribuições, a ansiedade de Nery era visível. A alegria dele em poder cozinhar novamente também foi motivo de felicidade para todos os envolvidos nessa ação especial, dentre eles, as cozinheiras do IRCAD e a equipe multiprofissional do HA. Segundo a enfermeira do Hospital São Judas Tadeu, Nayara Silva, foi muito gratificante ver a animação e o brilho nos olhos do paciente. “Em nossa unidade, nós sempre promovemos eventos que visam proporcionar bem-estar tantos dos pacientes, quanto dos acompanhantes”, relatou a profissional, que acompanhou esse momento e ficou à disposição de Nery durante toda o evento, auxiliando o paciente sempre que necessário.
Já que Pedro Nery acredita que para haver uma boa comida é necessário contar com uma ótima equipe, é claro que não podiam faltar importantes escudeiras. Devido à fragilidade do paciente, em decorrência do tratamento, o ‘chef do dia’ contou com a ajuda das cozinheiras do IRCAD, Divina Ferreira, Gessica Burgheti e Sandra Gomes, que trabalharam com todo carinho e dedicação. Afinal, todos estavam reunidos com o mesmo propósito: celebrar a vida. “Poder auxiliar um paciente que deseja cozinhar é gratificante. Nem sempre podemos ajudar todos, mas fico muito contente. Para mim, hoje é um dia de muita satisfação”, contou com os olhos marejados a simpática Divina, cozinheira que comanda a cozinha do IRCAD há nove anos.
Um amor que tempera a vida
Casada oficialmente com Nery há dois anos, Silvia Souto mostra toda orgulhosa as fotos dos pratos preparados pelo marido. “Em casa, ele é o chef. O Pedro domina massas, doces, comida oriental e panificação em geral. Sempre que viajamos e quando pode, ele faz questão de pescar o alimento e preparar a refeição na hora. Tudo sempre muito fresco e feito com muito carinho. Nós temos cinco filhos lindos, dos nossos primeiros relacionamentos, mas eu sei que nós somos uma família muito unida. E tudo isso que enfrentamos nos fortalece ainda mais”, explicou a esposa, que aproveitou para tirar várias fotos enquanto o marido comandava a cozinha.
Silvia relatou já ter ouvido falar sobre o HA anteriormente, mas quando chegou na unidade e viu todo o tratamento que é oferecido, não restou outra alternativa além de admirar o trabalho realizado na instituição. “Aqui, em Barretos, eu me encantei. Em cada profissional, em cada gesto, só consigo ver carinho e amor. Ao ver o trabalho das pessoas do Hospital de Amor, eu voltei a acreditar na humanidade. A gente vê tanta notícia ruim, mas aqui no hospital eu aprendi a acreditar na bondade do ser humano novamente. Só posso agradecer por tudo que vocês fazem por nós”, disse emocionada.
Quando questionado sobre qual chef ele mais admira, Nery afirma gostar do chef Érick Jacquin, devido à vontade dele de valorizar ainda mais a cozinha tradicional. Ele também demonstra empolgação ao falar do lançamento do seu livro, cujo conteúdo terá 100 receitas autorais.
Após todo o cuidadoso preparo dos alimentos, o almoço especial foi servido para ele, sua esposa e para toda a equipe de profissionais que cuida dele no Hospital São Judas Tadeu, dentre eles: médico, assistente social, enfermeiras, fisioterapeutas e todos aqueles que ganharam a admiração do casal de Brasília, que proporcionou um momento lindo, dando mais sabor à vida. Com muito afeto e gentileza de todos, a refeição foi selada com um emocionante brinde: “Eu quero fazer um brinde à humanidade, porque nós somos seres humanos e, em um momento de dor e sofrimento, é disso que precisamos. Tenho a certeza de que esse momento valeu muito mais do que qualquer remédio que eu já tomei no hospital. Por isso, um brinde à humanidade“, finalizou ele, emocionado.
E como toda bela amizade, grande amor e deliciosa refeição, os preciosos momentos também são eternizados nas memórias, assim como afirma a jornalista e também paciente paliativa, Ana Michelle Soares: “se tem um jeito de a gente ser eterno, é vivendo nas pessoas”.
Receita que foi servida durante o almoço:
Linguiça embriagada do chef Nery
Ingredientes
– 1/2 quilo de linguiça fresca, fina e pura de porco;
– 4 colheres de sopa de mel;
– 1 copo de cerveja tipo pilsen;
– 1 dose de pinga, conhaque ou whisky;
– Salsa ou coentro fresco, bem picadinho.
Modo de fazer
Corte a linguiça em pedaços de 1,5 cm. Aqueça bem a frigideira e coloque o azeite de oliva e a linguiça. Quando a linguiça começar a dourar, abaixe o fogo e deixe criar o caldo (por isso é importante a linguiça ser fresca, já que o objetivo é formar bastante caldo, que é fundamental para a receita dar certo).
Quando houver bastante ‘caldo’, coloque o mel e abaixe o fogo, deixando caramelizar o mel com o caldo no fundo. Mexa um pouco, isso ajudará durante o processo.
Assim que estiver bem caramelizado (lembre-se: caramelizado não é carbonizado, não deixe queimar, mas sim ficar na cor ferrugem, bem escura). Feita a caramelização corretamente, coloque a cerveja de uma vez, desmanchando o caramelo e formando um caldo bonito, na cor marrom. Deixe o caldo reduzir até engrossar, como a espessura do mel ou um pouco mais grosso.
Nesse momento exato, jogue a pinga ou a bebida que escolheu e flambe. Use o seu método.
No momento em que o flambado se apagar, passe a linguiça para a tigela em que vai servir. Decore com a erva picada que você escolheu. Bom apetite!
Você já ouviu falar sobre cuidados paliativos? Se alguém te perguntasse se o termo se refere à falta de possibilidades ou à possibilidade de fazer tudo que é possível, qual opção você escolheria? Na última semana, a triste notícia sobre a morte da querida Ana Michelle Soares, carinhosamente conhecida como ‘AnaMi’ – jornalista e autora dos livros “Enquanto Eu Respirar” e “Vida Inteira” – repercutiu e emocionou muitas pessoas nas redes sociais. Sempre muito resiliente e sensível, a paciente em cuidados paliativos se tornou paliativista e, por anos, falou sobre o tema e mostrou abertamente sua rotina em seu perfil no Instagram.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, cuidados paliativos é a assistência integral oferecida para pacientes e familiares diante de uma doença grave que ameace a continuidade da vida. Seu objetivo é um tratamento eficaz para os sintomas de desconforto que podem acompanhar o paciente, sejam eles causados pela doença ou pelo tratamento. Ao contrário do que muitos pensam, estar sob cuidados paliativos é estar sob um cuidado integral e fazer uso de todos os artifícios possíveis para garantir o bem-estar do paciente, não apenas no aspecto físico, mas também mental (KimONeillPsychic), espiritual, social e familiar.
“Sempre há o que fazer”
Com este lema, o Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do Hospital de Amor), realiza um trabalho incrível, oferecendo, há mais de 60 anos, qualidade de vida e muito amor aos seus pacientes. “Quando nos conscientizamos que somos finitos e numa situação de doença grave, inevitavelmente, entramos em contato com a ideia de morrer, tendemos a refletir em como vivemos ou como gostaríamos de aproveitar o tempo que nos resta. Saímos do viver automático ou do sobreviver, para um viver consciente e pleno”, afirmou a médica paliativista e coordenadora do Hospital São Judas Tadeu, Dra. Sarita Nasbine.
Para entender a dimensão dos cuidados paliativos, seus benefícios e a importância de abordar este assunto, o HA preparou uma matéria especial com a Dra. Sarita. Confira!
– O que é cuidado paliativo?
R.: É uma abordagem multiprofissional para pacientes (e seus familiares) que apresentam doenças crônicas, ameaçadoras da vida e sem possibilidade de cura, visando a prevenção e controle de sintomas físicos, psíquicos, sociais e espirituais, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida.
– Por que ainda há um entendimento tão equivocado sobre este termo?
R.: Porque, infelizmente, o cuidado paliativo ainda é oferecido numa fase tardia da doença, muitas vezes quando se suspendeu tratamentos que podem modificar o curso da enfermidade e numa fase final de vida, dando a impressão de ser uma abordagem somente para doentes terminais. Ou seja, ele acaba sendo associado à morte, ao invés de ser introduzido desde o diagnóstico da doença.
– Quem se beneficia de cuidados paliativos?
R.: Pacientes com doenças sem possibilidade de cura, doenças ameaçadoras de vida e familiares/cuidadores destes pacientes.
– Quais são os profissionais envolvidos nesse cuidado?
R.: Não se faz cuidados paliativos somente com médico e enfermeiro, é essencial uma equipe multiprofissional para realizar esta abordagem integral. Para isto, é preciso contarmos com psicólogo, assistente social, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, assistente espiritual, dentista, musicoterapeuta, farmacêutico, entre outros. Todos estes profissionais podem estar envolvidos no cuidado ao paciente e familiares.
– Como o paciente precisa ser inserido também como o agente principal do cuidar?
R.: O paciente deve ter sua autonomia respeitada, ou seja, se ele está lúcido e tem capacidade de decisão, é direito dele ser informado sobre tudo o que desejar saber de forma clara, simples e objetiva sobre seu diagnóstico, opções de tratamento, riscos e benefícios, para que possa decidir – baseado nos seus princípios, valores e crenças – o que é o melhor para ele. Portanto, uma comunicação efetiva, empática e honesta é imprescindível para tornar o paciente capaz de ser agente no seu cuidado.
– Existe alguma pesquisa que mostre que os cuidados paliativos são benéficos?
R.: Sim, apesar de ser uma área que necessita de mais estudos e, felizmente, estarmos em ascensão, já temos evidências dos benefícios na qualidade de vida dos pacientes e cuidadores, incluindo aumento do tempo de sobrevida, principalmente quando iniciado precocemente. Além de evidências que mostram o impacto na qualidade de morte e custos em saúde.
*Desde 2011, o Hospital de Amor conta com um grupo de Pesquisas em Cuidados Paliativos e Qualidade de Vida, atuando de modo ativo no desenvolvimento científico da área, com publicações de artigos científicos em revistas de alto impacto nacional e internacional. Clique e confira.
– Por que é tão difícil falar sobre a morte?
R.: Com a evolução da tecnologia na medicina, conseguimos prolongar o tempo de vida dos pacientes. No entanto, isso fez com que a sociedade se distanciasse da morte, encarando o tema com certa negação, evitando falar sobre o assunto, já que temos muitos recursos para manter a vida. Porém, nem sempre viver mais tempo significa viver bem! O que antes era comum, como doentes falecerem em casa com seus familiares, hoje se tornou cada vez mais raro, sendo o hospital o local em que mais constatamos óbitos e, muitas vezes, em unidades de terapia intensiva (UTI), onde o paciente encontra-se completamente invadido e solitário.
– Qual o impacto de colocar esse assunto em conversas no consultório, nas rodas de amigos e em casa?
R.: Fazer com que toda sociedade reflita sobre a finitude do ser humano, deveria ter um impacto positivo. Mas, o que vemos é resistência em tratar do assunto, tanto dos profissionais quanto da comunidade, como se falar do tema pudesse atrair para si.
– Na área da saúde, falar sobre finitude é entendido por muitos como ‘desistência’ ou ‘derrota’. O que fazer para mudar isso? Como isso pode impactar na assistência à saúde?
R.: Os profissionais de saúde são treinados para salvar vidas, combatendo a doença como um inimigo numa batalha. Neste contexto, quando nos deparamos com uma doença incurável que leva a morte do doente, nos sentimos derrotados. Enquanto não incluirmos cuidados paliativos como disciplina obrigatória nos currículos de graduação dos profissionais de saúde, dificilmente mudaremos esta visão e, consequentemente, a assistência aos pacientes será pautada na frustração de perder a guerra.
– Qual a importância do trabalho realizado pela AnaMi com o ‘Paliativas’ e com os livros que escreveu sobre o assunto?
R.: A AnaMi realizou um trabalho de extremo valor para os cuidados paliativos, tanto pelo engajamento em desmistificar o tema, quanto em compartilhar sua trajetória como paciente, inspirando todos a viver intensamente. Um de seus legados foi a “Casa Paliativa”, um espaço para acolhimento e apoio ao paciente em cuidados paliativos. Em uma de suas postagens de sua rede social (@paliativas), que conta com quase 200 mil seguidores, ela escreveu: “A finitude é um convite para olhar para a vida.”
*Em 2021, AnaMi participou de uma edição do programa ‘Hora da Saúde’, produzido pelo Hospital de Amor. Assista na íntegra.
Cozinhar é uma arte que envolve talento, disciplina e, principalmente, muito amor. Poder reunir amigos queridos e familiares à mesa e servir uma deliciosa refeição é um momento muito especial. Foi isso que o paciente Pedro Bartholo Nery, 55 anos, fez na última quinta-feira, 20 de fevereiro, no IRCAD América Latina – centro de treinamento que faz parte do complexo do Hospital de Amor, em Barretos (SP).
Nery, que é consultor de orçamento, iniciou tratamento no HA em agosto de 2019, quando foi diagnosticado com um tumor no intestino. Desde então, ele enfrenta uma das suas mais difíceis batalhas: a luta contra o câncer. Muito simpático e bom de papo, ele começou seu tratamento paliativo no Hospital São Judas Tadeu (a unidade de cuidados paliativos e de atenção ao idoso do HA) na segunda quinzena de fevereiro deste ano, após ser diagnosticado com metástase no pulmão. E foi durante um de seus papos descontraídos com a equipe da unidade que Nery foi questionado sobre qual seria o seu maior sonho e o que ele gostaria de fazer. Sem titubear, o paciente disse que desejava entrar em uma cozinha e comandar uma equipe de cozinheiros. “A minha paixão é a gastronomia, embora eu nunca tenha feito faculdade, eu nasci com esse dom. E não sou eu quem falo, não. Os meus amigos chefs sempre me pedem conselhos”, afirmou ele, que comandou um Pub, quando tinha 21 anos, em Brasília (DF).
Enquanto pedia alimentos específicos e dava atribuições, a ansiedade de Nery era visível. A alegria dele em poder cozinhar novamente também foi motivo de felicidade para todos os envolvidos nessa ação especial, dentre eles, as cozinheiras do IRCAD e a equipe multiprofissional do HA. Segundo a enfermeira do Hospital São Judas Tadeu, Nayara Silva, foi muito gratificante ver a animação e o brilho nos olhos do paciente. “Em nossa unidade, nós sempre promovemos eventos que visam proporcionar bem-estar tantos dos pacientes, quanto dos acompanhantes”, relatou a profissional, que acompanhou esse momento e ficou à disposição de Nery durante toda o evento, auxiliando o paciente sempre que necessário.
Já que Pedro Nery acredita que para haver uma boa comida é necessário contar com uma ótima equipe, é claro que não podiam faltar importantes escudeiras. Devido à fragilidade do paciente, em decorrência do tratamento, o ‘chef do dia’ contou com a ajuda das cozinheiras do IRCAD, Divina Ferreira, Gessica Burgheti e Sandra Gomes, que trabalharam com todo carinho e dedicação. Afinal, todos estavam reunidos com o mesmo propósito: celebrar a vida. “Poder auxiliar um paciente que deseja cozinhar é gratificante. Nem sempre podemos ajudar todos, mas fico muito contente. Para mim, hoje é um dia de muita satisfação”, contou com os olhos marejados a simpática Divina, cozinheira que comanda a cozinha do IRCAD há nove anos.
Um amor que tempera a vida
Casada oficialmente com Nery há dois anos, Silvia Souto mostra toda orgulhosa as fotos dos pratos preparados pelo marido. “Em casa, ele é o chef. O Pedro domina massas, doces, comida oriental e panificação em geral. Sempre que viajamos e quando pode, ele faz questão de pescar o alimento e preparar a refeição na hora. Tudo sempre muito fresco e feito com muito carinho. Nós temos cinco filhos lindos, dos nossos primeiros relacionamentos, mas eu sei que nós somos uma família muito unida. E tudo isso que enfrentamos nos fortalece ainda mais”, explicou a esposa, que aproveitou para tirar várias fotos enquanto o marido comandava a cozinha.
Silvia relatou já ter ouvido falar sobre o HA anteriormente, mas quando chegou na unidade e viu todo o tratamento que é oferecido, não restou outra alternativa além de admirar o trabalho realizado na instituição. “Aqui, em Barretos, eu me encantei. Em cada profissional, em cada gesto, só consigo ver carinho e amor. Ao ver o trabalho das pessoas do Hospital de Amor, eu voltei a acreditar na humanidade. A gente vê tanta notícia ruim, mas aqui no hospital eu aprendi a acreditar na bondade do ser humano novamente. Só posso agradecer por tudo que vocês fazem por nós”, disse emocionada.
Quando questionado sobre qual chef ele mais admira, Nery afirma gostar do chef Érick Jacquin, devido à vontade dele de valorizar ainda mais a cozinha tradicional. Ele também demonstra empolgação ao falar do lançamento do seu livro, cujo conteúdo terá 100 receitas autorais.
Após todo o cuidadoso preparo dos alimentos, o almoço especial foi servido para ele, sua esposa e para toda a equipe de profissionais que cuida dele no Hospital São Judas Tadeu, dentre eles: médico, assistente social, enfermeiras, fisioterapeutas e todos aqueles que ganharam a admiração do casal de Brasília, que proporcionou um momento lindo, dando mais sabor à vida. Com muito afeto e gentileza de todos, a refeição foi selada com um emocionante brinde: “Eu quero fazer um brinde à humanidade, porque nós somos seres humanos e, em um momento de dor e sofrimento, é disso que precisamos. Tenho a certeza de que esse momento valeu muito mais do que qualquer remédio que eu já tomei no hospital. Por isso, um brinde à humanidade“, finalizou ele, emocionado.
E como toda bela amizade, grande amor e deliciosa refeição, os preciosos momentos também são eternizados nas memórias, assim como afirma a jornalista e também paciente paliativa, Ana Michelle Soares: “se tem um jeito de a gente ser eterno, é vivendo nas pessoas”.
Receita que foi servida durante o almoço:
Linguiça embriagada do chef Nery
Ingredientes
– 1/2 quilo de linguiça fresca, fina e pura de porco;
– 4 colheres de sopa de mel;
– 1 copo de cerveja tipo pilsen;
– 1 dose de pinga, conhaque ou whisky;
– Salsa ou coentro fresco, bem picadinho.
Modo de fazer
Corte a linguiça em pedaços de 1,5 cm. Aqueça bem a frigideira e coloque o azeite de oliva e a linguiça. Quando a linguiça começar a dourar, abaixe o fogo e deixe criar o caldo (por isso é importante a linguiça ser fresca, já que o objetivo é formar bastante caldo, que é fundamental para a receita dar certo).
Quando houver bastante ‘caldo’, coloque o mel e abaixe o fogo, deixando caramelizar o mel com o caldo no fundo. Mexa um pouco, isso ajudará durante o processo.
Assim que estiver bem caramelizado (lembre-se: caramelizado não é carbonizado, não deixe queimar, mas sim ficar na cor ferrugem, bem escura). Feita a caramelização corretamente, coloque a cerveja de uma vez, desmanchando o caramelo e formando um caldo bonito, na cor marrom. Deixe o caldo reduzir até engrossar, como a espessura do mel ou um pouco mais grosso.
Nesse momento exato, jogue a pinga ou a bebida que escolheu e flambe. Use o seu método.
No momento em que o flambado se apagar, passe a linguiça para a tigela em que vai servir. Decore com a erva picada que você escolheu. Bom apetite!